14/11/2017 – 16h

 

“Foi em agosto de 93. Minha irmã pensava estar com anemia e resolvi fazer uma bateria de exames junto com ela. Tudo para ela era doença. Quando peguei meu exame, estava lá: positivo”. Foi assim que Credileuda Costa de Azevedo descobriu que tinha HIV, aos 24 anos. Creuda, com é conhecida em toda a cidade de Horizonte, a 50 km de Fortaleza, teve a sorte de ser atendida pela “doutora Lurdinha”, a assistente social que a encaminhou ao tratamento. “Tive acesso a informação numa época em que todos diziam que quem tivesse aids só tinha três meses de vida”.

E Creuda viveu por um motivo especial. O filho de 3 anos e 4 meses de vida. “Levei ele pra fazer o exame. Deu negativo. O ciclo de vida é esse. A gente nasce, cresce, morre. E sei que um dia eu vou morrer, não sei do que, mas enquanto eu estiver viva, vou cuidar dele”.

Hoje, Creuda se dedica a cuidar também daqueles que não tiveram a sorte de encontrar alguém como Lurdinha em seu caminho. “Eu acompanho algumas pessoas que estão recebendo resultado positivo em hospitais. Elas acham que vão morrer, então temos um grupo para escutar o que elas passam além do HIV”. Ela encontra pelo caminho muitos daqueles que abandonaram o tratamento. “Por trás desse abandono vem a não aceitação da família, a miséria, a pobreza, ausência de uma boa alimentação.”

É por isso que Creuda sabe que tem “uma vida ampla”. Faz tudo que tem vontade. Acompanha seu futebol, sai pra namorar, festar e não deixa de ir às serestas.  Quando estava solteira, contava pros namorados logo de primeira. “Homem é muito resistente a usar preservativo. Então tinha que contar para eles se cuidarem.”

A coragem de contar para os pais veio dois anos depois do diagnóstico. Com o apoio de um dos 10 irmãos, ela juntou a família e explicou o que vinha acontecendo. “A preocupação deles é aquela natural de mãe e pai, nunca me trataram diferente.”

O segundo casamento, trouxe outro desafio. Uma segunda filha e o medo de transmitir o vírus para a criança. Em 2017, a pequena menina completou 21 anos de idade. Sem HIV.  Hoje, Creuda é avó de dois netos. Casada há 5 anos com um marido sorodiscordante,  a cada três meses faz exame para acompanhar a carga viral. Quando a conheceu, o marido de Creuda já sabia do HIV. “É que, na cidade, quem sabe quem é Creuda, sabe que ela tem HIV”, ela mesma justifica.

Foram poucas as vezes em que Creuda se deixou afetar pelo choro. Quando não podia conter a tristeza, buscava uma rede de apoio. Foi assim que encontrou o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas. Mas Creuda é enfática ao dizer que “ainda há muita discriminação, e esses são os momentos em que lembramos que temos HIV. Hoje a gente enfrenta a dificuldade do retrocesso, estamos perdendo conquistas que fizemos.”  

E assim, ela se impulsionou no ativismo. Tudo isso, porque tudo o que ela quer é “que a gente seja tratado por igual. Precisamos de um cuidado especial por termos HIV? Sim. Mas ainda somos seres humanos.”

 

Dica de entrevista:

Credileuda de Azevedo

credileudaazevedo@hotmail.com

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)