Na última segunda-feira (12), a jornalista Marina Vergueiro recebeu na coluna “Senta Aqui”, no Instagram da Agência Aids, a infectopediatra Daniela Vinhas, do Centro de Referência e Treinamento em IST/Aids de São Paulo. A especialista falou sobre os protocolos usados na gestação de mulheres vivendo com HIV, além disso, tirou todas as dúvidas dos internautas sobre transmissão vertical do HIV (da mãe para o bebê), carga viral e amamentação.

De acordo com o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), a transmissão vertical do HIV pode acontecer quando medidas de prevenção não são adotadas durante a gestação, parto e/ou  amamentação.

Dra. Daniela Vinhas explicou que todas as medidas devem ser seguidas pela mãe para que a criança não tenha o HIV. “Se a mulher souber que vive com HIV, ela pode aderir o tratamento antirretroviral, com o uso de medicamentos para controlar a carga viral do HIV e ficar indetectável antes de engravidar, porém, se ela só descobrir no pré-natal, também tem como aderir ao tratamento e se tornar indetectável na gravidez”, esclareceu a infectopediatra.

No Brasil, existem três municípios que zeraram os casos de transmissão vertical, são eles: Curitiba, Umuarama, no Paraná, e a cidade de São Paulo. Em 2017, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceram que o risco de transmissão do vírus para o feto durante a gestação, parto e puerpério está entre 15 e 45%. No entanto, em gestações planejadas, com intervenções realizadas de maneira adequada, o risco de transmissão vertical do HIV é reduzido para menos de 2%.

A médica contou na live que uma das principais dúvidas de mães vivendo com HIV é sobre carga viral. “Quando a mulher está grávida todos os anticorpos que ela tem no organismo passam para o bebê através da placenta. Então se a mãe é uma mulher vivendo com HIV e está aderindo ao tratamento certinho, o corpo dela tem o chamado anti-HIV, que são células de defesa contra o vírus. No exame de sorologia, vai dar positivo, porque a criança tem esses anticorpos, que recebeu da mãe através da placenta. Mas no exame da carga viral que detecta o vírus do HIV, se a criança não estiver infectada vai dar negativo, porque a criança não tem o vírus, ela tem as células que recebeu da mãe, e com o tempo essas células vão deixar de existir, porque o organismo da criança não vai precisar já que ela não vive com HIV”, esclareceu.

Amamentação

Outra dúvida, segundo dra. Daniela, é em relação a amamentação. Se estou indetectável porque não posso amamentar? “O HIV fica no sangue e em determinados santuários, como no fígado e no cérebro, em estado de latência dormente. E dentro da mama o vírus pode ficar nesse estado de dormência, a medicação não consegue chegar até lá para acabar com o vírus. Além disso, o leite materno é super rico em células do nosso sistema imunológico, com isso o aleitamento tem a possibilidade de ter o vírus tanto em estado de dormência, quanto em forma livre através das células”, disse.

“No SUS, temos fornecimento de fórmulas lácteas gratuitas, para todos os bebês que foram expostos ao HIV.” A infectopediatra garantiu que “é possível uma mulher vivendo com HIV engravidar e ter um bebê livre do vírus, mas é preciso aderir ao tratamento e as orientações de forma correta. Temos todas as ferramentas para isso, e é comprovado com exames. Então, quando a mãe recebe o resultado do exame negativo do filho e esboça toda aquela alegria, faz valer a pena o nosso trabalho”, concluiu.

O bate-papo durou quase uma hora. Confira na íntegra:

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)