A partir dessa segunda-feira será possivel conferir na Global Village da 23ª Conferência de Internacional de Aids, o estande virtual que será um espaço de debate sobre o artivismo. O acesso é gratuito e a artista Adriana Bertini, ao lado do cineasta André Canto estarão disponíveis para um chat durante toda a semana. “É um estande específico a respeito do artivismo, que trabalha o conceito de HIV de forma integrada”, explica Bertini.

Segundo ela, a ideia é criar a primeira rede global de artivistas de todo o mundo. “Desejamos catalogar os artistas que têm algum trabalho voltado para o HIV/aids. A produção artística em HIV cresceu muito, mas queremos saber onde estão esses artistas e entender como eles têm trabalhado. Além disso queremos discutir a narrativa da arte contemporânea como ferramenta para combater estigma e falar sobre temas como a adesão, por exemplo.”

Bertini também explica que o artivismo no âmbio do HIV busca usar a arte para abordar a infecção pelo vírus tanto do ponto de vista biomédico, quanto comportalmental e psicológico. “Uma coisa é prevenção, adesão e testagem outra coisa é estigma, homofobia.”

Programação

Durante a exposição virtual, haverá um arquivo com imagens trabalhadas por Adriana Bertini, além de um vídeo explicando sobre a importância do artivismo, e outro material audiovisual com depoimento de jovens sobre como é possível entender o HIV por meio da arte. 

“Há artistas que buscam desconstruir as narrativas que não nos servem mais porque são carregadas de preconceito”, diz Bertini ao enfatizar a importância da criação de um grupo de discussão online mundial. “Queremo construir uma rede colaborativa.”

No mesmo espaço virtual, estará disponivel um formulário para que os artistas possam preencher e dar o pontapé inicial para a criação desta rede. “Quermos falar sobre as dificuldades de ser um artista que fala sobre HIV/aids. Depois disso queremos estabelecer estratégias conjuntas para financiar pequenos projetos. Me pergunto porque esse tipo de arte tem crescido tanto. É porque o discurso de 40 anos atrás não serve mais.” 

Adriana Bertini e André Canto estarão todos os dias em um bate papo online que acontece das 15h as 18h (horário do Brasil). Eles receberão as pessoas que desejam conversar e tirar dúvidas. O filme Carta Para Além dos Muros, de André Canto, também será exibido.

“Esse novo formato será uma supresa”, diz Bertini ao relatar que inclusive deixou seu número de celular disponível no espaço virtual para quem desejar entrar em contato com ela mesmo que fora dos horários da conferência. Para ela, trata-se de uma maneira de a arte continuar viva e ir além dos espaços de exposição. “É um manifesto artístico pra uma base global interativa.” 

 

Carta Para Além dos Muros

O documentário Carta para Além dos Muros, dirigido por André Canto, teve sua estreia nacional no ano passado e será destaque na Conferência. O filme mostra a cronologia dos 30 anos de epidemia de HIV no país por meio de relatos de especialistas e ativistas de diversas gerações e é conduzido por uma narrativa inspirada no trabalho de Caio Fernando de Abreu, que deu nome ao filme.

O longa tem cerca de uma hora e meia de duração e reúne depoimentos de mais de 30 pessoas que fazem parte dessa história, como o médico e escritor Drauzio Varella, a mãe do cantor Cazuza, Lucinha Araújo, os ex-ministros da Saúde José Serra e José Gomes Temporão, além de pessoas que vivem com HIV e trabalham para acabar com o estigma, como os youtubers Gabriel Estrela e Gabriel Comichol. O filme também conta com o depoimento da médica que identificou o primeiro caso de aids no Brasil, a dermatologista Valéria Petri.

A produção também será exibida na área de exposições do Global Village, para conferir, clique aqui. 

 

Uma nova narrativa

“Câncer gay, peste gay, de onde surgiram esses títulos?”, questiona Bertini. “Sabemos que foi em 1983 nos Estados unidos, mas por que essa mesma ideia de estigma que recai sobre a população LGBT permanece até hoje? Só a arte consegue mudar essa narrativa e construir novas referência”, defende. 

A artista também busca questionar como a comunidade médica e científica “prestou um desserviço associando o HIV à comunidade LGBT e quanto tempo precisamos para desconstruir esse equívoco. Como o audiovisual foi responsável pela falta de informação na época? Nos anos 80 e 90 o HIV é carregado de culpa , medo e dor. O artivismo é um caminho de desconstrução das narrativas discriminatorias do HIV/aids.”

Além disso, Bertini reforça a importância de que o artivismo seja um m0vimento para artistas que vivem ou não com o vírus. “A produção cultural é forte o suficiente para banir o estigma. O artista tem liberdade de expressão, ele pode não ter HIV no sangue, mas pode se sentir vulnerável. Afinal todos somos vulneráveis. Não precisamos segregar e sim integrar para potencializar o discurso.”

 

Mais informações

Data: Do dia 6 de julho a 9 de julho

Horário: Das 15h 18h (horário do Brasil)

Clique aqui para acessar 

Também é possível preencher o formulário clicando aqui

 

Dica de entrevista

Adriana Bertini

E-mail: condomart@gmail.com

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)