O Ministério da Saúde definiu uma série de critérios para priorizar e dividir os grupos mais vulneráveis a infecção pelo novo coronavírus. Mas Estados têm autonomia para fazer a distribuição das vacinas e definir suas prioridades, com base nas recomendações da pasta. No Maranhão, por exemplo, pessoas em situação de rua foram incluídos na primeira fase. Em São Paulo, a prioridade tem sido vacinar profissionais de saúde. Em linhas gerais, por causa da escassez de vacinas, os governos estão vacinando atualmente apenas idosos que vivem em asilos, indígenas que vivem em aldeias e profissionais de saúde que trabalham na linha de frente contra o coronavírus.

Com a aprovação para uso emergencial de vacinas contra a covid-19 no Brasil, muitas pessoas querem saber quando, afinal, serão vacinadas? A notícia é que não há estimativa de quando a vacinação será estendida para outros grupos, como idosos que não vivem em asilos e pessoas com comorbidades, como diabetes e doenças cardíacas. Isso pode demorar semanas ou meses, a depender do estoque das vacinas. Há também a pressão de diferentes grupos populacionais para que sejam incluídos como prioritários, como é o caso das pessoas que vivem com HIV/aids e pessoas com deficiência. No entanto, há hoje no país somente 6 milhões de doses disponíveis e autorizadas para uso, sendo que milhares delas já foram aplicadas.

Em meio à pandemia e a escassez de vacinas, os cuidados com a saúde precisam ser redobrados. Todos os desafios impostos pelo isolamento social podem afetar também a saúde mental das pessoas, aumentando a ansiedade, insegurança, tristeza e outros sentimentos diante das incertezas. Como controlar a ansiedade, ter empatia, respeitar as decisões das autoridades de saúde e aguardar sua vez para ser vacinado?

A Agência Aids pediu dicas aos especialistas. Confira a seguir: 

“A vacinação traz novas esperanças e alento aos desafios da pandemia pelo coronavírus, em especial em relação a quarentena. Todos os grupos considerados de risco estão previstos no calendário, isso requer calma e paciência de cada um. É natural que quem vive as dificuldades e discriminações de viver com HIV esteja muito preocupado e ansioso pela vacina. Não é necessário “furar” filas e nem se estressar para ser vacinado”, explicou a psicóloga Edna Kahhale, professora da PUC. A dica da especialista para aguardar a vacinação é manter a calma, tranquilidade e rotina de exercícios físicos, de meditação e atividade prazerosa, como assistir filmes, artesanato, conversar com amigos, escutar música, dançar, ler romances interessantes…..

O psicoterapeuta sistêmico João Alfredo Meirelles disse que a discussão sobre o que provoca ansiedade nas pessoas que querem a vacina mais rápido é delicada. “O contexto de indefinição causa ansiedade. Será que teremos vacinas para todo mundo? Sabemos apenas que o número de pessoas infectadas está aumentando. Por isso, existe o medo coletivo.” A dica do especialista é que para que o poder público crie um plano de comunicação individual e coletivo, com o maior número de informações. “A população está com medo e desconfiada das informações que estão recendo, tem muita gente próxima morrendo.”

Controle do medo e da ansiedade

Ainda de acordo com João, o medo faz parte do nosso campo subjetivo. “O medo é uma resposta orgânica a nossa percepção, cada um percebe o mundo do seu lugar, da sua maneira e na sua dimensão. É fundamental que o medo exista para fazermos uma avaliação da realidade, ele só não pode tomar conta da gente porque paralisa. Quando vivemos sob estresse, a gente começa a sentir medo de sentir medo. Vale destacar que ansiedade, representada em uma fração matemática, tem no seu numerador a carga e em seu denominador a descarga. Carga é tensão, ou seja, vem daquilo que a gente pensa, sabe ou imagina. Estar preocupado é estar tensionado. O que vai acontecer se o vírus me pegar? Se eu tenho excesso de tensão e não tenho descarga, minha ansiedade vai a mil. A pressão sobe, posso ter um infarto, entrar em pânico, ter um colapso mental. Essa carga precisa ser descarregada através de espaço físico, mental e espiritual.”

A psicóloga e sexóloga Regiane Garcia, do Instituto Cultural Barong, concorda com João que é preciso controlar a ansiedade. “Estamos todos muito ansiosos pela vacina, queremos nos proteger e voltar a nossa vida. Agora é hora de dar uma respirada, pensar no coletivo, ainda não temos vacina para todos. A pandemia trouxe essa dica, se a gente não pensar no coletivo a vaca vai para o brejo. Temos também que nos informar em fontes confiáveis, tomar cuidado com as mensagens de whatsapp e com as fake news. Temos que ouvir as autoridades de saúde, os governos de estado, a Anvisa, fontes confiáveis sobre o calendário de vacinação. Quando falo em pensar na coletividade estou falando de pessoas. Se eu não sou prioridade, quem é? Médicos, enfermeiros, idosos. Incentive todas as pessoas que são prioritárias a vacinar. Você pode não estar na primeira fila, mas quanto mais pessoas se vacinarem, menor são as chances do vírus chegar até você, os benefícios da vacinação são coletivo. Quando eu penso no coletivo, estou pensando em mim. É importante olhar para o outro, para fora e sair da sua própria bolha.”

A psicóloga Lorena Cascallana, do Projeto Lá Em Casa, disse que a melhor atitude é manter a calma. “Todo mundo precisa reagir a vacinação com calma, sem ansiedade. Já estamos há um ano em casa, não é preciso se desesperar. Vamos deixar que o governo, os epidemiologistas e os infectologistas decidam sobre grupos prioritários, eles sabem o que estão fazendo, trabalham sempre com base em estáticas e metodologia. São pessoas especializadas em saúde pública. Neste momento, devemos nos adequar ao Sistema Público de Saúde. Tem pessoas que precisam fazer terapia para acalmar a ansiedade. A vacina vai seguir o plano definido pelas autoridades em saúde, se eles dizem que o grupo prioritário são as pessoas mais velhas, são justamente elas que vão se vacinar primeiro, temos que respeitar e aguardar a nossa vez. Se você tem muita ansiedade é bom começar a pensar no que você vai fazer da sua vida daqui para frente. Todos queremos tomar vacina para continuarmos vivos, está na hora de repensar nosso papel no mundo. Essa pandemia trouxe para o mundo muitos aprendizados. Chega de pensar em diminutivos.”

Vacinação contra a covid-19 deve entrar em 2022

De acordo com o Ministério da Saúde, a expectativa é que a população brasileira esteja vacinada apenas no ano que vem.

O “Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a covid-19” traz a indicação de três fases, que englobam pouco menos de 50 milhões de pessoas dos grupos de risco; ou seja, cerca de um em cada quatro brasileiros. Juntas, as três fases têm previsão de durar quatro meses. Apenas após o encerramento delas, começaria a contar a projeção de 12 meses do ministério para vacinar a população fora dos grupos prioritários.

“O Ministério da Saúde estima que, no período de 12 meses, posterior à fase inicial, concluirá a vacinação da população em geral, o que dependerá, concomitantemente, do quantitativo de imunobiológico disponibilizado para uso”, disse a pasta em nota ao UOL.

A nota expõe outra preocupação: não há vacina para todo mundo. O Ministério da Saúde prevê para este ano 210 milhões de doses da vacina de Oxford e outros 100 milhões da CoronaVac. Como são necessárias duas doses por pessoa, a soma dessas quantidades não atenderia toda a população, de cerca de 212 milhões de brasileiros.

Presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha diz achar “bem provável” que o país entre em 2022 com pessoas ainda sem receber a vacina contra a covid-19. “É muito ambicioso a gente pensar que teremos vacina e teremos insumos suficientes para vacinar toda a população.”

Redação da Agência de Notícias da Aids com informações

Dicas de entrevista

Edna Kahhale

E-mail: ednapeterskahhale@gmail.com ou ednakahhale@pucsp.br

Regiane Garcia Rodrigues

E-mail: regiane-garcia @uol.com.br

João Alfredo Meirelles

E-mail: joaoalfredomeirelles@gmail.com

Lorena Cascallana

Instagram: @lorecascallana