O estigma relacionado ao HIV e os desafios de saúde mental foram associados ao suicídio entre jovens que vivem com HIV em dois estudos separados da África do Sul e dos Estados Unidos apresentados na recente 24ª Conferência Internacional de Aids (Aids 2022). O estudo sul-africano mostrou que o apoio social era protetor, enquanto o estudo norte-americano identificou outros fatores de risco, incluindo racismo sistêmico, status de minoria sexual e gravidez.

Nos últimos 45 anos, as taxas de suicídio aumentaram cerca de 60% globalmente, com o maior aumento relatado entre adolescentes e adultos jovens. Vários estudos encontraram altas taxas de tentativa de suicídio e ideação suicida (pensamentos de suicídio) entre jovens vivendo com HIV, mas pouco se sabe sobre o que molda a tendência suicida nesse grupo.

A Dra. Wylene Saal, da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul, apresentou dados de 715 mulheres jovens que vivem com HIV, incluindo 311 mães adolescentes. Mais da metade dos participantes foram recentemente diagnosticados com HIV. Na época das entrevistas, a média de idade era de 18 anos, 23% das mulheres moravam na zona rural, 20% viviam em moradias informais e 76% não tinham acesso a pelo menos uma necessidade básica.

Durante as entrevistas, 7% das mulheres relataram ideação suicida ou tentativa de suicídio no último mês. Embora a maioria das mulheres tenha dito receber algum apoio social, um terço teve má retenção nos cuidados e um terço relatou problemas de saúde mental. Na análise multivariada, a baixa retenção nos cuidados e as experiências de estigma do HIV foram associadas a maiores chances de suicídio, direta e indiretamente (mediado por problemas de saúde mental). Uma análise mais aprofundada mostrou que o apoio social atenuou os efeitos da má retenção nos cuidados e da experiência de estigma social, reduzindo as chances de suicídio entre mulheres jovens que vivem com HIV.

Saal enfatizou que a prevenção e a resposta ao suicídio precisam ser integradas nos serviços de HIV, mitigando os fatores de risco de má retenção nos cuidados e estigma. Mulheres jovens que vivem com HIV, especialmente aquelas que lutam para manter os cuidados com o HIV ou que têm redes de apoio limitadas, devem ser rastreadas para suicídio e saúde mental precária. Além disso, grupos de apoio de pares podem fortalecer as relações sociais para melhorar a saúde mental e reduzir a tendência ao suicídio entre mulheres jovens que vivem com HIV.

O Dr. Philip Kreniske, da Universidade de Columbia e do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, apresentou os resultados de um estudo de coorte prospectivo na cidade de Nova York com adolescentes e adultos jovens. O estudo envolveu 206 participantes nascidos com HIV e 134 participantes que foram expostos ao HIV durante a gravidez, parto ou após o nascimento, mas não vivendo com HIV. A idade média de inscrição no estudo foi de 12 anos entre 2003 e 2008, e a idade média atual dos participantes é de 28 anos. Metade dos participantes eram mulheres, 57% eram negros e 57% eram latinos.

Já ter tentado suicídio foi mais frequentemente relatado por jovens vivendo com HIV (27%) do que jovens HIV negativos (16%). No modelo ajustado por idade, os jovens que vivem com HIV tiveram maiores chances de tentativa de suicídio em comparação aos que são HIV negativos. Entre os jovens vivendo com HIV, aqueles que se identificaram como heterossexuais apresentaram menor chance de tentativa de suicídio em comparação com outras orientações sexuais. As chances de tentativa de suicídio foram mais de duas vezes maiores para aquelas vivendo com HIV que estavam grávidas ou tinham uma parceira grávida. O estigma do HIV e os problemas de saúde mental foram novamente associados à tentativa de suicídio, enquanto os jovens com maior senso de autoestima como indivíduo ou como membro da família apresentaram menores chances de tentativa de suicídio.

Kreniske também apontou que o estresse causado por morar em um bairro desfavorecido, eventos negativos da vida e prisão no ano passado foram todos associados a chances significativamente maiores de tentativa de suicídio. Esses fatores foram associados ao racismo sistêmico em pesquisas anteriores e devem ser considerados na prestação de cuidados e apoio às pessoas vivendo com HIV que podem estar enfrentando barreiras sistemáticas.

Embora haja evidências crescentes sobre os efeitos positivos do apoio social na saúde mental e no bem-estar das pessoas que vivem com HIV, são necessárias mais pesquisas para examinar os fatores que afetam o suicídio entre adolescentes e jovens que vivem ou estão expostos ao HIV. Além disso, os serviços clínicos e de apoio existentes podem oferecer uma oportunidade para intervir e abordar o suicídio entre os jovens.

Redação da Agência de Notícias da Aids com informações do site AidsMap