26/06/2021 - 08h02
Mais de 15 mil pessoas com HIV/aids já se vacinaram contra a Covid-19 nos serviços de aids em São Paulo

Até o dia 23 de junho, 15.733 pessoas vivendo com HIV/aids foram vacinadas contra Covid-19 na Rede Municipal Especializada em ISTs/Aids da cidade de São Paulo. Os dados são do sistema Vacivida e foram disponibilizados pela Secretaria de Saúde do município. A Pasta esclareceu que o número inclui apenas as pessoas que informaram sua condição sorológica no momento que foram vacinadas. Ou seja, a lista não inclui as pessoas vivendo com HIV/aids que fazem parte de outros grupos elegíveis da campanha.

A Secretaria enfatizou, por meio de nota, que os Serviços de Atenção Especializada (SAEs) da Rede Municipal Especializada em IST/Aids estão participando ativamente do esforço para vacinar os munícipes dentro das características definidas pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa).

Assim, toda pessoa que vive com HIV pode comparecer aos SAEs da cidade – preferencialmente naquele em que já faz acompanhamento médico – para se vacinar contra a Covid-19.  Mesmo que a faixa etária do paciente tenha sido anunciada em outro momento, ele ainda pode buscar a vacina.

Desde o dia 27 de maio, a Prefeitura de São Paulo passou a exigir comprovante de residência para vacinar contra a Covid em todas as unidades de saúde.

Segundo a gestão municipal, a medida tem como objetivo garantir que as doses sejam destinadas aos moradores da capital. O morador pode procurar qualquer posto de vacinação, mas precisa apresentar o comprovante e o documento de identidade.

Para pessoas que moram com os pais ou filhos e não têm o comprovante, é necessário comprovar o grau de parentesco. A pessoa pode mostrar o RG, a certidão de nascimento, CNH, ou outro documento que descreva a filiação em conjunto com o comprovante de residência em nome dos parentes.

Para quem, porventura mora onde trabalha e não tem contas em seu nome, é necessário comprovar que reside na cidade com declaração registrada em cartório.

Nesta semana, a cidade chegou a interromper a vacinação contra a Covid por falta de doses suficientes para atender a demanda.

Vacinação no CRT 

O Centro de Referência e Treinamento em HIV/Aids (CRT) iniciou a vacinação contra a Covid-19 desde o primeiro dia em que foi possível disponibilizar os imunizantes para essa população. Ao todo, 2,5 mil pessoas com HIV receberam a primeira dose da vacina no local.

“Queríamos vacinar mais, mas avaliamos que muitos se vacinaram em locais próximos a suas residências, preferencialmente dentro dos serviços especializados com a preocupação do sigilo. Sabemos que para as outras comorbidades não havia tanta dificuldade ou receito ao mostrar o relatório médico para doenças como hipertensão ou diabetes, por exemplo, porque não carregam estigma e discriminação, mas no HIV a que a gente convive com essa realidade e sabe que não é simples. Então, o sigilo era uma preocupação nossa. Para isso, iniciamos antes uma orientação para nossas interlocuções regionais, os responsáveis pela vigilância e saúde nas regiões, orientando que fosse nos serviços especializados, e caso não fosse possível, por conta da estrutura, já que às vezes não há sala de vacinas nos locais, orientamos que o diagnóstico fosse marcado com o nome de ‘imunossupressão'”, disse a infectologista Rosa Alencar, coordenadora-adjunta do CRT.

Ela explicou que não houveram denúncias de problemas significativos na hora de vacinar as pessoas com HIV. Para isso, o estado de São Paulo contou também com as lições da cidade de Manaus, uma das primeiras a vacinar esse público. Foi substituída a nomenclatura do diagnóstico afim de evitar situações de constrangimento por pessoas com HIV/aids.

Dra. Rosa lembrou ainda que o CRT está vacinando, desde o dia 9 de junho, contra a influenza.

Importância da imunização 

Para o Unaids Brasil, a inclusão das pessoas que vivem com HIV/aids entre os grupos prioritários foi uma decisão muito significativa tanto para a resposta à pandemia de Covid-19 quanto para a de aids. “Apesar de o Brasil oferecer acesso universal a prevenção, tratamento e cuidados para HIV, muitas pessoas que vivem com HIV/aids continuam sendo empurradas à margem da sociedade pelas inúmeras vulnerabilidades que acumulam, em especial pelo estigma e a discriminação”, disse Claudia Velasquez, diretora e representante do Unaids no Brasil. “Com a Covid-19, muitas delas perderam empregos, moradia e a possibilidade de se alimentarem. Priorizar as pessoas que vivem com HIV para a vacinação é uma forma de protegê-las e de proteger o progresso acumulado até agora na resposta ao HIV.”

O infectologista Ricardo Vasconcelos disse que “enquanto só tínhamos as estratégias de prevenção comportamentais contra o coronavírus, como o distanciamento social e o uso de máscaras, sabíamos que o controle da sua disseminação ia ser limitado. Foi igual com o HIV e a camisinha. Agora com uma estratégia de prevenção biomédica, como a vacina, enfim vamos virar o jogo e começar a ganhar a batalha. Mas isso só será possível se todos se vacinarem.”

Dificuldades no início da campanha 

Com a ausência de um programa nacional de vacinação contra Covid, a falta de informações gerou dúvidas no público.  Um exemplo disso é que algumas pessoas com HIV procuraram unidades de saúde para obter informações e foram vacinados antes do que esperavam. 

Na ocasião, o influenciador digital Lucas Raniel foi a uma UBS na cidade de São Paulo afim de obter informações sobre a vacinação, já que em alguns estados do país estão vacinando pessoas adultas que vivem com HIV, desde que tenham acima de 18 anos.

O ativista contou que, ao chegar na unidade, os funcionários informaram que ele teria direito a receber a vacina no mesmo dia, caso apresentasse os documentos. Ele se manifestou em suas redes sociais. “Enquanto outras pessoas foram até a mesma UBS que eu fui, e conseguiram, surgiram muitas dúvidas, muitas incertezas e o resultado final foi: houve erro por parte do sistema de saúde onde me vacinei. Infelizmente não era para nenhuma dessas pessoas (inclusive eu ) se vacinarem.” Depois do episódio, Lucas recomenda que as pessoas busquem orientação diretamente nos postos onde costumam se vacinar.

A ativista Marina Vergueiro também passou por essa experiência. “Fui até a UBS me informar sobre a vacinação e a enfermeira me disse que eu poderia ser vacinada. Apresentei os documentos que comprovam que eu tenho HIV e fui imunizada com a vacina AstraZeneca. Foi um sentimento de muita alegria, de muita felicidade, vontade de sair gritando na rua, abraçar a beijar na boca todo mundo. Mas obviamente que eu estava com a minha máscara no rosto, o álcool gel na mão e eu sei que para ficar imunizada eu preciso tomar a segunda dose daqui três meses. Além disso, a gente continua transmitindo o vírus, a vacina só diminui a possibilidade de adoecer muito. Vou continuar me cuidando da mesma forma que venho fazendo nos últimos meses, só me sinto um pouco mais livre, não acho que eu vou morrer a cada momento. Há um ano, qualquer sintoma que eu tinha eu achava que era covid, ficava em pânico. O SUS salva vidas.”

As vacinas contra a covid-19 possuem eficácia de 50,38 a 100% e, por enquanto, são destinadas no Brasil para as pessoas com mais de 18 anos. Os imunizantes são capazes de produzir proteção contra a doença. O desenvolvimento da imunidade por meio da vacinação significa que há um risco reduzido de desenvolver a doença e suas possíveis complicações. Em caso de suspeita de coronavírus, faça testes para covid-19, mantendo o isolamento social até ter certeza do diagnóstico e aguardando a melhora dos sintomas.

 

Dica de Entrevista 

CRT / São Paulo

Telefone: (11) 5087-9911

 

Ricardo Vasconcelos

E-mail: ricardo.vasconcelos@hc.fm.usp.br

 

Prefeitura de São Paulo

Telefone: (11) 2027-2000

 

Unaids Brasil

Acesse o site aqui 

 

Lucas Raniel

E-mail:  lucasranielrosati@icloud.com

 

Marina Vergueiro

E-mail: marinavergueiro@gmail.com

 

Redação da Agência de Notícia da Aids 

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