02/01/2020 - 13h57
Retrospectiva 2019: IAS 2019 – OMS passa a recomendar PrEP sob demanda para homens que fazem sexo com homens

 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) atualizou sua recomendação para incluir a PrEP sob demanda como prevenção eficaz contra o HIV voltada para para homens que fazem sexo com homens. A atualização foi anunciada na10ª Conferência do IAS sobre Ciência do HIV, na Cidade do México.

A PrEP sob demanda, também conhecida com esquema 2+1+1 envolve tomar uma dose dupla (duas pílulas) do Truvada entre 2 e 24 horas antes do sexo previsto e, em caso de sexo, uma pílula 24 horas após a dose dupla e outra 24 horas mais tarde. Se o sexo ocorrer vários dias seguidos, um comprimido deve ser tomado todos os dias, até 48 horas após o último evento.

O Dr. Jean-Michel, da Universidade de Paris, relatou que a PrEP sob demanda reduziu o risco de infecção pelo HIV em 86% entre gays e bissexuais masculinos no estudo francês Ipergay, igualando o efeito protetor da PrEP diária no estudo UK Proud.

Na Conferência Internacional de Aids de Amsterdam, em 2018, o Dr. Jean-Michel já havia relatado que nenhuma nova infecção pelo HIV havia ocorrido entre homens que usavam o regime de PrEP. Nessa terça-feira (23), ele apresentou uma atualização mostrando que a PrEP permanece eficaz com um acompanhamento mais longo.

Como fica após a atualização 

Em 2015, a OMS recomendou que a PrEP oral “deve ser oferecida como uma opção adicional de prevenção para pessoas com risco substancial de infecção pelo HIV como parte de uma abordagem de prevenção combinada”, mas não endossou o regime sob demanda.

Neste momento, a PrEP sob demanda não é recomendada para mulheres cisgênero ou transgênero, homens transgênero que têm sexo vaginal ou homens que fazem sexo com mulheres. Para mulheres cisgênero, doses de carga mais altas ou co-formulação com inibidores da integrase podem ser necessárias para a droga atingir rapidamente os níveis protetores no trato genital feminino. Para isso, Dr. Jean-Michel explica que pesquisas adicionais são necessárias.

Também não é adequado para pessoas com hepatite B crônica, já que o tenofovir é ativo contra o vírus da hepatite B, assim como o HIV, e as pessoas com hepatite B devem tomar esse ou outro antiviral continuamente.

O resumo da OMS expõe os benefícios da PrEP sob demanda, “incluindo a conveniência para homens gays que têm um alto risco de contrair HIV durante um breve período (por exemplo, em férias) ou que fazem sexo com pouca frequência, ou seja uma menor carga de comprimidos e menor custo. Mas também carrega riscos potenciais. No entanto deve-se ter cautela ao documentar o uso de PrEP sob demanda em locais onde a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo é criminalizada”.

Estudo Prévenir

Desde o início de maio de 2019, o estudo Prévenir registrou 3057 homens em 26 locais. A maioria (85%) era branca e a idade mediana era 36. Mais da metade dos participantes não tinha um parceiro sexual regular. Eles tiveram uma média de 10 parceiros sexuais durante os últimos três meses e uma média de dois atos de sexo sem preservativo no último mês. Chemsex, ou uso de drogas recreativas quando eles tiveram relações sexuais, foi relatado por 14%.

Cerca de metade dos homens optaram pela PrEP sob demanda, e essa proporção permaneceu consistente ao longo de 18 meses de acompanhamento. Cerca de 15% mudaram de regime para doses intermitentes para diárias.

A razão mais comum para não tomar PrEP foi sentir que o sexo era de baixo risco. Cerca de 20% em ambos os grupos relataram o uso de preservativos quando fizeram sexo pela última vez.

Dois homens se infectaram durante o acompanhamento, mas relataram que pararam de tomar a PrEP várias semanas antes e fizeram sexo sem preservativo.

O número de atos sexuais e número de parceiros sexuais foi maior nos usuários diários da PrEP em comparação com os usuários intermitentes. Em ambos os grupos, a frequência do sexo aumentou 43% após o início da PrEP, mas depois estabilizou. Por outro lado, o número de parceiros sexuais diminuiu em 20% após iniciar a PrEP.

 

Outras ISTs e dosagem da PrEP

O Dr. Jean-Michel relatou que as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) eram comuns, aumentando em 38% desde o início do estudo até o 18º mês. A taxa geral de incidência foi de 86 por 100 pessoas-ano. As ISTs foram mais comuns no braço diário da PrEP tanto no início do estudo como aos 18 meses. Ele também disse que nove homens em PrEP diária e 11 em PrEP intermitente contraíram o vírus da hepatite C durante o acompanhamento, e que a taxa de incidência de hepatite viral de 1,04 por 100 pessoas ao ano, que inclui um caso de hepatite A, B e E, era bastante alta e os pesquisadores estavam tentando resolver esse impasse.

Tanto a PrEP diária quanto a baseada em eventos foram bem toleradas. Eventos adversos relacionados a medicamentos foram incomuns e semelhantes em ambos os grupos. Apenas três pessoas pararam de tomar Truvada devido a efeitos colaterais gastrointestinais.

 

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)

A Agência de Notícias da Aids cobre a 10ª Conferência do IAS sobre Ciência do HIV (IAS 2019) com o apoio do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente transmissíveis.

Saiba mais:

Saiba como a PrEP está mudando hábitos sexuais do público vulnerável ao HIV

Estudo diz que 72% dos usuários de PrEP, pílula para evitar o HIV, tiveram outras doenças sexualmente transmissível

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