Educação sexual é um termo utilizado para se referir ao processo que busca proporcionar conhecimento e esclarecer dúvidas sobre temas relacionados à sexualidade. Por sexualidade entende-se o conjunto de comportamentos relacionados ao desejo sexual. Este processo de educação sobre sexualidade tem sua importância relacionada à prevenção de diversas situações indesejadas, como infecções sexualmente transmissíveis (DSTs), gravidez na adolescência e experiências sexuais traumáticas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) considera que a educação sexual está relacionada à promoção de direitos humanos – direitos das crianças e jovens e o direito que toda pessoa tem à saúde, educação, informação e não discriminação. Por essa razão, a ONU é favorável a implementação de um currículo para educação sexual nas escolas: “Educação sexual é um programa de ensino sobre os aspectos cognitivos, emocionais, físicos e sociais da sexualidade. Seu objetivo é equipar crianças e jovens com o conhecimento, habilidades, atitudes e valores que os empoderem para: vivenciar sua saúde, bem estar e dignidade; desenvolver relacionamentos sociais e sexuais respeitosos; considerar como suas escolhas afetam o bem estar próprio e dos outros; entender e garantir a proteção de seus direitos ao longo da vida”, diz o guia técnico para educação sexual desenvolvido pelo Unaids.

A psicóloga e sexóloga Regiane Rodrigues define a educação sexual como uma forma de educar para a sexualidade saudável. “Sexualidade é uma parte da personalidade do ser humano, que existe desde o nascimento até o final da vida. Ela significa como eu me sinto, como me relaciono com as pessoas e como eu me vejo, tanto como homem, quanto como mulher, não binária… Ou seja, a sexualidade está ligada ao tripé do pensar, sentir e agir.”

O ator e youtuber Diego Krausz, que produz conteúdo para as redes sociais sobre sexo seguro e prevenção, concorda com Regiane. Para ele, a educação sexual não é falar apenas sobre sexo, “é falar sobre a orientação sexual, corpos, órgãos genitais. Tudo isso de maneira leve, a gente está falando sobre anatomia e autoconhecimento”.

Os especialistas destacaram que a sexualidade faz parte da vida de todos e que em algum momento a pessoa vai ter dúvidas sobre o sexo e a sexualidade. “A sexualidade faz parte da vida do indivíduo desde sempre, e não está ligada apenas ao ato sexual ou ao sexo, sexualidade é uma coisa ampla, como Freud já dizia é uma pulsão de vida. Ou seja, a educação sexual é uma educação para o autoconhecimento, para que crianças, jovens, adultos e idosos possam se conhecer e se entender no mundo, agindo e atuando”, esclareceu a sexóloga.

O que Regiane diz vai de encontro com uma recente pesquisa sobre educação sexual divulgada pelo Datafolha. Para 73% dos brasileiros, a educação sexual deve estar presente nas escolas. Além disso, 9 entre 10 pessoas concordam que discutir o assunto em sala de aula pode ajudar crianças e adolescentes a se prevenirem contra o abuso sexual, tema que ganhou centralidade após o caso de uma criança de 11 anos vítima de estupro vir a público.

Os números expõem as contradições entre a opinião de boa parte da população e as investidas de grupos conservadores. Após pressão desses atores, os termos orientação sexual e gênero foram retirados pelo Ministério da Educação do documento final da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) em 2017. Os três últimos ministros da pasta, Ricardo Vélez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro, criticaram a educação sexual e a tentativa de “ensinar ideologia de gênero” e “erotizar crianças”.

Educação sexual para os pequenos

Do que estamos falando quando nos referimos à Educação Sexual? | Nova Escola

 As escolas brasileiras, em geral, não possuem uma educação sexual em seus currículos e, quando abordam o tema, geralmente o fazem a partir da perspectiva biológica, ensinando sobre os órgãos sexuais, os processos de concepção e, às vezes, sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Além da saúde sexual e reprodutiva, entretanto, a dimensão da sexualidade está presente em relações afetivas, vivências sexuais, aspectos subjetivos e individuais, e dentro de um contexto histórico, social, cultural e político.

Regiane explica que a educação sexual é importante, também, para que os alunos e alunas reconheçam e saibam como se proteger de situações de abuso e assédio, conheçam seus direitos e entendam que são donos de seus corpos.

“Quando falamos de educação sexual infantil, estamos falando exatamente de autocuidado, falando de ensinamentos e aspectos do nosso corpo, sobre o que é público, e o que é privado, e de lugares que as pessoas podem tocar, como por exemplo a nossa mão, o nosso braço. Existem partes do nosso corpo que a gente tem que consentir para ser tocado. A criança precisa entender que para algum adulto ou alguma pessoa mais velha tocar em partes do seu corpo ela tem que consentir ao toque”, explicou a psicóloga, completando que há vários relatos de crianças de denunciam abusos depois das aulas sobre educação sexual.

Educação sexual na adolescência

Na fase da adolescência não é diferente, precisa ter um cuidado maior e falar sobre educação sexual com mais urgência, é o momento em que o corpo está se desenvolvendo e se descobrindo. “Na adolescência é preciso falar de coisas um pouco mais complexas, por conta do desenvolvimento do adolescente. Ele então começa a se interessar por pessoas, por contatos físicos, começa a sentir sensações no seu corpo que são frutos do desenvolvimento hormonal. E a partir disso, pode passar a acontecer os encontros sexuais, então na adolescência a gente também trabalha o autocuidado.”

Na opinião de Diego Krauzs, que vive com HIV, “para melhorar a educação sexual é preciso vencer o tabu e falar sobre. Desde que o mundo é mundo a gente tem essa censura de que falar sobre sexo é errado e é sujo. É uma loucura, em um extremo a gente tem isso e no outro extremo temos, por exemplo, homens que se juntam em um barzinho e contam vantagens sobre seu órgão genital. Acho muito curioso que quando falamos sobre sexo de uma maneira educacional é rejeitado, mas quando falamos de maneira hipersexualizada ele é aceito”.

Ele continua: “Fui uma pessoa que eu não tive educação sexual na escola, não tive educação sexual na minha casa por causa do tabu. Tenho certeza que isso colaborou para muitas desinformações em minha vida”.

Dentre os variados temas que existem dentro da educação sexual na adolescência, um deles chama bastante atenção de Regiane: a pressão estética. Ela, que atua na área social do Instituto Cultural Barong, disse que “a pressão estética também é uma vilã, lido com muitos adolescentes que têm distúrbios alimentares devido a essa imposição do ser magra e estar padrão. Quando trabalhamos a sexualidade falamos também sobre diversidade, e não é só a diversidade sexual, é a diversidade dos corpos, a diversidade cultural, diversidade de raça.

Educação sexual nas escolas

Ao falar sobre educação sexual não tem como deixar de fora as IST’s, que atingem adolescentes e jovens, prevenção e autocuidado. “Precisamos falar sobre sexualidade e propor isso para os adultos que trabalham com as crianças, temos que dar um enfoque muito grande nos professores e nos pais. Todos precisam estar preparados para conversar sobre sexualidade e prevenção, olhando também para a sexualidade deles, sobre como as informações chegaram até eles, tudo isso é muito importante” disse a sexóloga.

Diego Krauzs acrescentou que “as IST’s diminuiria muito se a gente falasse mais sobre educação sexual. Até hoje existem pessoas que acham que a camisinha é só para prevenir gravidez e HIV, isso é um erro tremendo, as pessoas não têm conhecimento sobre educação sexual mesmo sendo adultas”, enfatizou o comunicador. “Se a gente falar sobre IST’s, se a gente falar sobre gêneros e sobre sexualidade de uma maneira leve e como deve ser, vamos quebrar tabus e perder esse medo que temos de falar ou de receber um diagnóstico”, completou Diego.

“Estamos em 2022 e têm pessoas que ainda acham que não pode falar sobre sexo com adolescentes. Olha a quantidade de jovens sendo diagnosticados com HIV, eu mesmo recebi meu diagnóstico há alguns anos”, desabafou.

A perspectiva de Regiane não é diferente: “A sexualidade tem que está na mesa do bar, no almoço de família, na roda de amigos, na sala dos professores e no grupo de pais, ela tem que está em todos os lugares onde a vida está presente para que a gente possa ter uma maior responsabilidade das nossas atitudes, responsabilidade afetiva e uma saúde mental saudável. Acredito que é esse é o caminho, essa é a importância da educação sexual e ela é fundamental e se faz necessária desde sempre”, finalizou.

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista:

Regiane rodrigues

E-mail: Regiane-garcia@uol.com.br

 

Diego Krauzs

E-mail: contatodiegokrausz@gmail.com