Na terceira reportagem da série especial sobre HIV no Maranhão, a Agência Aids traz a história do ativista Ricardo Santos, que luta diariamente para que todas as pessoas vivendo com HIV/aids no Estado tenham acesso a políticas públicas de qualidade, com serviços estruturados e direitos garantidos.

A vida pessoal de Ricardo Santos se confunde com a luta contra aids na cidade de São Luís do Maranhão. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, Ricardo se considera Maranhense. “O diagnóstico foi aqui em São Luís, foi aqui que conheci o movimento, comecei toda minha militância, toda minha caminhada. Se não fosse a militância, talvez não teria conseguido. Uma pessoa que recebe um resultado positivo e sai sem esse trabalho, passa por mais dificuldades.”

Ao falar de sua vida, o movimento social abarca grande parte de sua narrativa. No entanto, nem sempre foi assim. “Eu descobri meu diagnóstico em uma brincadeira de menino, em 1987. Fui com vários amigos. Todos foram pegando o resultado e foram saindo. E eu fui ficando. Depois desse dia, eu não vi mais dois amigos, que nunca mais entraram em contato.”

Ricardo lembra a dificuldade que sentiu de aceitar o diagnóstico. “Na primeira vez, peguei os remédios e joguei todos fora”, conta ele que só alterou esse caminho após a oportunidade de presenciar uma reunião da RNP+ no Hospital Presidente Vargas, referência estadual no combate ao HIV. “Fui para uma nova consulta. Estava abatido, emagrecendo. Ao participar da reunião me convidaram para o movimento”, desde então, Ricardo é ativista com orgulho.

Hoje ele é representante da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV no Maranhão, e conselheiro de uma unidade de saúde do bairro de Fátima, em São Luís, também já foi presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos.

Apoio da família

Ao contrário da trajetória de muitos maranhenses, Ricardo teve o privilégio de contar com o apoio da família. “Com esse apoio, aliado ao movimento social, melhorei muito. Só de minha família ter me apoiado foi um ganho.” Ainda assim, Ricardo pondera a quem conta sobre sua sorologia. “Contava para pessoas mais próximas e pra quem me relaciono.”

Para ele, viver com HIV no Maranhão é sinônimo de persistência. “É preciso ter muita resistência. Apesar dos avanços que tivemos como a PrEP, o I=I (indetectável é igual a intransmissível), e outras formas de prevenção, ainda é preciso mostrar a cara e dizer quem somos”, enfatiza Ricardo.

“O preconceito aqui ainda é muito grande. Ter essa cidadania positiva é fundamental para as pessoas nos enxergarem de outra forma. Então viver com HIV no Maranhão é luta e resistência.”

“Aqui, precisamos lutar contra fechamento de hospitais e dos serviços especializados. A demanda por atendimento aumentou. Para estar bom os serviços precisariam ter acompanhando a demanda. Ainda temos apenas dois CTAs, hoje era pra ter no mínimo seis dessas unidades só na cidade de São Luís.”

Desafios do ativismo no Maranhão

“Nossa dificuldade maior é de agregar novas pessoas”, diz ao relatar que apenas ele e mais dois ativistas estão atuantes na Rede. “Estamos perdendo direitos. As pessoas não querem mostrar a cara, não querem participar.”

“A gente passa o dia inteiro fazendo formação, capacitação. Se a gente não agregar nessa luta, não vai ter continuidade. Mas elas não querem se expor. Se a gente não provocar, nossa política vai cair cada vez mais.”

Para Ricardo, o alto índice de mortalidade no Maranhão é também reflexo da falta de interesse do governo aliado às consequências da pandemia de Covid-19. “A gente vê que as reuniões presenciais trazem mais empoderamento. É uma missão desafiadora principalmente por conta da conjuntura que estamos vivendo hoje. Por conta da pandemia, a aids perdeu o foco. Tínhamos financiamento para eventos, para nos reunirmos, e nessa conjuntura, as pessoas não querem mais ocupar esse espaço político.”

Por fim, Ricardo faz um apelo e afirma que o primeiro passo para essa mudança, é mostrar que as pessoas com HIV existem. “A gente está se escondendo muito. A gente tem que se mostrar para combater o preconceito.”

Para conferir um Raio-X completo das infecções por HIV no estado do Maranhão, clique aqui.

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)

 

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Dica de Entrevista

Ricardo Santos

E-mail: ricardo_65carioca@hotmail.com