A coluna “Senta aqui, com Marina Vergueiro” recebeu Milena Paulina, mulher negra, gorda e bissexual.

Ela tem 26 anos e vive em Itaquaquecetuba, no interior de São Paulo. É fotógrafa, pintora, bordadeira, escritora, escorpiana, sentimental e está construindo a arte que quer ver no mundo.

Em 2017 iniciou seu primeiro projeto, chamado “Eu, gorda” e com ele viajou o Brasil e fotografou mais de 300 pessoas. Milena não encontra palavras suficientes para explicar a importância que vê na representatividade dos corpos, na humanização da nudez e na ressignificação de corpos marginalizados dentro da arte. Tudo o que Milena faz é pensando na arte que gostaria de ver no mundo. ⁠

Para ela, o que há em comum nas mulheres que ela fotografa é a conexão que acontece entre mulheres que nunca se viram, mas que se enxergam uma na outra. “Vivi muitas vezes isso em diversas partes do Brasil. Mulheres que nunca tinham se visto, mas que tinham histórias muito parecidas e que, por isso, formaram amizades que duram até hoje. Muitas narraram que nunca haviam escutado alguém ‘contando minha história’, e isso formava momentos grandiosos. Era uma das coisas mais incríveis das rodas de conversas que fazia com as mulheres que fotografava.”

Representatividade 

“A primeira vez que vi uma mulher com seios iguais aos meus. Como a nudez é um tabu, a gente não fala e não percebe o quanto ela é relevante em nossa vida. A gente não percebe o quanto as inserguranças em relação à sexualidade, tem relação com a nudez”, disse Milena.

Para Marina comentou que a gordofobia a atravessou de maneira ainda mais desafiadora do que o HIV. “A gordofobia me limitou em muitas questões na minha vida, inclusive na questão sexual. Acho que a gordofobia me entregou pra aids, porque, por não me amar, não me enxergar, quando tive a oportunidade de encontrar um amor, me joguei como se fosse a última coisa da minha vida e me esqueci de mim.”

Milena, por sua vez, conta que teve a oportunidade de ver a relação entre as fotografias e o processo de empoderamento que as mulheres retratadas passaram.

Saúde 

“Quando buscamos acesso à saúde, precisamos provar com nossos exames que estamos bem, que não estamos doentes porque estamos gordas, mas ainda assim, ou você é vista como uma anomalia, ou a sentença de morte vai vira amanhã”, diz Milena.

Ela chamou atenção para o fato de que há anticoncepcionais que funcionam bem em corpos de até 80 quilos. “Passei anos tomando um remédio que não era eficaz para mim.”

Nesse sentido, Marina lembrou a necessidade de mais pesquisas que abordem a relação entre mulheres e HIV. “São diversas violências de gênero e tamanho de corpo.”

Redação da Agência de Notícias da Aids