Há quem diga que o Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp), colegiado que reúne organizações com atuação no campo da aids, direitos humanos e saúde pública no estado, é uma escola de ativismo. Outros o definem como uma família que luta por justiça social. A verdade é que o Fórum é tudo isso e muito mais, é uma iniciativa pioneira e bem-sucedida de controle social em HIV/aids, que tem sido reproduzida em diversos Estados. Pelo menos é o que dizem os ativistas Rubens Duda, primeiro presidente do Fórum, Alberto Andreone, da RNP+Sol de Araraquara, Rodrigo Pinheiro e Carla Diana, presidente e vice-presidente do Foaesp, respectivamente. Eles participaram na noite dessa terça-feira (14) da live ‘Mobilização social e ativismo em rede: a atuação do Foaesp’, da Agência de Notícias da Aids. Em bate-papo com a jornalista Roseli Tardelli, diretora desta Agência, eles relembraram lutas históricas, falaram sobre o atual momento da luta contra aids, resiliência e defenderam mais união e solidariedade em tempos de pandemia.

Fundado em outubro de 1997, o Foaesp, de acordo com Duda, nasceu nos porões da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, ao lado da Casa de Apoio Siloé, na Zona Norte de São Paulo. Hoje, é formado por mais de 100 organizações atuando no nível estadual, regional e nacional principalmente no controle social das políticas públicas, na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), na ampliação de ações de prevenção ao HIV e outras coinfecções e na garantia de direitos das pessoas que vivem com HIV/aids. É também um importante espaço de interlocução com os gestores de políticas públicas. São nas reuniões mensais que são discutidos os encaminhamentos conjuntos que norteiam as deliberações tomadas, sem prejuízo à autonomia de cada organização.

Duda recordou que as primeiras reuniões aconteceram na Rua Antônio Carlos, depois passaram a ser itinerantes. “Foi aí que aconteceu a integração entre casas de apoio e organizações sociais de luta pelos direitos humanos. Fui o primeiro presidente porque o grupo era muito generoso, decidiu que o Fórum deveria ser presidido por uma casa de apoio e lá fui eu como representante do Lar Suzane. Os anos foram passando e as ONGs do interior começaram a participar mais ativamente, inclusive como membros da diretoria.”

Rodrigo Pinheiro contou que caiu na presidência do Fórum de paraquedas. “Estava há dois anos na diretoria, mas não me sentia pronto para assumir a responsabilidade. Foi um desafio manter o trabalho que já tinha sido construído. Fui aprendendo na raça. O Foaesp me ensinou muito sobre movimentos, direitos humanos, a ter um olhar para as questões de vulnerabilidades, o contexto social. Nos últimos anos temos trabalhando também pelo fortalecimento das ONGs do interior, inclusive com representatividade dentro do Foaesp.”

Carla também chegou ao Fórum por acaso. Ela é assistente social e atua contra aids na Associação Prudentina de Incentivo à Vida (APIV), em Presidente Prudente. Conheceu o Foaesp em uma formação de projetos sociais voltados para as ONGs. “A atuação deste fórum é fundamental para a construção de políticas públicas. Me apaixonei pela mobilização. Quando as pautas saem do Estado de São Paulo tem uma repercussão maior.”

Assim como Carla, Alberto admira a atuação do grupo. Ele conheceu o Foaesp em uma das reuniões realizadas em Atibaia. “De todos os Fóruns do Brasil, com suas especificidades, o Foaesp é o Fórum de melhor articulação do Brasil, somos bastante engajados, vamos à luta, não deixamos a peteca cair, nos emocionamos, a gente grita, mas temos o respaldo da Fórum. Não deixamos nada para trás. O Fórum é culpado de uma série de coisas que aconteceram em minha vida, inclusive o meu casamento com o Isaias. ”

Duda aproveitou para elogiar a atuação de grandes pessoas na luta contra aids. “Eu sai mais forte desse movimento, é um movimento feito de pessoas, são pessoas que me ensinaram muito sobre resiliência e agradeço por todo aprendizado.”

Fórum na pandemia

Roseli quis saber de Rodrigo como tem sido a atuação do Foaesp na pandemia. “Nossas reuniões tem acontecido de forma hibrida, mas na pior fase da pandemia não realizamos as reuniões ordinárias. A gente queria entender mais essa pandemia e o impacto que ela vem causando na luta contra aids. As pessoas estão acessando menos os insumos de prevenção, principalmente os preservativos. Temos uma epidemia gigante de sífilis…”

Carla completou que o Fórum continua atuante na pandemia. “Tivemos alguns prejuízos, mas a pandemia nos proporcionou um olhar bacana para as questões das vulnerabilidades. Hoje, estamos envolvendo a assistência social nesta discussão. A pobreza influência muito em todos os aspectos da autonomia humana. A pandemia trouxe essa discussão para dentro das pautas do Fórum. Estamos levando para as ONGs a pauta de acolhimento.”

A live chegou ao fim com o desafio de resumir em uma palavra os aprendizados com a pandemia. Roseli escolheu esperança, Rubens Duda aprendeu a ter mais resiliência. Carla disse que é mais tolerante e Rodrigo finalizou com esperança.

 

Assista a live na íntegra:

 

 

Foaesp publica reportagem sobre Live 

A página oficial do Foaesp na internet também divulgou a live. A homenagem ao Foaesp teve emoção, reencontro, lembrança e o resgate de uma história de luta no campo da aids, dos direitos humanos e da saúde pública no estado. História que começou em 1996.

Mediado pela jornalista e ativista Roseli Tardelli, fundadora da Agência Aids, o encontro contou com as participações de Carla Diana, Rubens Duda, Alberto Andreone e Rodrigo Pinheiro.Rubens Duda foi o primeiro presidente do Foaesp e relembrou a fundação do Fórum, no salão paroquial da igreja Nossa Senhora de Fátima, no Imirim, da relevância do Padre Valeriano e dos primeiros anos de atuação, na prevenção, na assistência e na luta por medicamentos. Duda contou quando as organizações resolveram se juntar em um colegiado para a formação do Foaesp, percebendo “que podiam lutar juntos, coletivamente”, disse.

Carla Diana, da Associação Prudentina de Incentivo à Vida (APIV) e atual vice-presidente do Foaesp, ressaltou a importância das Organizações Não-governamentais do interior do estado. A ativista rememorou quando conheceu o Foaesp, em uma formação sobre a escrita para projetos sociais promovida pelo Fórum, em Ribeirão Preto, e como que este encontro do movimento de luta contra a aids trouxe mudanças para sua vida pessoal e profissional e para a Associação.

O ativista Alberto Andreone, da Ong RNP+ Sol de Araraquara, também relembrou fatos antigos dos primórdios do Foaesp e de sua atuação no movimento de luta contra a aids. Andreone destacou o engajamento do Foaesp. “Não tenho nenhum receio em dizer de toda a importância e engajamento do Fórum, nós vamos à luta, não deixamos a peteca cair, a gente se emociona, grita e se articula com o respaldo do Fórum”, explicou.

Perguntado por Roseli Tardelli sobre aprendizados, Rodrigo Pinheiro, presidente do Foaesp, ressaltou a compreensão dos direitos humanos, das questões de vulnerabilidades e da importância do acesso e do direito à saúde. “Tenho aprendido muito, enquanto movimento, sobre as necessidades e as diferenças das Ongs, sobre aids, tuberculose, hepatites, sobre o olhar para essas populações e todo o contexto social”, disse.

 

 

 

 

Dica de entrevista

Foaesp

Tel.: (11) 3334-0704