Hiago Cristiano engravidou antes da transição hormonal e fala sobre a paternidade como transgênero.

Hiago Cristiano, de São José dos Campos, é pai e mãe. Ele se reveza entre a rotina do trabalho e os compromissos com a filha de seis anos em uma criação ‘solo’. Mas não são só os afazeres que dão a ele os dois títulos. Ele gerou a filha antes da transição hormonal de gênero.

“Gênero é uma construção, assim como a paternidade.Eu assumi esse papel integralmente para a minha filha e nada pode desfazer isso”.

Hiago engravidou da menina em 2017, depois de decidir passar pela transição hormonal. “Eu queria assumir a minha identidade, mas antes disso, eu queria ser pai. Queria viver essa relação de amor, então esperei até engravidar”.

Ele gestou, pariu de forma natural e amamentou até os nove meses. Explica que o processo marcou o fim de um ciclo, trazendo a certeza de como ele se identificava. “Em tudo que passei, eu só tive certeza de quem eu era e quem eu seria para ela: o pai”. A menina é fruto de um relacionamento com um homem, mas que não é presente.

Sociólogos explicam que gênero é uma construção social, que não é determinada pelo sexo biológico, ao nascer. Para Hiago, a linha é a mesma para a paternidade. Ele explica que a filha, hoje com seis anos, entende quem ele é e o que representa.

“É sem explicação poder ser pai dela. Eu tenho dois sentimentos, o paterno e o materno. E eu levo comigo uma responsabilidade maior. O pai biológico quase nãoa vê, então eu tenho a responsabilidade dos dois. Mas ela me faz sentir incrível, um super homem”.

Hiago se divide entre os afazeres da escola, o trabalho, a porganização da casa e todos as outras resposabilidades de pais. Ele brinca que prefere ser chamado de ‘pãe’. Apesar da criação ser um desafio, ele ainda precisa lidar com um outro maior: o preconceito.

“Já teve quem me disse lamentar o que eu estava fazendo ela passar. Quem colocou em xeque minha capacidade de criação ou o meu amor por ela. Mas eu tenho sorte de ter a filha que tenho”.

Explica que tem que evitar situações ou eventos na escola, com receio da exposição da filha e que já foram alvo. Para ele, a mudança em um cenário de preconceito está na criação de crianças em um ambiente de respeito a diversidade.

“A minha filha é a chance de outras pessoas terem tabus quebrados, de destruirmos qualquer preconceito. É por causa dela que eu acredito em uma sociedade melhor”.

Fonte: G1