Em alusão à semana da Parada LGBT+, o Unaids exibiu as produções audiovisuais realizadas por pessoas trans durante o projeto Luz, Câmera, Zero Discriminação. O evento que aconteceu nessa terça-feira (18), na Universidade de São Paulo, também foi oportunidade para se debater os desafios do audiovisual como forma de atuar na visibilidade da população transexual.

A formação foi composta por dez encontros, que aconteceram no Centro de Cidadania LGBT Luiz Carlos Ruas. Ao longo do curso, os participantes aprenderam fotografia, sonorização e produção, além de roteiro, pré-produção, direção, fotografia, filmagem, edição e pós-produção. Ao final de cada parte teórica, os participantes colocaram em prática o conteúdo aprendido. A produtora Brodagem Filmes foi selecionada para montar e conduzir o treinamento. 

O objetivo do projeto foi contribuir para a redução do estigma e da discriminação em relação às pessoas trans e travestis e abrir espaços para que elas possam se apropriar das mídias sociais e de outras plataformas audiovisuais, fomentando também o acesso a esse mercado.  

Janaína Lima, uma das participantes da iniciativa, diz sonhar em trabalhar com o audiovisual para transformar a realidade das pessoas transexuais. “É uma forma de fazer as pessoas se sensibilizarem com a causa. Até hoje você vai se deparar com o número de transexuais assassinadas com requintes de crueldade. E nos perguntam o que a gente fez para merecer isso. Quero mostrar que a gente é uma população. Estamos nas universidades, nas empresas, nas igrejas, estamos juntos. Temos pessoas que estão em tratamento, pessoas que tentaram suicídio porque caminham com medo, que sociedade é essa que a gente vive?”, disse ao mostrar a marca de uma facada que levou na nuca há 30 anos, por transfobia. 

Bernardo Enoch, trabalha com fotografia e, para ele, o projeto é uma iniciativa para começar a traçar um novo caminho. “Porque quando saímos desse projeto não encontramos trabalho. É preciso mostrar que sabemos fazer outros trabalhos que vão além do conteúdo LGBT. Não somo apenas um corpo trans, somos uma pessoa. É preciso transformar isso em algo que possa ser aplicado na realidade e fazer com que as pessoas nos enxerguem como profissionais que também podem abordar outros assuntos.”

A professora Ana Paula Fernandes, da USP Diversidade enfatizou que o termo de cooperação que há entre a universidade e o Unaids é justamente para que possam ser realizadas uma série de ações conjuntas. “A ideia é fortalecer as pessoas com suas vivências. a ideia é formar não apenas bons técnicos, mas profissionais com cidadania e mais humanos. A gente tem a possibilidade de trabalhar na vertente de mapear as oportunidades dentro da universidade.” 

Ao finalizar seu depoimento, Janaína conta que começou a ver o mundo através da lente da câmera e mostrou quais são suas perspectivas após o aprendizado. “Entrei no curso como ativista e pensando como aquilo pode transformar minha realidade. Depois do curso, tudo o que eu vejo quero dirigir, pensar em como retratar. A ideia é começar a retratar a realidade de pessoas travestis e transexuais, formar um documentário pra mostrar tudo o que vivemos.”

As produções podem ser conferidas na íntegra clicando aqui. 

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaids.com.br)