Aconteceu nessa quinta-feira (15), o II Comunicaids – Seminário Nacional sobre Comunicação, Aids e Covid-19. O evento online promovido pela ONG Gestos, trouxe uma troca de experiências para obter uma comunicação efetiva na prevenção do HIV/aids, bem como contra o estigma e discriminação. Os participantes desta edição relembraram o histórico de campanhas de prevenção realizadas pelos governos anteriores e analisaram as mudanças na linguagem e ferramentas de comunicação que estão disponíveis hoje.

O primeiro Comunicaids foi realizado em 2005 em parceria com o Fórum de ONGs Aids de São Paulo. Desse evento culminou a produção de um documento contendo recomendações à sociedade civil e ao governo federal sobre como melhorar esta área, fundamental para a política de saúde como um todo.

O diretor do Departamento de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Gerson Pereira, abriu as falas afirmando que comunicação e aids é algo caro e importante para que possamsos pelas pandemia e os desafios de saúde que estamos vivendo.

Ele disse ainda que é necessário fazer uma atualização diante do fenômeno das redes sociais, pois há uma demanda de se trabalhar a potencialidade dos discursos. Como exemplo, ele citou uma campanha de aids que utilizava a voz de uma aeromoça e as pessoas diziam que não pegariam aids porque não viajavam de avião. “Por isso é importante utilizarmos as ferramentos que estão a nosso alcance da melhor maneira possível”, defendeu.

Do Programa Conjunto sobre HIV/Aids das Nações Unidas, afirma que  “não há outra forma de combater o estigma e a discriminação se não for dando voz às pessoas que melhor compreendem esse processo.”

Para ele, há três pontos principais estratégicos para esse enfrentamento: mobilização, informação o engajamento. “Precisamos de informação de qualidade, no tempo certo e adequada a cada público. Estímulo às estratégias de mobilização, e geração de oportunidade de engajamento. A gente tem que ser capaz de propiciar isso, inclusive utilizando os termos das novas formas de comunicação, que tem se tornado um processo complexo.”

Nesse sentido, Renato citou como exemplo a participação de influenciadores em campanhas para aumentar a adesão à PrEP, como o que aconteceu de forma bem sucedida entre a comunidade de fala Mandarin na Austrália.

Os serviços de Aids e Tuberculose na pandemia

Carla Almeida, do GAPA – RS, trouxe informações obtidas através de um levantamento sobre as políticas de tuberculose e HIV durante a pandemia de Covid-19, bem como o impacto nas ações de prevenção e diagnóstico com dessas doenças em meio à pandemia.

Ela explicou que os dados foram coletados por meio de um questionário online contemplando perguntas abertas e fechadas, e mapeando as principais informações referentes a diagnóstico, prevenção e assistência às pessoas em tratamento para o HIV/aids e tuberculose nos capitais dos estados e distrito federal. “A ideia foi montar uma radiografia que fosse bem representativa sobre o Brasil”, disse.

O levantamento falou com gestores, profissionais de saúde e usuários de serviços. Segundo Carla a pandemia de HIV/aids “tem um grande acúmulo de conhecimento sobre enfrentamento de pandemias, mas esse conhecimento foi negligenciado. Apesar das diferenças, temos muito conhecimento em comunicação e estratégias. A gente cometeu agora, inclusive, os mesmos erros, como por exemplo, trabalhar com o conceito de grupo de risco. Na covid-19 a sociedade civil organizada também participou de forma muito incipiente das principais discussões.”

O levantamento mostrou também que 72% dos usuários se informam principalmente pela televisão. e na sequência, pelas redes sociais. Além disso, 28% também buscaram informações em ONGs . “O que signfica então esse número de pessoas buscando referência nas principais organizações de base comunitária? Isso fala muito sobre nosso papel e nossa atuação em meio à pandemia da Covid-19.”

Por fim, Carla compartilhou com todos o depoimento de um usuário dos serviços para HIV/aids. “Faço meu acompanhamento e acho um absurdo eles cancelarem as consultas, nos obrigando a ir para outros serviços em um momento como esse. Na minha opinião, serviços de referência servem para proteger os doentes em questão, não jogá-los à sorte nesse momento tão delicado. Não tem consulta, não tem informação sobre nada nesse momento, logo teremos outras pandemias paralelas.”

Reinventar para resistir

Do GAPA Bahia, Gladys Almeida falou sobre o exercício da criatividade na busca por lidar melhor com o HIV/aids. “Em nossos trabalhos, falamos sobre o que é liberdade de expressão e como ela constitui um pilar da cidadania, lembrando que não podemos usá-la como argumento para ofender e violentar pessoas.”

“Nesse sentido, históricamente vemos os dicursos de ódio em jornais publicado no início da epidemia de aids no Brasil, e hoje esse discurso de ódio é legitimado, então vivemos em um momento de risco intenso. A aids apareceu nos anos 80 como um castigo moral aliado à expressões como, peste gay, cancer cor de rosa, e outros”, lembrou.

Para Gladys a comunicação criativa sobre aids deve ser colocada na perspectiva dos direitos humanos. “A junção das diferentes lutas traz força. Dentro desse olhar interseccional, a gente considera que não é possivel falar sobre HIV/aids sem abordar outras questões sociais como raça e classe, por exemplo.”

“A criatividade está ligada às outras agendas, em outras formas de dialogar com o mundo na busca da igualdade e justiça”, finalizou ao enfatizar a importância de uma comunicação criativa para chamar atenção da mídia e ganhar força na imprensa.

Mudança nas campanhas

“A gente tem percebido que as campanhas estão tão genéricas que elas não servem pra ninguém”, defendeu Beto de Jesus, diretor da Aids Healthcare Foundation. “Elas estão tão genéricas que ninguém se importa mais. Às vezes vejo que fora do país eles não alcançaram o que a gente alcançou no início dos anos 2000, e hoje vejo que nós temos uma dificuldade muito grande em fazer chegar a mensagem.”

“A mensagem tem que vestir como uma roupa, não pode ficar apertada, nem larga. É preciso de uma roupa que caiba nesse corpo, e com a comunicação é da mesma forma”, esclareceu Beto.

“Outro ponto relevante é respeitar qual o modelo de epidemia que temos vigente no país. Se não, acontece o vemos nas campanhas brasileiras, você não sabe quem é o público. Se eu não perceber que o HIV/aids no Brasil está crescendo entre as populações mais pobres, negras eentre Homens que fazem Sexo com Homens (HSH), posso fazer qualquer campanha genérica, e ela não vai surtir efeito”, disse.

Segundo Beto, é preciso em cada material que se produz de forma direcionada a cada população chave. “Eu preciso ter material específico que chegue até HSH, que não é o mesmo que vai chegar nas travestis, por exemplo. Eu preciso de um plano singular de comunicação para cada público. Quando pensamos em ações de prevenção, não posso mais fazer camapnhas falando apenas de preservativo. Nem pra mulheres, nem para heterossexuais.”

Do fundo Positivo, Harley lembrou a efetividade das campanhas nos anos 80,90 e 2000. E como o apoio da mídia, que tem força para atingir um maior número da população foi fundamental para obter resultados positivos.

Valorizamos em nosso editais , projetos que valorizem a comunicação comunitária. É importante dar valor a essa comunicação. ela tem um valor histórico e epidemiológico tamanho. Ela é uma aliada fantástica para fazer o que a gente quer para diminuir o impacto da pandemia da Covid-19.

 

Dica de Entrevista

Departamento de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis

Contato: (61) 3315-3580

Unaids

Site: www.unaids.org.br

GAPA – RS

Telefone: (51) 99420-4592

GAPA – BA

Telefone: (71) 3241-3831

AHF

E-mail: ahfbrasil@aidshealth.org

Fundo Positivo

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)