O “Superando Pandemias ao Colocar Pessoas no Centro”, novo relatório do Unaids lançado nessa quinta-feira (26), mostrou os desafios que os países enfrentam para lidar com a epidemia de HIV/aids em meio à Covid-19 e traçou novas metas ambiciosas para redução de discriminação das pessoas com HIV até 2025.

As metas exigem a garantia de um ambiente propício para uma resposta eficaz ao HIV de modo que menos de 10% dos países tenham leis e políticas punitivas, menos de 10% das pessoas que vivem e são afetadas pelo HIV vivenciem estigma e discriminação e menos de 10% experimentem desigualdade e violência de gênero.

Embora alguns países da África Subsaariana, como Botswana e Eswatini, tenham se saído muito bem e alcançado ou mesmo excedido as metas estabelecidas para 2020, muitos outros países estão ficando para trás.

Agora, o objetivo é concentrar uma alta cobertura de HIV e serviços de saúde reprodutiva e sexual, juntamente com a remoção de leis e políticas punitivas e na redução do estigma e da discriminação. A nova estratégia pede que os esforços sejam focados especialmente as pessoas em maior risco e pessoas marginalizadas—mulheres e meninas jovens, adolescentes, profissionais do sexo, pessoas trans, pessoas que injetam drogas, gays e outros homens que fazem sexo com homens.

Já a respeito da prestação de serviços de HIV, o Unaids propôs que os países alcancem coberturas de 95% para cada subpopulação de pessoas que vivem com e sob risco aumentado de HIV. Sendo elas:

– 95% de mulheres acessando tratamento e serviços de saúde sexual e reprodutiva

– 95% de serviços para eliminação da transmissão vertical

– 95% das pessoas em tratamento com supressão de carga viral

– 95% das pessoas com HIV conhecendo seu status sorológico

– 95% das pessoas que conhecem seu status iniciem o tratamento

– 95% usem prevenção combinada

 

No gráfico abaixo, encontra-se uma estimativa do impacto que essas novas metas podem gerar no mundo.

 

 

Intensificação de ações globais

Segundo o relatório, a resposta está indo para trás em vez de ir para a frente, com novas infecções de 2010 a 2019 aumentando em 72% no leste Europa e Ásia Central, em 22% no Oriente Médio e Norte da África, e 21% na América Latina.

“Nenhum país pode derrotar essas pandemias por conta própria”, disse Winnie diretora executiva do Unaids. “Um desafio desta magnitude só pode ser vencido construindo a solidariedade global, aceitando uma responsabilidade compartilhada e mobilizando uma resposta que não deixa ninguém para trás. Podemos fazer isso compartilhando a carga e trabalhando de forma conjunta.”

Byanyima também pediu aos países que façam investimentos maiores em respostas globais à pandemia e a adotem um novo conjunto de metas ousadas, ambiciosas, mas alcançáveis para o HIV. “Se essas metas forem cumpridas, o mundo estará de volta no caminho para acabar com a aids como uma ameaça à saúde pública até 2030.”

“A falha coletiva em investir o suficiente em respostas ao HIV abrangentes, baseadas em direitos e centradas nas pessoas teve um preço terrível. Implementar apenas os programas politicamente mais cabíveis não mudará a corrente contra a Covid-19 ou acabará com a aids. Para colocar a resposta global de volta nos trilhos, será necessário colocar as pessoas em primeiro lugar e combater as desigualdades nas quais as epidemias prosperam”, disse Byanyima.

 

Em meio à Covid-19

O relatório mostra que um dos principais impactos da Covid-19 na luta contra aids é refletido em quedas do número de novos diagnósticos e inícios de tratamento para HIV. Menos pessoas estão começando a terapia antirretroviral, que, na prática, está reduzindo o número total de pessoas vivendo com HIV em tratamento.

Estima-se que 26 milhões de pessoas estavam em tratamento em meados de junho, alta de apenas 2,4% em relação à estimativa de 25,4 milhões no final de 2019. Em comparação, a cobertura de tratamento aumentou cerca de 4,8% entre janeiro e junho de 2019. No geral, mais 4 milhões as pessoas precisariam ter acesso ao tratamento para atingir a meta para o final de 2020 de 30,0 milhões.

Além disso,Byanyima defende que o mundo deve aprender com os erros da resposta ao HIV, quando milhões de pessoas de países em desenvolvimento morreram esperando pelo tratamento. Mesmo hoje, mais de 12 milhões de pessoas ainda não têm acesso a tratamento para HIV e 1,7 milhão de pessoas foram infectadas com o HIV em 2019 porque não tiveram acesso a serviços essenciais.

 

Clique aqui para acessar o relatório Superando Pandemias ao Colocar Pessoas no Centro (em inglês)

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)