Após troca no Ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro escolheu o médico Marcelo Queiroga para substituir Eduardo Pazuello como ministro.

No aspecto político, medidas impopulares, como o lockdown em determinadas regiões e outras restrições, estão em jogo e complicam o alinhamento do discurso das autoridades municipais e estaduais com o presidente, além do pedido de abertura de uma CPI para investigar a atuação do governo federal na pandemia. No campo da saúde, os problemas são ainda mais graves: o país renova os recordes de óbitos a cada semana e os impasses sobre o plano de vacinação atrasam a imunização pelo país.

Para ativistas, medidas como auxílios emergenciais, intensificação na vacinação e promoção de testagem em massa seriam eficientes no combate à pandemia. No entanto, eles se mostram pessimistas com o novo ministro da Saúde.

 

Jô Meneses, coordenadora na ONG Gestos: “O ministro deve se comprometer em agilizar a vacinação da população, o que é fundamental para todo o Brasil. Paralelamente a isso, acho que é preciso manter um diálogo propositivo com os governadores estaduais e para coordenar e pensar essas ações e medidas de isolamento social que a gente sabe que é outra questão fundamental. Quando os governos dizem que as pessoas precisam ficar em casa, é preciso ter um auxílio emergencial para que as que as pessoas tenham condições de ficar em casa e tenham um prato de comida. O ministro teria que ter uma articulação entre os governadores e o Ministro da Economia para que isso seja providenciável. A gente fala em isolamento social, mas ninguém fica em isolamento com fome. Do mesmo jeito, o governo federal sabe das condições das linhas de metrô na maioria das capitais. Em Recife, a condição é péssima e fica cheio de gente, o que favorece muito a contaminação para Covid. Outro ponto que precisa ser levantado é que o ministro também deve se comprometer em acompanhar, apoiar, gerencial e facilitar a compra de insumos. As pessoas em Manaus, por exemplo, estavam fazendo intubação sem anestesia porque não tinha medicação pra isso, ver a questão do oxigênio, os EPIs. É importante lembrar que a população em vulnerabilidade vive com HIV e vivem em condições subumanas e que não vão ficar em casa se não tiver garantida sua existência com, no mínimo, segurança alimentar e produtos de higiene pessoal e para a casa. O suporte para abertura de novos leitos de UTIs nos estados também é papel do Ministério da Saúde e precisa ser assumido com responsabilidade.”

 

Veriano Terto Jr, vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA): “A partir das declarações de dar continuidade à política atual do Ministério da Saúde no tratamento da Covid, o novo ministro não nos deixa nenhuma margem para otimismo. Na verdade, acredito que cria pessimismo já que essa política não tem dado os resultados desejados. Ou seja, vamos continuar a assistir o espetáculo de morte e doença que estamos assistindo há mais de um ano. Então, espero que esse pessimismo de alguma forma resulte em mobilização das pessoas, da sociedade para pressionar por uma política decente e que signifique respeito e solidariedade com a vida dos brasileiros.”

 

Moysés Toniolo, Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids: “Seguem algumas medidas que precisam ser tomadas: 1 – Investimento do Governo federal, em diversas áreas para sanar os efeitos e impactos negativos da epidemia sobre a Saúde Pública, com apoio e proteção a seguridade social de Trabalhadores (as), reativando Emendas Parlamentares para a continuidade de ações emergenciais neste momento de crise e colapso da Saúde; 2 – Ressignificar e promover uma mudança de rumos políticos no enfrentamento da epidemia, enquanto Governo Federal e Palácio do Planalto, assumindo verdadeira e efetivamente uma condução dos processos de responsabilidade administrativa, e passando uma atitude simbólica alinhada com as evidências científicas, gerando pra população uma nova forma de percepção sobre os riscos de contágio e cuidado individual e coletivo; 3 – Adotar uma conduta de promoção da testagem e vacinação em massa na população, buscando criar barreiras epidemiológicas e sanitarias mais eficazes, que promovam a rápida recuperação da Saúde das Pessoas, pra só então poder retomar o fortalecimento da economia – a economia prescinde de pessoas que a sustentem, portanto preservar a vida é investir na economia e na recuperação sócio-econômica de todo país; 4 – Assumir que a condução da pasta da Saúde merece pessoas capacitadas e com compromisso político total com as diretrizes e princípios do SUS, bem como seguindo todas as recomendações da Organização Mundial de Saúde e demais órgãos e instâncias que possuem capacidade para delimitar os rumos científicos e tecnológicos mais seguros e eficazes pra conter a epidemia; 5 – Escutar as Recomendações emanadas de todos os órgãos do controle social, como o Conselho Nacional de Saúde e outros espaços colegiados que mantem a ampla participação popular e da comunidade, por trazerem as melhores práticas e soluções para qualquer área de governo que deseja colaborar para o enfrentamento da epidemia.”

Vando Oliveira, Secretaria Nacional da Articulação Nacional de Aids (Anaids) : “Infelizmente trocar de ministro não vai amenizar o problema sério que atinge a toda nação brasileira, visto que em 11 meses quatro já assumiram a pasta e não se tem ainda uma coordenação nacional que ajude os Estados e Municípios. A troca de ministro nas últimas horas apenas trocou a farda do militar pelo jaleco do médico, mas não mudou os rumos que vão ser dados pelo presidente da república que não admite o tamanho da sua culpa e falta de sensibilidade, com tantas vidas perdidas. A minha esperança é que a população fique em casa “o quanto puder” para que se possa frear a replicação desse vírus que vem fazendo tantas vítimas e deixando milhares de famílias devastadas. Muito importante que os governadores e prefeitos estão buscando adquirir vacina para a população, o que deveria ter sido feito ainda em 2020 se o governo federal não tivesse negado a ciência. E o que diariamente era recomendado por especialistas, e divulgado por toda a imprensa! Que o novo ministro de fato assuma a pasta, se junte aos governos dos estados e municípios e não apenas obedeça a ordem do chefe, o que seria mais sofrimento para o Brasil por mais bastante tempo.”

 

Dica de entrevista

ONG Gestos

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Abia

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Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids

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Anaids

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