Um estudo realizado pelo Imperial College London, no Reino Unido, indica que as mortes por HIV, tuberculose e malária podem aumentar em até 10%, 20% e 36%, respectivamente, nos próximos 5 anos. Segundo o artigo, publicado nesta segunda-feira (13) no The Lancet, o motivo para essa crescimento é a interrupção de tratamentos e serviços de saúde causada pela pandemia de Covid-19.

A modelagem concluiu que, em países mais pobres, na pior das hipóteses, essas doenças terão uma escala semelhante ao impacto direto da própria pandemia. Isso porque, de acordo com os especialistas, as perturbações causadas pela Covid-19 no sistema de saúde impactou direta ou indiretamente o cuidado com outras enfermidades.

“Em países com alto índice de malária e grandes epidemias de HIV e tuberculose, até mesmo interrupções de curto prazo podem ter consequências devastadoras para milhões de pessoas que dependem de programas para controlar e tratar essas doenças”, afirmou Timothy Hallett, coautor da pesquisa, em declaração à imprensa. “No entanto, o impacto indireto da pandemia pode ser amplamente evitado pela manutenção dos serviços principais e pela continuidade de medidas preventivas.”

Neste estudo, os pesquisadores assumiram que cada pessoa com o novo coronavírus transmite a infecção para outros três indivíduos. Além disso, quatro cenários alternativos de combate à pandemia foram considerados. Em seguida, eles usaram modelos de transmissão de HIV, tuberculose e malária para o impacto adicional que poderiam gerar na saúde pública em cada um dos cenários analisados.

No geral, os resultados sugerem que o impacto da pandemia varia de acordo com quais e como as intervenções contra a Covid-19 estão sendo implementadas. “Nossas descobertas destacam as decisões extraordinariamente difíceis que os formuladores de políticas públicas enfrentam”, ponderou Hallett. “Entretanto, se essas intervenções não forem bem gerenciadas, elas podem fazer com que as pessoas fiquem longe de hospitais e clínicas, forçando o cancelamento de programas de saúde pública, levando a um grande aumento nas mortes por outras doenças infecciosas anteriormente controladas.”

Previsões

Prevê-se que o maior impacto no HIV seja da interrupção ao fornecimento e administração de medicamentos durante a pandemia de Covid-19. No pior cenário, países no sul da África podem ter até 10% mais mortes devido ao HIV nos próximos 5 anos.

Já para a tuberculose, estima-se que o maior impacto será a redução no diagnóstico e tratamento oportuno de novos casos. No pior cenário, as mortes pela doença podem aumentar em até 20% nos próximos 5 anos em comparação com quando os serviços estão funcionando normalmente.

Por fim, o modelo prevê que o aumento do casos de malária pode resultar da interrupção das campanhas de tratamento e prevenção da doença, que geralmente ocorrem a cada 3 anos. Na pior das hipóteses, com as interrupções causadas pelo novo coronavírus, as mortes por malária podem aumentar em 36% nos próximos 5 anos..

Discutindo as implicações das descobertas em um comentário também publicado no The Lancet, Peter Sands, diretor executivo do Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária, que não participou do estudo, acrescentou: “Em países fortemente afetados por HIV, tuberculose e malária, a Covid-19 pode resultar na reversão de muitos anos de ganhos duramente conquistados”, explicou. “Não podemos deixar isso acontecer. Precisamos de mais recursos e ação decisiva, e devemos medir o sucesso não apenas em termos de minimizar o impacto direto da Covid-19, mas em termos de minimizar seu impacto total, incluindo seu reflexo indireto no HIV, tuberculose e malária.”

Fonte: Revista Galileu