Reunião da OMS em Genebra apresentará agenda para evitar repetir erros do combate à Covid-19

Profissional de saúde testa morador de Wuhan, na China, durante pandemia de Covid-19

A Organização Mundial da Saúde (OMS) deverá se reunir no mês que vem em Genebra com o objetivo de formular um pacto global para que, na próxima pandemia, não se repitam os erros cometidos na última. O balanço da experiência mundial no enfrentamento da Covid-19 é negativo: falta de medicamentos e vacinas para todos, descoordenação entre países e atrasos contumazes, com um saldo oficial de 7 milhões de mortos (embora se saiba que o impacto do coronavírus tenha resultado em mais de 25 milhões de vidas perdidas).

Para fundamentar as discussões, a OMS mobilizou um grupo que, durante oito meses, auditou o comportamento dos países e da própria organização. Um resumo desse trabalho, publicado pelo jornal The Washington Post, registra que, apesar de anos de alerta sobre a ameaça inevitável de uma pandemia, não foram tomadas as medidas de precaução necessárias. O mundo não entrou em prontidão como deveria. “A preparação foi inconsistente e sem base. O sistema de alerta foi muito lento”, afirma o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

As clínicas em Wuhan, cidade da China onde surgiram os primeiros casos da doença, foram rápidas em identificar uma pneumonia de origem desconhecida no final de dezembro de 2019. Mas, depois disso, a notificação formal à OMS demorou. Perdeu-se um tempo precioso. Se tivessem sido adotadas desde o início, medidas de isolamento poderiam ter evitado que a nova cepa de coronavírus se espalhasse.

Entre as propostas levadas a Genebra está a criação, pela OMS, de um novo sistema global de vigilância, usando modernas ferramentas digitais. A reunião também deverá deliberar sobre uma autorização para a OMS divulgar informações sobre riscos de pandemias sem aprovação prévia dos governos.

Um ponto central é o acesso rápido de cientistas ao material recolhido de pacientes e aos locais onde são apontados os primeiros casos de uma nova doença em qualquer país. A OMS pretende propor um acordo internacional para garantir que não se perca tempo em burocracias. “Doenças não respeitam fronteiras”, diz o Post. “Reter informações põe todo o mundo em risco.”

Quanto aos recursos, a ideia é criar um fundo global contra pandemias, constituído por doações proporcionais ao nível de desenvolvimento dos países. Esperam-se contribuições entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões por ano, de modo que, quando necessário, o fundo tenha recursos para desembolsar de US$ 50 bilhões a US$ 100 bilhões em apoio às emergências.

No campo do aprendizado positivo, é preciso registrar que as vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde. Mas faltou distribuí-las de forma mais equânime. Daí a proposta de que a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a OMS tratem com produtores de imunizantes e seus países a cessão voluntária da tecnologia. Se não houver acordo num prazo de três meses, a proposta é abrir exceção com base na legislação sobre direito a propriedade intelectual, como no caso da quebra de patentes das drogas no combate ao HIV.

Os críticos da OMS afirmam que ela quer ser uma “polícia global da saúde pública”. Mas a pandemia de Covid-19 foi uma prova irrefutável da necessidade de coordenação global no combate às novas doenças. Ideologia e política não deveriam prejudicar o entendimento entre países para combaterem juntos ameaças à espécie humana.

Fonte: O Globo