A tarde dessa segunda feira (29) foi marcada por falas em defesa do SUS e por memórias de momentos marcantes na construção dos 30 anos do Centro de Referência e Treinamento e na comemoração dos 35 anos do Programa Estadual de DST/Aids. Nesse sentido, a coordenadora adjunta do Programa Estadual, Maria Clara Gianna, falou sobre a relação entre saúde e a atual política. “Fico triste em lero programa de governo no presidente eleito e não ver nada a respeito do financiamento do SUS. Vamos continuar lutando pelo SUS.”

A médica Valquíria Pereira enfatizou a necessária luta em defesa do sistema público de saúde. “A gente está em um país em que as coisas precisam estar escritas para que aconteçam, para possamos brigar por isso. Se não houvesse obrigatoriedade do atendimento, não sei o que seriam dos pacientes. Embora tenha muitos defeitos, o SUS precisa ser preservado a qualquer custo, pelo menos no papel para que a gente possa reivindicar.”

 

Transmissão vertical do HIV

Representando o Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, Fernanda Rick ressaltou a importância dos direitos humanos, igualdade de gênero e participação da comunidade. “É claro que, dentre os desafios, nós tivemos avanços e no caso da mulher gestante, detectar o HIV na gestação é uma questão positiva porque vemos uma ampliação da testagem sendo possível intervir na transmissão vertical. É importante que haja uma atenção especial, o maior desafio está relacionado a questões emocionais.”

Fabiana Cristina, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, afirma que “é absolutamente normal sentir medo, ansiedade, não saber o que fazer. Esses sentimentos nos prejudicam quando não recebemos o acolhimento necessário. Nós precisamos aprender a lidar com essa situação e isso demanda suporte que envolve toda a equipe e o serviço oferecido para essa mulher. O profissional precisa ter perspicácia. Ainda temos que falar de humanização. Precisamos prestar atenção na maneira que elas são atendidas e amparadas. Essa falta de sensibilidade de muitos profissionais pode ser o grande entrave do controle da transmissão vertical do HIV.”

Para Fabiana, a questão racial também precisa ser discutida, assim como o uso de drogas. “Elas precisam ser tratadas com o respeito que elas merecem. O preconceito dentro dos serviços acabam afastando essas mulheres e fazendo com que elas corram riscos, e, consequentemente, suas crianças ficam expostas. Elas carregam o medo de falar com os familiares. Quando há essa falha nos serviços, há falha também em todo o processo. Muitas chegam sem conhecimento, se sentem sozinhas porque muitos serviços não há qualquer tipo de acolhimento. É preciso reativar essas escutas.”

Maria Clara também falou sobre as ações necessárias para que os resultados desejados quanto ao enfrentamento da sífilis congênita sejam objetivos nos municípios.”As diferentes áreas de atuação precisam pensar nas metas para o ano de 2019. Dentre as medidas necessárias, estão a notificação e investigação, acompanhamento do parto, captação precoce das gestantes no pré-natal.”

Memória 

Arthur Kalichman, coordenador do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo, defendeu que o CRT é referência por ter sido criado a partir do ponto de vista da ética, política, humana em um momento em que “tudo o que se podia fazer era cuidar, porque não havia nada para se fazer. O CRT nesse sentido conseguiu ser uma potência e acabou se tornado uma experiência única por unir outros níveis do cuidado, o individual, os processos e organização de hospitais do ponto de vista de organização do trabalho, além da gestão programática. É por isso a nossa luta pelo SUS, que possa ser um local onde a gente possa continuar juntos promovendo a vida e a saúde.”

A infectologista Maria Eugenia Lemos emocionou o público através de uma carta em que resgatou a pressão psicológica de lidar, ainda enquanto uma jovem profissional, com uma doença desconhecida, vendo pacientes jovens morrendo estirados em macas. Ela relatou também as visitas que fazia ao presídio Carandiru pra investigar suspeitas da doença, o que lhe gerava compulsivas crises de choro.

A médica Rosana del Bianco lembra que os usuários de drogas foram acolhidos como seres humanos no início da epidemia, apesar de todas as dificuldades. “Foi muita luta. O nosso trabalho deveria inclusive ter sido mais prestigiado. Espero que apenas melhore não piore.  A gente ensinou como é cuidar de um individuo terminal em casa. Esse foi um grande ponto na nossa história.”

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)