Os avanços da ciência nas últimas décadas possibilitaram muito mais qualidade de vida e segurança para aqueles que carregam o vírus da imunodeficiência humana, o HIV. Mas até que ponto conviver com esse microrganismo por tanto tempo, mesmo que o mantendo sob controle, pode prejudicar a saúde? É o que investigam pesquisadores no estudo Reprieve (Randomized Trial to Prevent Vascular Events in HIV ou “Ensaio Randomizado para Prevenir Eventos Vasculares em HIV”, em tradução livre), liderado por especialistas do Hospital Geral de Massachusetts, vinculado à Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Entre 2015 e 2019, o trabalho envolveu 7770 participantes em mais de 100 instituições de pesquisa de 12 países, em cinco continentes. As descobertas do estudo só devem ser divulgadas em 2023, mas alguns resultados preliminares já estão sendo divulgados. Artigos publicados na última semana na revista científica The Journal of Infectious Diseases, trazem alguns dos achados iniciais sobre os efeitos no organismo da convivência prolongada com o HIV.

“Com quase metade de todas as pessoas que vivem com HIV agora já maiores de 50 anos [de idade], a ênfase de profissionais de saúde mudou nos últimos 20 anos de manter os pacientes vivos com terapia antirretroviral para promover os melhores cuidados possíveis contra condições secundárias”, destaca Steven Grinspoon, professor da Faculdade de Medicina de Harvard e coautor do estudo, em comunicado.

Uma das descobertas preliminares da pesquisa é que o comprometimento físico e uma condição de fragilidade são comuns em pessoas de meia-idade com HIV. Os estudos indicam, porém, que monitorar o Índice de Massa Corporal (IMC) e praticar exercícios podem ajudar a evitar esses problemas.

Outra constatação é que mulheres com HIV podem ter maior predisposição para problemas cardiovasculares e metabólicos com a menopausa. As pesquisas também trazem novas informações sobre fatores que podem levar a insuficiência renal e acúmulo de gordura no coração de pessoas infectadas pelo vírus da aids.

“A publicação desses dados iniciais do Reprieve vão ajudar médicos e pesquisadores a entender melhor o impacto do HIV em todo o corpo”, pontua Grinspoon. Os resultados também podem auxiliar no desenvolvimento de métodos preventivos, tratamentos e diretrizes sobre o risco cardiovascular dessas pessoas.

“Ao lançar luz pela primeira vez sobre a magnitude e a complexidade desse problema, acreditamos que essas informações e as outras que virão terão papel crítico no desenvolvimento de estratégias de prevenção cardíaca, além de melhorar os cuidados com as 37 milhões de pessoas que vivem com HIV globalmente”, acredita o cientista.

Fonte: Revista Galileu