Capa do álbum “Like a Prayer” de Madonna e folheto alertando sobre HIV/aids

Em 21 de março de 1989, no auge da crise do HIV/aids nos Estados Unidos, a cantora Madonna lançou o icônico álbum “Like a Prayer”, seu quarto trabalho em estúdio, e fez questão de que cada disco viesse com um folheto entitulado  “Os Fatos Sobre a AIDS”, conscientizando seus fãs sobre sexo seguro e pedindo respeito e compaixão às pessoas adoecidas pela doença. “Pessoas com AIDS – independentemente de sua orientação sexual – merecem compaixão e apoio, não violência e intolerância”, dizia o folheto.

O álbum recebeu aclamação universal de críticos musicais e fãs, mas gerou controvérsia justamente por causa desse folheto em que estava escrito “A AIDS é uma doença com as mesmas oportunidades. Afeta homens, mulheres e crianças, sem distinção de raça, idade ou orientação sexual”. Entre as canções do disco estavam presentes “Like a Prayer”, “Express Yourself” e “Cherish”.

“Like a Prayer” abordou temas como perda na infância, abuso infantil, abuso conjugal, direitos das mulheres e espiritualidade. Misturou todos esses assuntos não apenas para fazer o ouvinte pensar e dançar, mas também se fazer perguntas – algumas das quais eram arriscadas de se fazer em 1989. Ainda mais arriscado foi a inclusão do folheto “Os Fatos Sobre a AIDS”, em que dizia “o simples ato de se colocar uma camisinha pode salvar sua vida, se ela for usada corretamente e toda vez que fizer sexo.”

Madonna e seu amigo Martin Burgoyne, vítima da aids

Madonna perdeu vários amigos próximos para a aids ao longo dos anos 80 e 90, incluindo seu melhor amigo e ex-colega de quarto Martin Burgoyne, com quem compartilhou um apartamento no Lower East Side de Nova York antes da ascensão da cantora à fama. Ele gerenciou sua primeira turnê em clubes e desenhou a imagem da capa do álbum “Burning Up”, de 1983, além de aparecer brevemente no vídeo de “Material Girl”. Em agosto de 1986, Burgoyne foi diagnosticado com aids e Madonna esteve ao seu lado durante a todo momento até que viesse a falecer alguns meses depois aos 23 anos de idade. A canção “In This Life”, do álbum “Erotica” de 1992 é uma homenagem a esse amigo.

Confira a tradução do folheto:

“A AIDS é uma doença com as mesmas oportunidades. Afeta homens, mulheres e crianças, sem distinção de raça, idade ou orientação sexual. A AIDS é causada por um vírus chamado HIV. Até o momento, não há dados conclusivos para explicar como a AIDS começou ou de onde veio. Pessoas com AIDS – independentemente de sua orientação sexual – merecem compaixão e apoio, não violência e intolerância.

– Você pode contrair a AIDS fazendo sexo vaginal ou anal com um parceiro infectado.

– Você pode contrair AIDS compartilhando agulhas de drogas com uma pessoa infectada.

– Você pode contrair a AIDS nascendo de uma mãe infectada.

O simples ato de colocar uma camisinha pode salvar sua vida, se ela for usada corretamente e toda vez que fizer sexo.

AIDS não é uma festa.”

A mensagem, embora relativamente simples para os padrões de hoje, foi inovadora. É importante entender o ambiente repressivo no qual o álbum de Madonna chegou em março de 1989, quando ainda se acreditava que a AIDS era uma maldição que Deus determinou à comunidade gay.

Madonna educou milhares de pessoas sobre a aids e o sexo seguro em um momento em que as escolas, a mídia e as instituições políticas e religiosas evitavam o assunto porque ia contra a moral imposta e o status quo. Uma atitude como essa em 1989 poderia facilmente ter acabado com sua carreira, mas Madonna sobreviveu e prosperou confrontando o conservadorismo e, com toda a certeza, ajudando a salvar muitas vidas.

Marina Vergueiro (Marina@agenciaaids.com.br)