Gabriel Comicholi

“Acordei um dia com febre e com uma “bola” debaixo do pescoço. Fui ao hospital, a médica suspeitou de caxumba e me deu uma guia com uma bateria de exames. Fiz os exames no laboratório mais próximo e, alguns dias depois, tomei um susto ao receber a ligação de uma atendente do laboratório dizendo que meu teste de HIV tinha dado positivo e que eu precisava voltar lá para fazer um novo teste”, conta o ator.

Gabriel desconhecia que a sorologia de HIV estava na lista de exames, e conta que nunca tinha feito por falta de informação. “Embora tivesse 21 anos, não tive educação sexual em casa ou na escola, e nunca fiz o exame porque simplesmente não sabia que precisava fazer”, comenta.

Segundo Camila Rodrigues, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, todas as pessoas com vida sexual ativa devem fazer o teste de HIV no mínimo uma vez ao ano e sempre que se sentir em risco, principalmente aquelas que têm múltiplos parceiros, diagnóstico de outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), usam drogas, já receberam transfusão sanguínea e gestantes no pré-natal.

Como o teste é feito

O Ministério da Saúde preconiza que o diagnóstico de infecção pelo HIV seja feito em etapas que incluem: o exame de triagem e o confirmatório, na mesma amostra de sangue, mas realizados por metodologias diferentes.

“Na primeira etapa, denominada de triagem sorológica, existem dois tipos de testes que podem ser feitos: o teste de anticorpos para HIV no sangue ou fluido oral (teste rápido) ou o teste de antígeno/anticorpo, que detecta os anticorpos e também os antígenos do HIV, isto é, uma parte do vírus no sangue (exame laboratorial)”, explica Rodrigues, que é membro consultor do Comitê de HIV/Aids da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

A metodologia conhecida como ELISA (Enzyme-Linked Immunoabsorbent Assay) é uma das mais recomendadas na fase de triagem para a infecção de HIV, embora possa ser usada para o diagnóstico de várias doenças.

“Neste exame laboratorial, reações químicas baseadas na interação antígeno-anticorpo são realizadas com o objetivo de detectar, simultaneamente, a proteína 24 (p24) do HIV, presente precocemente no sangue das pessoas infectadas, e os anticorpos produzidos contra o vírus, que aparecem mais tardiamente no decorrer da infecção”, explica Carolina dos Santos Lázari, infectologista do Fleury Medicina e Saúde, ao citar a quarta geração do ELISA.

‘Minha referência era o Cazuza’

Sem contar para ninguém o que estava acontecendo, Gabriel foi sozinho e com muito medo fazer o teste confirmatório de HIV no laboratório. “O teste é um exame de sangue normal. Fazer o procedimento em si foi tranquilo, o problema era o psicológico. As referências que eu tinha sobre o vírus eram o Cazuza [cantor que morreu em 1990 em decorrência da Aids]. Achava que se estivesse positivo, morreria em pouco tempo”, relembra o jovem.

Segundo a infectologista do Fleury, alguns laboratórios realizam a etapa confirmatória automaticamente quando o exame de triagem dá positivo, sem ônus adicional e sem a necessidade de solicitação médica ou de nova coleta. Outros armazenam a amostra para a realização do exame confirmatório mediante pedido do médico ou do cliente.

“Após um teste de triagem positivo, o próximo passo vai depender da rotina realizada pelo laboratório escolhido”, diz a médica do Fleury.

Entre os exames confirmatórios, o mais usado é o Western Blot, cujo método consiste em pesquisar, separadamente, anticorpos contra as diferentes proteínas do HIV, diminuindo o risco de ocorrer um resultado falso-positivo. Pode-se ainda confirmar o diagnóstico da infecção pelo HIV com o exame de quantificação da carga viral, na etapa complementar do diagnóstico.

‘Espera foi horrível’

Com login e senha em mãos, Gabriel entrava diariamente no site do laboratório para ver se o resultado ficava pronto. “A espera foi horrível, me gerou muita angústia e ansiedade. Mas o pior foi ter descoberto o diagnóstico sozinho em casa sem nenhum amparo psicológico”, lamenta o comunicador.

De acordo com as especialistas ouvidas por VivaBem, o acolhimento neste momento é fundamental. O paciente deve ser tratado com respeito, ter suas dúvidas esclarecidas, demandas acolhidas e receber orientações sobre o tratamento.

Para isso, é importante que ele procure um médico infectologista ou um serviço especializado, como o Centro de Testagem e Aconselhamento do SUS (Sistema Único de Saúde).

Vale ressaltar que, embora não tenha cura, atualmente a infecção por HIV é absolutamente tratável, com esquemas de medicamentos de uso simples e com poucos efeitos adversos, como qualquer doença crônica.

Diante do diagnóstico positivo, Gabriel contou a notícia para sua família e amigos, mas apesar do apoio que recebeu deles, sentia falta de conversar com alguém na mesma condição. Como o ator já tinha o hábito de filmar as coisas, decidiu registrar todas as etapas do seu processo e compartilhar nas redes sociais (@gabrielcomicholi).

“Resolvi me expor e falar abertamente sobre o assunto para trocar experiências e ajudar outras pessoas. Criei um perfil do que eu gostaria de ter visto quando descobri ter o vírus”. Com carga viral indetectável há seis anos, Gabriel segue o tratamento e faz acompanhamento com infectologista a cada seis meses.

Fonte: UOL / Viva Bem