A Agência Aids apresentou na terça-feira (5) a live que faz parte do projeto “Nós existimos: direitos das trabalhadoras sexuais”, que é executado pela Ecos Comunicação e Sexualidade em parceria com a Anprosex (Articulação Nacional de Profissionais do sexo), a Cuts (Central única de trabalhadoras e trabalhadores sexuais) e a RBP (Rede Brasileira de prostitutas), financiado pelo Fundo Brasil dos Direitos Humanos e coordenado por Elisiane Pasini, Fernanda Priscila Alves da Silva e Juny Kraiczyk. 

As convidadas falaram sobre as contribuições das trabalhadoras sexuais para o fim do HIV/aids. A mediadora Elisiane Pasini abriu a conversa dizendo que “os movimentos sociais sempre foram muito ativos e protagonizaram a política nacional de enfrentamento ao HIV/aids que, por muitos anos,se tornou um exemplo mundial. E as trabalhadoras sexuais sempre se somaram nessa luta, nesse protagonismo, trazendo as questões da sexualidade, do prazer, do estigma, da prevenção. Vocês sempre foram fundamentais. Mas o que a gente vê hoje é que há um grande descaso em relação às políticas do HIV, dois anos que foram difíceis para todo mundo, a gente percebe que o governo tirou o enfrentamento do HIV/aids da sua agenda.” Elisiane ressaltou também que existe um apagamento social das pautas das mulheres nas políticas do HIV/aids.

Lourdes Barreto, prostituta e ativista pioneira em defesa dos direitos das trabalhadoras sexuais, ao lado de Gabriela Leite, contou que as trabalhadoras sexuais começaram a luta contra a aids mesmo antes de fundarem a RBP, apesar do movimento ter surgido nos anos 70. “Eu lembro de uma das primeiras reuniões no Ministério da Saúde mais ou menos em 1985, em Brasília, quando estavam estourando os primeiros casos. Ainda nem havia o Departamento de Aids, aquela história de chamarem ‘grupos de risco’, tanto nós prostitutas como os homossexuais. A gente chegou lá, Gabriela e eu, e aquele pessoal perdido,sem saber o direcionamento, porque naquele tempo era como se nós fôssemos os responsáveis por aquela crise sanitária, por essa pandemia. E nós demos lá uma lição de como nós, trabalhadoras do sexo, poderíamos dar uma grande contribuição para a sociedade em termos de organização política, de enfrentamento à aids,” contou ela.

A coordenadora da Associação de Prostitutas da Bahia (APROSBA) Fátima Medeiros contou que antes da fundação da Associação ela participou de outros projetos de prevenção ao HIV/aids. “Todo mundo está cansado de saber que a APROSBA não veio por causa da aids, veio por causa da violência, mas a nossa primeira atividade foi distribuir preservativos. Porque as companheiras recebiam cinco preservativos por mês dos postos de saúde. Elas iam a locais de acessibilidade aos preservativos que não eram referência para elas e, quando chegavam, diziam  para elas: ‘olhe, aqui é para gays, aqui é para trans, aqui é para quem tem HIV, é para isso, para aquilo…’ Então, elas se sentiam incomodadas. Quando iam aos postos de saúde, tinham que preencher uma ficha enorme, contar quem eram – muitas vezes a gente não queria dizer quem a gente era – e quem não tinha coragem de dizer que era casada, que tinha marido, recebia cinco ou seis. Quem dizia que tinha namorado, recebia um pouco mais e quem dizia que era trabalhadora sexual, muitas vezes era ignorada e ainda recebia um ‘papelzinho de crente. Eu cheguei a receber,” relatou Fátima.

A Associação de Prostitutas do Piauí (Aprospi) surgiu através de uma busca do Ministério da Saúde de fomentar esse movimento no estado do Piauí, explicou Célia Gomes, coordenadora da Associação. “Uma associação de moradores ganhou um projeto do Ministério e começou a dificuldade de juntar 30 mulheres, até porque era um homem quem gerenciava,não entendia nada sobre nós e não podia falar de nós sem nós. Aí me acharam, prostituta e daí começou. Esse projeto só trabalhava HIV/aids, só que passaram 90 dias e acabou o projeto e acabou o dinheiro. Aí as meninas já estavam acostumadas, a gente já ia aos bordéis entregar o preservativo, fazendo roda de conversa falando sobre HIV/aids, mas a gente não se sentia segura para falar sobre isso. Então, pensei que a gente tinha que procurar os órgãos. É quando começa a trajetória da Aprospi, o surgimento de uma associação, de um movimento organizado para as trabalhadoras sexuais dentro do estado do Piauí.’

Assista a live na íntegra abaixo:

https://youtu.be/RY8LjWnSS6w

 

Redação Agência de Notícias da Aids

 

Dica de Entrevista:

 

Juny Kraiczyk

E-mail: junykr@gmail.com

 

Elisiani Pasini

E-mail: lispasini@gmail.com