Marina Vergueiro tem 37 anos, é poetisa e vive com HIV há 8 anos. Quando descobriu, já estava muito doente por ocasião de uma pneumocistose, doença oportunista comum em pessoas com o sistema imunodeprimido. Sim, ela tinha o vírus e desenvolveu a aids. Ela me conta que foi um choque receber o diagnóstico, mas a necessidade de lutar pela vida nos 2 meses que seguiu internada e muito debilitada na sequencia, suplantaram outras questões.

Seu maior medo era ter transmitido o vírus para alguém. Assim que seu corpo foi ganhando força novamente, Marina passou a telefonar para os ex-parceiros e avisar sobre o diagnóstico positivo, para que fizessem o teste e, se necessário, iniciassem o tratamento. Por sorte o ex-namorado recente também testou negativo. Marina estranhou o fato de o primeiro namorado ter sido grosseiro e ríspido ao telefone, dizendo que ele não tinha nada a ver com isso.

Ela passou a criar uma série de fantasias, achando que aquela reação na verdade revelava que fora ele o “culpado” de tudo, quando na verdade era também vítima do preconceito. “Ele adoeceu e infelizmente morreu de aids, uma morte totalmente evitável hoje em dia.

Pessoas podem viver uma vida saudável vivendo com HIV, aderindo ao tratamento e se tornando intransmissíveis. Há 40 anos convivemos com a aids, uma doença que muitas pessoas ainda nem conhecem, não sabem exatamente como é transmitida, nem como se dá o tratamento.

Ainda não há cura para a aids, mas muitas pessoas, como Marina, conseguiram com o tratamento manter a carga viral indetectável e intransmissível, convivendo com a doença como outra enfermidade crônica qualquer, desde que façam uso de medicação diária e cuidem de sua saúde. Mas é a saúde mental que favorece o autocuidado, sendo a rede de apoio de amigos, familiares e profissionais fundamental para fortalecer a resiliência e a autoestima.

Hoje dia 1º de dezembro se comemora mundialmente o combate a aids. Segundo o Boletim epidemiológico HIV/Aids – 2019 da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, de 1980 a junho de 2019, foram identificados 966.058 casos de aids no Brasil. O país tem registrado, anualmente, uma média de 39 mil novos casos de aids nos últimos cinco anos. Desde o início da epidemia (1980) até 31 de dezembro de 2018, foram notificados no Brasil 338.905 óbitos tendo o HIV/aids como causa básica.

Marina levou 7 anos para falar abertamente da doença, sem medo e receio do que as pessoas iam pensar a respeito dela. Antes, a preocupação era certamente de que os outros a achassem promíscua, alguém que merecia adoecer por gostar de sexo. Nos anos 80, quando a epidemia de aids foi mais forte no mundo todo e ainda não havia controle da doença e quando vários astros do cinema e da música morreram, homossexuais e outros que pertenciam aos chamados “grupos de risco” (profissionais do sexo, transgêneros, dependentes químicos, hemofílicos, etc) foram responsabilizados pelo mal e ainda mais marginalizados.

Por outro lado, também foi a partir da epidemia que o trabalho de educação sexual em escolas passou a ser bem recebido e muitos avanços e estudos na área se desenvolveram. O Brasil é um país que se destacou no enfrentamento da doença e no desenvolvimento de políticas públicas, sendo referência no tratamento para o mundo todo.

Durante muitos anos Marina se sentiu uma mulher que não era digna de amor. Se privou da entrega emocional por guardar um segredo que tinha medo e vergonha de partilhar. Foi tolhendo a sua natureza amorosa, com medo da rejeição, mas o afeto tinha que brotar em algum lugar. Fez da poesia a ferramenta principal para a sua expressão criativa e junto com a psicoterapia trabalhou sua autoestima e aceitação. Com o tempo assumiu novamente o protagonismo de seu corpo e de suas decisões e passou a falar abertamente sobre a doença, como uma mensagem de apoio e prevenção:

“Este vírus não tem cheiro, nem cara, nem cor. Sutil e pungentemente ele te ataca (normalmente) pelo coração. Pois quem você ama não sabe. Ou mente.” Marina Vergueiro.

Use camisinha e faça o teste

O uso do preservativo nas relações sexuais é baixíssimo. Segundo pesquisa do Ministério da Saúde, 94% dos brasileiros sabem que o preservativo é a melhor maneira de prevenção contra contaminação das ISTs, porém 45% da população sexualmente ativa não usou preservativo nos últimos 12 meses. Abre-se mão facilmente, em nome do “prazer”, da falta de autonomia para dizer não e da fantasia romântica, quando não pela ignorância sobre o impacto da aids e outras ISTs na saúde física e mental das pessoas.

Marina tem levado a ideia de que as mulheres façam o teste, proponham aos seus parceiros que façam junto como uma prova de autocuidado e compromisso com a saúde emocional e física.

Hoje, além do preservativo, populações em situação de maior vulnerabilidade por apresentar prática de maior risco, podem se beneficiar com o uso contínuo de 1 medicamento que contém 2 antirretrovirais, que reduzem a probabilidade de infecção pelo HIV (PrEP – Profilaxia Pré-Exposição ). Já a PEP – Profilaxia Pós-Exposição – é o uso de medicamentos antirretrovirais em até 72 horas após possível contato com o vírus HIV em situações como sexo desprotegido, violência sexual, acidente ocupacional. Deve ser tomada por 28 dias. Tanto a PEP quanto a PrEP são disponibilizadas gratuitamente nos serviços de saúde específicos. É importante observar que ambas não devem servir como substitutas à camisinha.