O papel da indústria farmacêutica neste momento de pandemia foi o tema central da terceira e última rodada de debates do Fórum de Saúde Brasil que aconteceu nessa segunda-feira (24). O evento, promovido pelos jornais Valor e “O Globo”, e revista “Época”, tem como objetivo discutir como a Covid-19 e o dólar alto influenciam o processo de nacionalização da produção de insumos e como o Brasil precisa se movimentar para diminuir a dependência externa.

O debate contou com a participação de Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm); José Carlos Felner, presidente da GSK Brasil; e Mauricio Zuma, diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz.

“Há um preconceito muito grande em relação à indústria farmacêutica, mas, hoje, ela é fundamental para a pesquisa científica. Sem a indústria, não haveria vacinas, já que o investimento para a produção é muito alto”, observou Isabella.

Ela defendeu que a desinformação, assim como o excesso de informação são prejudiciais e criam um cenário favorável à insegurança. “Isso cria um cenário de medo, ansiedade que é favorável a comunicações erradas.”

A vice-presidente da SBIm destaca ainda que o Brasil tem dois polos públicos de excelência públicos na produção de vacinas — Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan , mas que é preciso apoio para que possam produzir um imunizante nacional.

“Isso nos daria a segurança que precisamos, para não vivermos os altos e baixos do mercado internacional. No momento em que a demanda cresce, é natural que as empresas privadas queiram atender a quem paga mais. Aí, ficamos nessa situação”, destacou.

 

Desafio da baixa cobertura vacinal

Mauricio Zuma, diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, defendeu que o Brasil tem um sistema bastante reconhecido internacionalmente com sucesso nas últimas décadas controlando algumas doenças, como poliomielite e sarampo. “No entanto, talvez isso tenha trazido um pouco de conforto para a população, principalmente mais jovem que não teve contato com essas doenças. Então, obeservamos uma queda dos índices de cobertura vacinal, o que certamente traz um desafio para agora. A questão é retormar o protagonismo que a vacinação teve no passado com pessoas que não estão acostumadas a ver o sucesso da vacina.”

“Não adianta produzirmos milhões de dozes e não haver vacinação. E isso está acontecendo. Temos mais vacinas disponíveis do que a velocidade com que isso está se transformando em vacinação”, disse o diretor referente à vacinação da Covid-19 no Brasil.

“A gente soube de notícias de vacinas que venceram a validade no campo. Nada justifica isso, porque não há nenhuma vacina com menos de dois meses de validade. Existe um descompasso entre o que já ofertamos de vacina e o que foi disponibilizado.”

Segundo Mauricio, a comunicação e a informação precisam acompanhar a velocidade que é exigida pela tecnologia.

 

Logística e Distribuição

 

Nesse sentido, Carlos Felner afirmou que é importante entender que uma vacina é de qualidade quando ela leva em consideração a forma de distribuição. “É preciso validar as rotas. Para fazer esse controle logístico tem muito trabalho. É muito complexo e, na forma acelerada, como tem sido feita, é mais complexo ainda.”

No que diz respeito à comunicação, Carlos reforçou a importância das fontes especializadas e tradicionais, “até porque vacina não é algo novo.  É importante procurar médicos que entendem de vacinação, a Sociedade Brasileira de Imunizações. Ainda é tempo de organização a informação por relevância, de maneira a simplificar e pragmatizar o que vai para o público leigo e tirar um pouco da politização deste debate.”

Para Carlos, o cenário atual é atípico porque geralmente há mais tempo para planejar a logística e distribuição, além de monitorar os efeitos adversos. “Em situação normal acontece em prazos muito mais longos e sabe-se exatamente qual a situação da saúde de cada pessoa envolvida nos estudos. Agora, fizeram com critérios muito mais simples. Então, os efeitos adversos também podem ser causais ou não.”

O que não pode acontecer é que instituições públicas engajadas nesse processo não ter nenhum apoio constante. “Produzir vacina é um longo processo e extremamente complexo. Independente do partido político que esteja no poder, é preciso que o fluxo financeiro continue.”
Redação da Agência Aids