A Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) vem a público reafirmar ser inaceitável o retrocesso liderado pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) ao manipular a fé com a falsa crença de cura da aids.
A postagem com a imagem de um suposto casal soropositivo que teria abandonado o tratamento antirretroviral e eliminado o vírus HIV por meio de orações, além de ser um ato criminoso, é uma afronta aos 40 anos de história de luta e enfrentamento a epidemia do HIV/aids.
Por décadas, a sociedade civil organizada e o movimento aids têm pressionado o Estado brasileiro para garantir a oferta de tratamentos eficazes, o acesso ao tratamento de todas as pessoas que vivem com HIV e o incentivo à adesão ao tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, aguardamos há anos a conclusão de pesquisas científicas em curso para a eliminação definitiva do HIV no organismo humano.
Notícias falsas como a propagada pela IURD, além de confundir as pessoas que estão em tratamento com antirretrovirais, prejudica a resposta à aids, posto que o tratamento tem sido considerado elemento chave para a prevenção.
Lembramos que a ABIA já desenvolveu longa pesquisa comparativa (com o apoio financeiro dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos) sobre as respostas religiosas para o enfrentamento da epidemia da aids no Brasil.
Na ocasião, documentamos ações de apoio, prevenção e assistência realizadas pelas igrejas católicas e evangélicas e também pelas religiões afro-brasileiras. Destacam-se na história da prevenção e assistência o papel pioneiro de Dom Paulo Evaristo Arns, então bispo da Arquidiocese de São Paulo, a Pastoral da Aids e as ações lideradas no passado recente pelas religiões de matriz africana.
Para nós, da ABIA, a notícia falsa propagada pela IURD sobre a cura da aids é mais um triste exemplo do fundamentalismo religioso, que permanece como uma das principais barreiras na resposta à aids em nosso país. Os responsáveis por esta propagação criminosa devem ser punidos. O episódio é também um alerta sobre a necessidade urgente de retomar as ações de prevenção do HIV/aids no campo religioso alinhadas à perspectiva dos direitos humanos e com base nos princípios da solidariedade.
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