De 2009 a 2019 o coeficiente de mortalidade por caiu 29,3% no Brasil, no entanto, seis estados caminharam na direção contrária. O Maranhão está entre eles.

Ao longo dessa semana, a Agência de Notícias da Aids trás, portanto, uma série especial sobre a realidade das pessoas que vivem com o vírus na capital do estado, a cidade de São Luís.

Em 2009, o estado apresentou um coeficiente de 5,2 por 100 mil habitantes, já em 2019, apresentou 5,7 óbitos por 100 mil habitantes, ou seja, um aumento de 9,6%. Esses dados são referentes ao último boletim epidemiológico sobre HIV/aids do Ministério da Saúde.

No mesmo período de dez anos, observou-se redução nesse coeficiente em todas as Unidades da Federação, à exceção dos estados do Acre, Pará, Amapá, Maranhão, Rio Grande do Norte e Paraíba, que apresentaram aumento em seus coeficientes.

Em 2019, quando analisada a mortalidade por cada unidade da federação, 11 delas apresentaram coeficiente superior ao nacional, que foi de 4,1 óbitos por 100 mil habitantes: Pará (7,7 óbitos/100 mil hab.), Rio Grande do Sul (7,6), Rio de Janeiro (7,1), Amazonas (6,4), Amapá (5,8), Roraima (5,8), Maranhão (5,7), Mato Grosso do Sul (5,3), Santa Catarina (4,7), Mato Grosso (4,4) e Pernambuco (4,4).

Quanto aos casos de aids, da década de 1980 – quando teve início a pandemia – até 2019, já foram notificados mais de 1 milhão. O Nordeste, representou 16% desse número. A média anual de casos no Maranhão (entre 2015 e 2019), é de 9 mil.

Segundo Jocélia Frazão, dados da SES apontam que é maior a incidência de pessoas infectadas com o vírus no estado em jovens ou adultos, com faixa etária de 25 a 50 anos e afirma que tem crescido o número infectados com idade acima dos 55 anos.

“Hoje a faixa etária ainda é em adultos, ou seja, de 25 a 50 anos de idade, mas nós estamos com um alerta para idosos, acima de 55 ou 60 anos. Nossa maior preocupação são os adolescentes e jovens na faixa etária de 15 a 25 anos. A gente alerta mesmo a essa faixa etária, vem tendo um aumento significante nos últimos cinco anos, é um desafio muito grande porque trabalhar com a juventude é difícil, mas o estado e a secretaria de Saúde, não tem medido esforços para conceder informações para essa faixa”, disse.

HIV em gestantes e Trasmissão Vertical 

De 2000 até junho de 2020, foram registrados 134.328 casos de HIV em gestantes, 18%, apenas no Nordeste. Somente em 2019, foram 8.312 novos casos da infecção.

A taxa de detecção de aids em mulheres no Maranhão é de 20 a cada cem mil habitantes, com maior concentração de casos na capital, São Luís que possui taxa de detecção de aids em 40 a cada 100 mil habitantes.

Em um período de 10 anos (2009 a 2019), houve um aumento de 21,7% na taxa de detecção de HIV em gestantes. O aumento pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical do HIV.

A tendência de aumento também se verifica com maior intensidade nas regiões Norte e Nordeste, que apresentaram aumentos na taxa, ambos de 83,3% nos últimos dez anos.

A redução do número de infecções em crianças menores de cinco anos observada na região Nordeste foi de 43,3% até o ano de 2020. No Maranhão, entre 1980 até junho de 2020, foram 390 casos notificados de aids, em crianças nessa mesma faixa etária.

 

Preconceito

Para os ativistas atuantes no estado, o preconceito ainda é a principal barreira para o aumento desses números. “As pessoas têm medo de procurar os serviços de saúde porque acreditam que serão discriminadas pelos profissionais de saúde, além do preconceito que podem sofrer na rua, ou mesmo pela família”, disse o enfermeiro e ativista Jadilson Neto.

Jadilson defende que o receio tem fundamento. “Apesar de fazerem capacitações, o preconceito é tão enraizado que os profissionais de saúde por vezes ignoram o que aprenderam e continuam com os olhares e falas de julgamento.”

Para o ativista e presidente do Conselho Municipal de Assistência Social de São Luís, Ronaldo de Oliveira, a discriminação e preconceito enraizados na cultura da população do estado, que é um dos mais pobres do país, são fatores que dificultam o avanço nessa luta. “As capacitações acontecem, mas são os próprios profissionais que acabam reproduzindo olhares e falas preconceituosas ainda assim. Além disso, quem vive com o vírus não conta para ninguém, não compartilha, o que faz com que esse continue sendo um processo cíclico.”

Por isso, segundo os ativistas, a consequência é que pessoas evitam fazer o tratamento, adoecem de aids e chegam no serviços já com imunidade baixa, sem que a família conheça seu estado sorológico.

 

ONGs Atuantes

Há três instituições com atuação relevante na cidade de São Luís. Elas atuam com propósito de acolher as pessoas que vivem e convivem com HIV/aids, visando melhorar a qualidade de vida deste público.

O Grupo Solidariedade e Vida, também conhecido como SoliVida foi fundada no ano de 1998 e se trata de uma das organizações mais tradicionais da região com foco no atendimento às pessoas que vivem com HIV/aids, e que visam aprimoramento da qualidade de vida desse público.

Já a Casa Acolher, foi criada há 3 anos, e já ofereceu suporte a mais de 5 mil pessoas com HIV/aids e outras IST´s, de todo o estado do Maranhão.

O projeto acolhe diariamente bebês até idosos com HIV, como também seus familiares, já que muitos se encontram em situação de vulnerabilidade social. Eles também oferecem roupas, kits de higiene, cestas básicas e até transporte para o hospital. A casa também possui uma equipe com advogados, psicólogos, nutricionistas e assistentes sociais.

Parte do sustento da ONG vem por meio da venda de bonecas de pano chamadas de “Bonecas Acolher”, que são a marca registrada do projeto. Cada boneca custa R$ 30 reais e o chaveirinho delas R$ 15.  Para apoiar, clique aqui. 

O Instituto Maranhense Amigos Da Vida (Imav) atua na área de assistência em saúde e cidadania das pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social. Existente há quatro anos, seu foco está no desenvolvimento de ações de proteção à família, maternidade, infância, adolescência e idosos.

O trabalho do Imav acolhe pessoas com diferentes condições de saúde, incluindo aqueles que vivem com HIV/aids.

PrEP e PEP

A Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/aids no Maranhão, em parceria com a Coordenação Municipal de DST/Aids de São Luís realiza oficinas sobre prevenção combinada na capital do estado com objetivo de informar a população sobre a prevenção combinada.

Hoje, os serviços de PEP estão disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde, que são mais procurados por mulheres trans e jovens gays.

Já o serviço de PrEP estava apenas concentrado no Hospital Presidente Vargas, que fica na capital, São Luíse e é referência no estado. Recentemente, o profilaxia foi disponibilizada também nos dois CTAs da cidade.

Segundo Ricardo, que também atua na organização das oficinas, “a adesão a esses serviços vai aumentando à medida que os usuários vão tendo acesso à informação, com ajuda de reuniões que vão acontecendo de forma gradual com foco na prevenção combinada.”

No próximo dia 20 de outubro será realizada uma oficina online sobre prevenção, assistência e fortalecimento das políticas de HIV/aids, hepatites virais e outras ISTs. Para acompanhar, clique aqui.

Para conferir onde encontrar serviços de PEP em todo o estado do Maranhão, clique aqui. 

Já para encontrar serviços de PrEP no estado do Maranhão, clique aqui. 

Serviços de Saúde

A cidade de São Luís conta com uma Coordenação Municipal de Prevenção e Controle das DST/Aids, um Serviço de Atendimento Especializado (SAE), dois Centros de Testagem e Acolhimento e um serviço de atendimento domiciliar. Já o hospital de referência em tratamento de ISTs/aids no estado é o hospital Presidente Vargas.

Confira os endereços e como entrar em contato, caso necessário:

Coordenação Municipal de Prevenção e Controle das DST/Aids

Fone: (98) 3212-8276/8274
E-mail: dstaids@semus.saoluis.ma.gov.br

Serviço de Atendimento Especializado – SAE

Endereço: Rua gardênia Gonçalves, s/n – Bairro de Fátima
Segunda a sexta, às 7h30
Segunda, quarta e quinta, às 13h30

Fone: (98) 3243-2105

Centro de Testagem e Aconselhamento – CTA

Atendimento com orientação e informação sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis DST/HIV/Aids, com aconselhamento coletivo e individual e testes gratuitos para HIV, Sífilis e Hepatites B e C.

CTA – LIRA
Endereço: Praça São Roque, s/n – Lira
Segunda a quinta, das 8h às 12h das 14h às 18h
Fone: (98) 32128379

CTA – ANIL
Endereço: Av. São Sebastião, s/n – Anil
Segunda a sexta, das 8h às 12h das 14h às 18h
Fone: (98) 3245-9853

Atendimento Domiciliar Terapêutica – ADT

Assistência integral aos pacientes com infecção pelo HIV/aids no seu domicílio por uma equipe multiprofissional (médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social).

Endereço: Rua gardênia Gonçalves, s/n – Bairro de Fátima
Segunda a sexta, às 13h30
Fone: (98) 3212-8804

 

Jessica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)