Em nova mudança no plano nacional de vacinação contra a covid-19, o Ministério da Saúde incluiu no grupo prioritário as pessoas vivendo com HIV/aids imunodeprimidas, com CD4 menor que 350. A decisão foi publicada neste sábado (23). Agora, o grupo faz parte da lista de comorbidades descrita pelo governo federal.

O assunto foi destaque nesta semana. Infectologistas ouvidos pela Agência Aids já haviam recomendado a inclusão de pessoas com HIV, CD4 baixo e outras comorbidades no grupo prioritário da vacina contra covid-19.  Os médicos defendem que as vantagens superam os riscos e que a vacina para pessoas com HIV é essencial para garantir a qualidade de vida. “Venho dizendo isso há um tempão. Principalmente as com CD4 baixo. Não tem nenhuma contraindicação para as pessoas com HIV se vacinarem”, disse a infectologista Adele Benzaken, ex-diretora do Departamento de HI/Aids e Hepatites Virais.

“Quem tem HIV e outras comorbidades, é idoso, CD4 baixo e carga viral detectável, tem mais chances de desenvolver um quadro grave caso tenha covid-19. Por isso, essa pessoa deve ser vacinada contra o novo coronavírus o mais rápido possível”, alertou o Dr. Valdez Madruga, do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo.

CD4 são células do sistema imunológico (linfócitos) e o principal alvo do vírus HIV. O número de CD4 diminui com a evolução da patologia. Quanto menos linfócitos CD4, maior a vulnerabilidade do sistema imunológico e maior o risco de complicações e infecções.

A vacinação no País começou no início desta semana com a aprovação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de uso emergencial para 6 milhões de doses da Coronavac. Com as mudanças, o total de pessoas previstas para receber as vacinas entre os grupos prioritários passa a ser de 77,2 milhões.

Até o momento, informes técnicos da pasta orientam que a vacinação inicie com trabalhadores de saúde da linha de frente contra a Covid, idosos em asilos, pessoas com deficiência em instituições e indígenas em terras aldeadas. Novos calendários ainda não foram divulgados.

Outras mudanças

A pasta também fez mudanças no trecho de contraindicações à vacina, que até então indicava pessoas menores de 18 anos, gestantes e pessoas com histórico de reações anafiláticas.

Na prática, a pasta manteve o último trecho (com alerta a pessoas com hipersensibilidade e histórico de reações), mas incluiu gestantes em uma lista diferente, tida como de precauções, em conjunto com outros grupos que exigem atenção. As mudanças são voltadas principalmente às mulheres grávidas, mas que fazem parte de grupos prioritários.

O documento lembra que a segurança e eficácia das vacinas não foram avaliadas em gestantes, mas que estudos iniciais em animais não apontaram risco. “Para as mulheres, pertencentes a um dos grupos prioritários, que se apresentem nestas condições (gestantes, lactantes ou puérperas), a vacinação poderá ser realizada após avaliação cautelosa dos riscos e benefícios e com decisão compartilhada, entre a mulher e seu médico prescritor”, diz o documento.

A avaliação, aponta, deve considerar o nível de potencial contaminação do vírus na comunidade, a potencial eficácia e potenciais riscos. Aquelas que não quiserem receber as doses devem ser apoiadas e instruídas a “manter medidas de proteção como higiene das mãos, uso de máscaras e distanciamento social”, recomenda o plano.

No documento, o ministério aponta ainda ter mais 354 milhões de doses contratadas para vacinação –das quais 212 milhões seriam da AstraZeneca/Fiocruz, 100 milhões do Butantan/Sinovac e 42,5 milhões do consórcio Covax Facility.

Assim como nas versões anteriores, no entanto, a pasta não divulgou os cronogramas previstos de entrega das doses, cuja produção passa por impasses devido à dificuldade para obtenção de insumos da China.

Podcast

Confira a seguir a opinião da Dra. Zarifa Khoury, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, sobre a decisão do Ministério. Ela explicou, por exemplo, o que é CD4. Também deu dicas para que as pessoas com HIV continuem se cuidando durante a pandemia:

 

Redação da Agência de Notícias da Aids com informações