A live de terça-feira (20) da Agência Aids reuniu três jornalistas que estão trabalhando em home office por causa da pandemia: Cristina Angelini, que atuou muitos anos como produtora de jornalismo na TV Globo e hoje comanda o Canal Angelini, sobre espiritualidade, no Youtube; Lucas Bonanno, gerente de comunicação da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, que começou sua carreira em jornalismo na Agência; e Maria Carolina Trevisan, colunista de política e direitos humanos do portal UOL e comentarista de política no podcast Baixo Clero.

A jornalista Roseli Tardelli comentou logo de início que ninguém estava preparado para essa situação e que em um ano de covid, morreram mais pessoas que em quarenta anos de aids. E que todos tiveram que se reinventar. Como está sendo a rotina desses três profissionais e como manter a saúde mental durante a pandemia?

Cristina exaltou os benefícios da atividade física, assim como Lucas, que pratica corrida. Ele contou que a Organização Mundial da Saúde listou seis ações sobre o que fazer para não enlouquecer na pandemia, “Uma delas é menos informação, porque tem a ‘infodemia’, para nós jornalistas é um desafio, controlar o acesso à informação. Eu comparo o que vivemos hoje com uma guerra, duas mil e quinhentas, três mil, quatro mil mortes por dia. Tocava o telefone em casa, eu via que era minha mãe e já achava que ela estava ligando pra contar que alguém da família pegou. E a informação vai deixando você mais angustiado. A meditação, por outro lado,  é uma ação que eles indicam para combater isso”.

Angelini disse que assiste apenas um telejornal e acompanha os números, apenas isso. “E faço meditação, ela ajuda muita a colocar você no prumo”. Carolina comentou que precisa fazer alguma coisa, porque a vida dela é cobrir política e violação dos direitos humanos.

Canal Angelini

Quando saiu da TV Globo, após mais de vinte anos produzindo jornalismo, Cristina criou no Youtube o Canal Angelini, que fala sobre espiritualidade. “O meu desafio é falar na frente de uma câmera, eu sempre trabalhei atrás das câmeras, nunca tinha aparecido no vídeo”. Ela contou que faz tudo: produz, conversa com o convidado, grava e aprendeu a mexer com tudo isso. O sobrinho dela edita, faz a vinheta e gerador de caracteres e duas amigas fazem as redes sociais, “Às vezes, até penso em fazer ao vivo, mas o entrevistado nem sempre pode em um horário determinado. Eu espero crescer no canal, ter muitos inscritos e aí vou poder fazer ao vivo. O meu propósito é falar cada vez mais da cultura do encontro, da cultura da paz, entrevistar pessoas de todas as religiões e perguntar como é cada religião. Não é um quiz, mas é um beabá da religião”, explicou.

Cristina contou que aprendeu a cozinhar durante a pandemia, que percebeu que ficava mais saudável consumindo a comida que fazia e que não engordou nesse período, fazendo exercício físico, oração e meditação. Observou que alguns dias são mais difíceis, mas que “ao mesmo tempo é uma boa época para você pensar em você mesmo, para conviver com você.“

A pandemia e responsabilidade social

Questionado sobre suas vitórias durante a pandemia, Lucas revelou que finalizou o livro que estava escrevendo, uma espécie de guia prático para quem deseja praticar com projeto social, principalmente no exterior. “Falo bastante sobre solidariedade no livro. Existem algumas pesquisas que mostram que quando ocorrem catástrofes, problemas locais ou mundiais como está acontecendo agora, as doações momentaneamente aumentam. As pessoas ficam sensibilizadas, principalmente os brasileiros, que são muito emotivos. Mas depois de algum tempo essa ajuda desaparece e as pessoas continuam necessitadas. O Brasil voltou para o mapa da fome, tem gente sem comer. Então, eu comecei a apoiar várias organizações. Acho que a pandemia me trouxe mais profundamente a responsabilidade social que a gente exerce no mundo. Nós quatro somos privilegiados em comparação com a média dos brasileiros, porque a gente não surtou. Quem disser que está cem por cento está mentindo, mas a gente não pirou.”

Lucas, além de ter começado sua carreira em jornalismo na Agência Aids, participou da fundação da Agência Sida em Moçambique, ao lado da jornalista Roseli Tardelli, e morou muitos anos na África.

Mantendo a saúde mental

Carolina relatou que não pode dizer que teve alguma grande conquista durante a pandemia. “Acho que permanecer bem, com a cabeça boa, o trabalho legal, os filhos bem e com saúde, acho que essa é a grande vitória. Não aprendi a fazer pão, não faço ioga, mas vou fazer meditação, porque vocês estão falando e eu estou acreditando que vai melhorar.” Ela disse que o dia a dia dela é uma loucura, acorda muito cedo, faz o café para os filhos, que começam a ter aula às 7h20. Uma vez por semana grava o programa e também tem a coluna no portal UOL. “Tem dias que eu trabalho, doze, quatorze horas e tem dias que trabalho menos. Aí fico mais com os filhos, faço almoço, jantar…Tem dias que eu paro, fico com eles, fui visitar meus pais algumas vezes com distanciamento, eles estão no interior.”

Ela se declarou muito apaixonada pelo jornalismo. Carolina começou a fazer o podcast Baixo Clero em fevereiro de 2020 e no mês seguinte começou o home office. “Era para falar no microfone, não para aparecer no vídeo. Aí tive que fazer um curso de maquiagem, entender como fazer enquadramento em casa, a luz, nada disso eu sabia.”

Aprendizado

Roseli quis saber dos convidados qual tem sido o grande aprendizado durante a pandemia.

Carolina disse que seu grande aprendizado é organizar a agenda dela com tudo o que ela tem que dar conta. “Fazer caber nas 24 horas do dia é um pouco difícil. O trabalho entra em casa, a casa fica uma zona. Eu tento dar uma equilibrada nisso, e o meu desafio do dia a dia, Não quer dizer que eu aprendi, eu estou tentando,”

Para Cristina, o aprendizado é ver o que a gente faz com o tempo. “Quando você está em casa, se você bobeia, o tempo vai passando. Acho que o aprendizado é organizar mais o tempo, não fazer muito uma coisa e menos a outra.”

Lucas acredita que não adianta fazer uma grande programação. “Eu faço quarenta anos no domingo e eu estava planejando uma grande comemoração. Não vai ter festa. É um exemplo bobo, eu estou muito feliz, vou comemorar com minha mãe estou com saúde, estou vivo, mas a gente não tem esse controle. Acho que o aprendizado foi esse, a disciplina para nos controlar, mas o controle da situação a gente não tem e vai ter que conviver com isso.”

Roseli relatou que seu grande desafio é se manter equilibrada, porque adora gente, festa, indisciplina. “Adorava, estou revendo tudo isso aí, estou aprendendo a conviver comigo mesma o tempo inteira, com todo esse desafio de se manter saudável. Acho que o nosso desafio é não perder a esperança com a humanidade.”

Dicas

Para finalizar, a diretora da Agência Aids pediu aos convidados uma dica para ajudar as pessoas a não pirarem na pandemia.

Cristina Angelini:

“Acho que a primeira coisa é ser grata à vida e ser solidário. Se você tem, quando você doa, você se torna uma pessoa melhor. É ter esperança, ser grato pelo que a gente tem, pelo que a gente e poder ajudar os outros, seja de que forma for. Se você não tem dinheiro, empreste seu ouvido, ligue, converse com a pessoa, porque tem muita gente em casa sozinha, deprimida. E nessa conversa, mostre para ela como a vida está difícil pra todos. Portanto, quem tem condição, deve ser grato e, principalmente, ajudar os outros.”

Maria Carolina Trevisan:

“A questão que o Lucas e a Cristina trouxeram da solidariedade, que o Brasil é um país que é um país generoso e solidário, mas é um país que se preocupa com isso não de maneira continuada, a gente não tem uma cultura de doação. Isso é um ponto muito importante, não existe como você sobreviver na pandemia sem olhar para o lado, sem olhar o coletivo, sem entender como as dinâmicas acontecem. Mas a  minha dica é muito mais pessoal para dar conta de poder fazer esse tipo de ação solidária também. Não só pensar no nosso dia a dia, mas a questão da espiritualidade é muito importante. Se você não buscar um equilíbrio espiritual, porque a gente está vivendo um luto contínuo, não tem como ficar bem.”

Lucas Bonanno:

“Como essa live é de jornalistas, eu queria deixar como dica espalhar notícias positivas. Não só notícias, mas histórias positivas que possam ajudar uma pessoa, espalhar informações positivas, não falsas, claro. Às vezes, a pessoa só quer que você quebre um clima, que chegue contando uma história familiar, que você puxe um assunto pra sair daquelas notícias baixo astral.”

 

Mauricio Barreira

 

Dica de Entrevista

Lucas Bonanno

E-mail: lpbonanno@gmail.com

 

Cris Angelini

E-mail: crisangelini@uol.com.br

Youtube: http://youtube.com/CanalAngelini

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Instagram: @canalangelini

 

Maria Carolina Trevisan

E-mail: mariacaroltrevisan@gmail.com

https://noticias.uol.com.br/podcast/baixo-clero/

https://www.uol.com.br/universa/colunas/maria-carolina-trevisan