Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo ainda não se manifestou sobre as reinvindicações do movimento social 

Cerca de 50 representantes do movimento social de luta contra aids na cidade de São Paulo ocuparam, na manhã desta sexta-feira (12), o SAE Líder II (Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids), na zona leste de São Paulo. O ato político foi contra a precariedade da assistência as pessoas vivendo com HIV/aids, a falta de humanização e recursos humanos, morosidade no atendimento e agendamento de exames e mudanças constantes na gerência.

Com gritos de “Não é mole não, o SAE Líder precisa de atenção” e “SAE Líder, assim não dá, o serviço está deixando a desejar”, os ativistas denunciaram que os usuários deste serviço municipal estão aguardando em média oito meses para uma consulta com o infectologista, além da defasagem na equipe multidisciplinar. “Estamos lutando para evitar o retrocesso, queremos concursos públicos, não adianta remanejar funcionários que estão próximos de se aposentar”, desabafou o ativista Américo Nunes Neto, coordenador do Movimento Paulistano de Luta Contra Aids (Mopaids).  “O SAE Líder II está sucateado, na UTI, não há linha de cuidados para os pacientes, já recorremos a várias instâncias denunciado os problemas e nada foi resolvido, não queremos mais respostas sem solução”, completou.

Em frente à entrada principal do SAE, David Oliveira, do Projeto Doses de Vida, explicou que o acesso a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. “Tem muito paciente aqui que tem um apego histórico com este serviço, eles ficam o dia inteiro sentados aguardando atendimento, inclusive gestantes e mulheres com crianças. Esses usuários estão sendo amordaçados pelo sucateamento do SUS e das políticas públicas de saúde.” Do Instituto Vida Nova, o jovem Alexandre Eduardo concordou com David. “As pessoas que vivem com HIV/aids merecem respeito, não queremos um serviço mascarado, queremos humanização.”

Durante todo o ato, os manifestantes apitaram e seguraram cartazes com dizeres como “Saúde é um direito de todos e dever do estado”, “Digníssimo Secretário da Saúde queremos concursos”, “Não adianta remanejar profissionais de vão se aposentar” e “#ocupasaelider, mais consultas, mais exames”.

O agente de prevenção Welton Gabriel, do Instituto Cultural Barong, disse que os serviços de saúde vêm piorando dia a dia e que não adianta ofertar PrEP na Rua se o paciente não consegue atendimento. “Temos que ocupar todos os SAEs, muitas pessoas dependem desses serviços.”

Os pacientes

Alguns usuários do SAE Líder II também participaram do ato e apresentaram documentos que comprovam o espaçamento das consultas. Como é o caso do seu Antônio. “Fui atendido no dia 6 de outubro deste ano, reagendaram para eu voltar em 11 de outubro de 2022. Vou fazer novos exames apenas em julho do próximo ano, é um absurdo”, disse.

Uma senhora que se identificou como Angélica contou que está com dor de dente há pelo menos três semanas e nada foi resolvido. “Não temos dentista neste SAE, eles dizem para eu tomar um remedinho e ir para casa, estou indignada”, lamentou, contando que seu marido também aguarda por consulta. “Ele fez exames há alguns meses e não conseguiu mostrar para o médico.”

A agente de saúde Ariana Wruck, do Instituto Vida Nova, denunciou que há neste serviço mães com HIV que deram à luz recentemente e ainda não estão recebendo a fórmula infantil. “Acabei de conversar com uma mulher nigeriana que desconhece até o direito do passe livre.”

Carta aberta

Antes de encerrar a ocupação no SAE Líder II, os ativistas caminharam pelo serviço e leram para a gerente, a senhora Cleusa Santos, dois documentos sobre a insatisfação do Movimento Social com a política de aids na cidade de São Paulo. (Leia os documentos no final da reportagem)

A carta aberta do Mopaids destaca que, no SAE Líder II, os problemas se arrastam há anos com falta de médicos infectologistas e equipe multidisciplinar, com um número de profissionais insuficiente para atender os 3.024 pacientes em tratamento.

“O enfraquecimento e o sucateamento deste serviço colocam em risco a vida das quase quatro mil pessoas em tratamento. É urgente refortalecer esse serviço com a participação da sociedade civil e do conselho gestor de forma imparcial. Entendemos que cabe a Coordenadoria Regional de Saúde, Supervisão Técnica de Saúde, Coordenadoria de IST/Aids da cidade de São Paulo, Conselho Municipal de Saúde e a Prefeitura solucionar os mais diversos problemas na Rede Municipal Especialidade em IST/HIV/Aids”, disse Américo.

De acordo com o ativista, as reinvindicações são por “melhorias na RME em sua ampla qualidade física, de equipamentos, de recursos humanos, de insumos, material de consumo e primordialmente a humanização, atenção integral e respeito aos pacientes.  O vínculo, a retenção e a adesão ao tratamento, terá êxito se houver vontade política e compromisso para solucionar os problemas desta unidade.”

A proposta dos manifestantes para o SAE Líder II é “a reorganização das agendas médicas com menor prazo entre consultas e exames; a revisão da assistência integral do acompanhamento clínico dos pacientes; a reorganização da agenda e efetividade com monitoramento das reuniões do conselho gestor; dar conhecimento toda equipe do serviço sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Declaração dos Direitos das Pessoas Vivendo com HIV/aids; assistência integral também é prevenção; mais diálogo e ações conjuntas com a sociedade civil organizada; que a Coordenadoria de IST/Aids crie estratégia permanente de monitoramento na RME; reorganização da Educação Permanente para os profissionais da RME; realocar e/ou terceirizar médicos que estão em vias de aposentadoria não é a melhor solução permanente. Para uma resposta efetiva pela falta de médicos e equipe multidisciplinar, é preciso que a Secretaria Municipal de Saúde convoque curso público.”

O ato chegou ao fim com um grande grito de viva a vida.

Leia os documentos

SAE Líder – Mopaids

Carta aberta ocupa SAE LÍDER II

Outro lado

A Agência de Notícias entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Saúde e até o fechamento da reportagem não tivemos resposta.

 

 

Dica de entrevista

Mopaids

Tel.: (11) 2297-1516

 

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)