Chegou ao fim a 23ª Conferência Internacional de Aids. A International Aids Society (IAS), aproveitou o encerramento para anunciar os novos membros que irão compor a frente da instituição pelos próximos dois anos. Serão nove membros recém-eleitos e três reeleitos ao Conselho de Coordenadores. Adeeba Kamarulzaman, da Malásia, é a nova presidente da IAS, a primeira mulher asiática a assumir o posto.

“Os novos membros que ingressam no Conselho de Administração da IAS acrescentam uma grande diversidade de habilidades e experiências”, disse Adeeba. “Eles serão fundamentais para orientar a IAS no futuro e lidar com um cenário científico, social e político que segue em rápida mudança. Estou particularmente feliz em anunciar que, pela primeira vez, nosso Conselho de Coordenadores é majoritariamente feminino, com 13 mulheres e 12 homens.”

Resiliência

Em sua 22ª segunda Conferência, o Professor Peter Piot, da Escola de Higiêne e Medicina Tropical de Londres, falou sobre o período desafiante para a luta contra aids. “A grande questão é como sustemos o progresso já conquistado?”

“Acredito que o fim da aids não será possível sem uma vacina. São meio milhão de mortes só na África como consequência da Covid-19. Essa é uma oportunidade para olharmos para a importância da saúde pública. Precisamos que as pessoas afetadas pela pandemia e as pessoas que vivem com HIV se sintam empoderadas para enfrentar esse momento”, disse. 

“Os fundos de financiamento como o Fundo Global e a Pepfar são fundamentais para a luta contra aids. Sem eles, ainda mais pessoas morreriam. Precisamos investir na sociedade civil. Precisamos renovar nossa estratégia. Precisamos virar o jogo a respeito das novas infecções em jovens e adolescentes”, disse Peter que se mostrou otimista quanto às recentes pesquisas sobre vacina e destacou a importância de maximizar as pesquisas sobre a interação entre HIV e Covid-19.

Já o ex-presidente da IAS, Anton Pozniak, disse que foi um desafio reunir pessoas do mundo todo em uma conferência que aconteceu pela primeira vez virtualmente. “Vamos pegar as lições aprendidas com esse momento, aprender a encurtar as distâncias.”

“Foi fundametal discutirmos os impactos da Covid-19 nas comunidades LGBTs e na reposta mundial ao HIV”, disse ao agradecer os organizadores e patrocinadores da Aids virtual 2020. “A resiliência aconteceu na prática.” 

Primeira presidente asiática

A próxima presidente da IAS e da 24ª Conferência Internacional de Aids será Adeeba Kamarulzaman. Ela é a primeira pessoa de país asiático a ser presidente da instituição. Segundo Anton, “não poderia haver alguém melhor para administrar a IAS neste momento.” 

Em seu discurso, Adeeba agradeceu a Anton por ter deixado a IAS após um duro trabalho. “Estou orgulhosa em ser uma mulher e a primeira pessoa muçulmana a assumir a presidência da IAS. O estigma e discrimanação ainda será um dos principais temas que precisaremos encarar. Agora, mais do que nunca, ciência e ativismo precisam andar de mãos dadas.” 

“Pessoas transgênero e profissionais do sexo ainda não são reconhecidas. Não vamos combater o HIV sem combater as desigualdades. Continuamos vendo homens jovens morrerem de aids. Precisamos manter nossas promessas, aumentar o acesso a quem precisa. Estou confiante na resposta das comunidades, porque vi essa transformação nas últimas décadas”, disse com otimisto ao lembrar que há 24 milhões de pessoas em tratamento no mundo. “Vamos continuar a mostrar nossa resiliência.”

Formada na Universidade Monash em Melbourne, na Austrália, Adeeba é especialista em Doenças Infecciosas, atualmente é Reitora da Faculdade de Medicina da Universidade da Malásia e professora adjunta na Universidade de Yale, EUA.

Ela estabeleceu a Unidade de Doenças Infecciosas no Centro Médico da Universidade da Malásia e, em 2008, o Centro de Excelência em Pesquisa em Aids (CERiA) na mesma universidade.

Como organizadora do Grupo de Trabalho de Redução de Danos da Malásia do Conselho de Aids da Malásia, ela defendeu com sucesso a implementação de medidas de redução de danos para combater o HIV entre as pessoas que fazem uso de drogas injetáveis na Malásia.

Ela também foi presidente do Conselho da Aids da Malásia de 2006 a 2010, onde permanece como membro do Comitê Executivo. E atua como presidente da Fundação da Aids da Malásia.

Adeeba esteve envolvida em várias organizações regionais e internacionais, incluindo o TREAT Asia, a Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas e foi co-presidente do Comitê Consultivo Estratégico e Técnico da OMS para o HIV e atualmente é membro do Grupo Consultivo do Unaids.

Ela também já foi co-presidente científica da 18ª Conferência Internacional sobre Aids em Viena, em 2010, e presidente local da 7ª Conferência da IAS sobre Patogênese, Tratamento e Prevenção do HIV (agora Conferência da IAS sobre Ciência do HIV) em Kuala Lumpur em 2013. Em abril de 2015, ela recebeu um Doutorado Honorário em Direito de sua alma mater, Monash University, por suas realizações notáveis ​​em medicina.

Este sou eu 

A cerimônia se encerrou com um clipe musical produzido no Zimbábue. Na música original do Greatest Showman, ‘This is Me’, um grupo de pessoas que foram estigmatizadas e isoladas da sociedade revidam, dizendo que estão machucadas, se sentiram agredidas, mas não vão se deixar abalar, porque “este sou eu”. Confira: