Um dia dos pais atípico. A pandemia do novo Coronavírus que trouxe a Covid-19 e nos impôs o distanciamento social, faz com que no próximo domingo, menos pais almocem, ou passem o domingo com seus filhos e netos. Até que chegue uma vacina e seja disponibilizada para todos os cuidados, uso de máscara em lugares públicos, lavar as mãos e utilizar álcool gel na higienização e não aglomeração têm que estar presentes em nossas vidas. Não dá para se descuidar. Os números deixam claro nossa vulnerabilidade:

Casos no Brasil: 2.809.321 ; 96.113 mortes.

Em todo mundo 18,5 milhões de casos; 701 mil mortes, segundo serviço de Jornalismo e Comunicação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Todos os profissionais de saúde têm sido muito requisitados para dar conta de acolher e tratar as pessoas que se infectaram. Particularmente os infectologistas viram seus plantões se estenderem, alguns adoeceram, outros ficaram por dias sem mesmo voltar para casa. Neste dia dos pais depois da chegada da pandemia, a Agência Aids procurou infectos que têm se dedicado muito para manter e salvar vidas.

Procuramos a Sociedade Brasileira de Infectologia. Jornalista profissional de 1993, formado pela PUC e há treze anos trabalhando na área da Saúde, Danilo Tovo, assessor de comunicação da SBI disse que tem tido uma experiência intensa e importante. “É crise todos os dias.”

Há quatro anos e meio frente à comunicação da SBI, comentou que depois da Covid,”parece que estou há dez anos e sem previsão de quando isso vai acabar”. Sobre os profissionais de saúde da SBI, ouvidos pela Agência Aids, o jornalista disse: “uma coisa é fato: todos estão exaustos e abalados emocionalmente”. Conheça os perfis e histórias dos infectos e pais que conversaram com Talita Martins e Jéssica Paula.

 

Marcelo Otsuka

Marcelo Otsuka se preocupa como pai e como filho. Infectopediatra na cidade de São Paulo desde o ano de 1993, ele viu de perto os número da pandemia crescerem de maneira drástica. “Fomos de 20 para 200 leitos de UTI, imagina como estão precisando de nós nesse momento. Colocamos protocolos pois atendemos crianças com patologias graves. Toda nossa nova rotina foi pensada nesse fluxo de atendimento”, explica.

Apesar de estar focado na área da pediatria, o coronavírus fez com que os clínicos precisassem de ajuda e Marcelo também atua no tratamento de adultos. “Como infecto posso dizer que a gente já estava organizando todos os protocolos terapêuticos desde o mês de fevereiro. Chegamos a adiar nosso simpósio porque sabíamos que a Covid-19 iria chegar.”

Marcelo, tornou-se médico seguindo o exemplo do irmão mais velho. Ou talvez, como ele mesmo brinca, de tanto precisar ir ao médico. Era um atleta plural e sua prática esportiva ia muito além do futebol. Praticava tênis de mesa, atletismo, judô, basquete e handebol. De tanto se machucar, acabou se inspirando na medicina.

Hoje, ele tem dois filhos e um casal de enteados. O mais novo já tem 21 anos, o que lhe confere um pouco mais de tranquilidade ao estabelecer uma rotina. “Dois deles moram comigo. Então é chegar em casa, deixar roupa separada e ir direto para o banho. Fiz testagem em mim e em pessoas próximas que tinham sintomas. Além disso, como filho, acabo me preocupando muito com meus pais.”

Entre ser médico e ser pai

Marcelo relembra os desafios em se tornar médico e ser pai. “Não é fácil porque a profissão requer muito. Trabalho muito com pesquisa e isso toma muito tempo. Na época do meu mestrado, por exemplo, me lembro de fazer trabalhos com o pequeno de 6 anos no colo, principalmente quando ele não estava bem de saúde.”

Da esquerda para direita, a esposa Izabel, o enteado Henrique, e os filhos Marcelo e Murilo

Um de seus filhos tinha refluxo grave e os cuidados como pai e como médico também fizeram parte da rotina de Marcelo. Ele inclusive buscou ser presente e utilizar seu conhecimento e formação desde o primeiro minuto de vida de seus filhos. “Estava ali presente para pegar no colo assim que nasceu até os cuidados de saúde durante o crescimento deles”, conta. “Eu acho que, de uma forma geral os médicos não gostam de cuidar de parentes por diferentes motivos, incluindo a carga emocional que isso pode gerar, mas acredito que se você é seguro do que você faz e se sente capacitado para cuidar deles, é tranquilo.”

 O exemplo do cuidado à saúde ainda segue inerente à maioria dos filhos. Uma estuda farmácia, o mais novo está estudando medicina e outro faz veterinária, já o mais velho optou pela administração.

Marcelo, aos 52 anos, continua com outras dezenas de responsabilidades, além do trabalho no Hospital Infantil DarcyVargas, em São Pualo, é vice-presidente do departamento infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria e compõem o Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Para ele, mais importante do que valorizar os pais que estão à frente da luta contra o coronavírus nesta data marcante, é reconhecer o valor de todos os pais, independente da profissão.

“Não é só porque nós somos médicos. Mas acredito que a gente tem que pensar não apenas em nossos filhos, mas também  na população de uma forma geral. Precisamos pensar, em primeiro lugar, em não provocar malefícios para outras pessoas e isso inclui não trazer qualquer tipo de doença para a nossa família. A sociedade como um todo precisa se preocupar mais com nossos filhos.”

 

Dica de entrevista

Sociedade Brasileira de Infectologia

Site: www.infectologia.org.br

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)