A XXI Parada do Orgulho LGBT de Fortaleza, ocorrida no último de dia 7 de agosto, contou com a participação de diversas entidades, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Ceará (OAB/CE), por meio da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero, o que nos faz refletir sobre o exercício da cidadania e a efetivação de direitos, entre eles, os direitos culturais.

A Constituição Federal de 1988 ampliou o conceito de cultura, albergando o patrimônio material e imaterial, incluindo populações minoritárias, a exemplo das populações negras e os povos originários. Nesse contexto, foi possível inserir as populações LGBTQIAPN+ [1], tendo em vista que o princípio da universalidade, inferido do texto constitucional, garante a todos, todas e todes o pleno exercício dos direitos culturais, e o princípio do pluralismo cultural propõe o apoio às manifestações culturais dos diversos grupos, sem privilégios e a eleição de uma cultura oficial.

A Parada do Orgulho tem a sua gênese em um evento norte-americano. Em 28 de junho de 1969, surgiu um movimento de resistência no bar Stonewall Inn, em Nova York [2], contra a ação agressiva de policiais à comunidade gay. Um ano após o incidente, ocorreu a primeira grande Parada do Orgulho Gay. Esse movimento ganhou um valor simbólico que impulsionou a luta por direitos LGBTQIAPN+ no mundo, e essa data passou, então, a ser considerada o Dia Internacional do Orgulho LGBT+.

No Brasil uma aproximação importante entre os militares LGBTs e o Estado aconteceu por meio do Ministério da Saúde, nos anos 1980, com as políticas de enfrentamento ao HIV/AIDS. Nesse período, embora ainda numa perspectiva higienista e de controle de corpos, espaços políticos contra a LGBTfobia foram constituídos e as discussões ampliadas para os níveis estadual e municipal, avançando na década de 90.

A primeira Parada do Orgulho só aconteceu no Brasil em 1997 [3], na Avenida Paulista, em São Paulo. Atualmente é considerada a maior do mundo e uma das mais famosas, registrando a sua 26º edição neste ano. As Paradas do Orgulho LGBT foram apoiadas pela área da saúde, que também fazia uma forte campanha para a contenção do vírus HIV/AIDS.

Nos anos 2000, um conjunto de programas, ações e mecanismos institucionais do Ministério da Cultura – MinC contemplou a população LGBTQIAPN+, oferecendo um suporte logístico no âmbito cultural. A criação de um Grupo de Trabalho para a promoção da cidadania dessa comunidade, ligado à Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural – SID do MinC, institucionalizou as agendas culturais do movimento por meio de uma política cultural em âmbito federal.

Apoiar as “Paradas Gay” passou a ser uma prioridade, pois se tratava de um evento de grande visibilidade, afirmação do direito à expressão de orientação sexual, identidade e expressão de gênero, exercício da cidadania e uma cultura de paz. Dessa forma, o MinC publicou, em 2005, o primeiro edital para a Parada do Orgulho [4], direcionando uma ação específica para essa comunidade. A reestruturação ocorrida na gestão de Gilberto Gil (2003-2008) proporcionou a divisão de espaço e recursos entre as áreas clássicas das políticas culturais com áreas emergentes, tais como a cultura alimentar, as culturas populares, entre outras, inclusive a cultura LGBT.

A inclusão das produções das populações LGBTQIAPN+ fortaleceu um discurso calcado na diversidade que rompe com tradições que afogam a subjetividade e os sentidos afetivos, sexuais e sociais estigmatizados no processo histórico.

Assim, as vivências que tematizam as sexualidades dissidentes, tais como shows de drag queen, expressões teatrais, de dança, artes visuais, entre outras, passaram a ser compreendidas como produção simbólica, incluindo as Paradas do Orgulho, que oferecem visibilidade em um ato político social que grita e afirma a existência que precisa ser vista, com voz e direitos efetivados.

No contexto dessas produções culturais, memória e visibilidade precisam ser lembradas, em alusão as personagens que lutaram para tornar a população LGBTQIAPN+ visível e com o sentimento de pertencimento.

Além do apoio para a realização da Parada do Orgulho, é urgente o mapeamento cultural da comunidade, para que políticas mais incisivas sejam encetadas no fito de garantir a existência com dignidade, na qual esses sujeitos históricos possam exercer o direito de criar, difundir e fruir as produções culturais, com base no tripé artes, memória coletiva e fluxo de saberes.

Fonte: José Olímpio; Mariana Portela; Amanda Cavalcante/ Estadão