A gravidez é uma fase importante na vida da futura mãe, com cuidados especiais e é necessário que a gestante esteja acompanhada em todo o processo ao longo dos meses. Algumas mulheres recebem o diagnóstico positivo para a aids na gravidez e com isso entra o processo chamado transmissão vertical, que passa da mãe para a criança, da qual muitas vezes ocorre durante a gravidez, parto ou até na amamentação. 

A infectologista Keilla Freitas explica que é estritamente importante as gestantes realizarem as primeiras consultas para ter uma definição do futuro da gestação, junto com os atendimentos, é necessário ter teste para HIV/aids e para outras Infecções Sexualmente Transmissíveis também. “É muito sério que as futuras mães procurem fazer as consultas do começo da gravidez, pois é nos resultados que se tem informação do futuro do bêbê e da própria mãe. Muitas não querem fazer testagem por não acreditar que tem aids, mas o status precisa ser conhecido para que não haja problemas no parto.”

Segundo o Boletim Epidemiológico lançado em 2023, de 2000 até junho de 2023, 158.429 gestantes foram diagnosticadas com HIV, sendo 7.943 dessas mulheres foram identificadas em 2022, 90% das mulheres grávidas usam a terapia antirretroviral. 

A infectologista Luísa Andrade diz que as grávidas estão mais informadas do que antes e que por isso, a terapia antirretroviral está ocupando um papel importante na redução da transmissão vertical do HIV. “As futuras mamães estão mais letradas sobre a aids, apesar da surpresa que elas tomam, elas se mantêm interessadas para que não haja problemas na tão esperada gravidez. A terapia antirretroviral pode ser iniciada depois que a paciente tiver as devidas avaliações clínicas, laboratoriais e for liberada para tal uso.”

Segundo a infectologista Keilla Freitas a testagem do HIV deve ocorrer três vezes durante toda a gravidez pois apesar do primeiro teste ser negativo, a mulher pode se infectar em qualquer momento durante os meses da gestação. “O teste é feito no pré-natal, poderá se repetir no terceiro trimestre e também na hora do parto. Não é porque a mulher não tem HIV, que ela não pode ser diagnosticada mais pra frente da gravidez, é preciso que todas as três testagens ocorram de formas certas.”

Dra. Luísa Andrade esclarece uma das maiores dúvidas que existem sobre gravidez com HIV: se o parto pode ser normal ou não. “As gestantes podem ter partos normais desde que a carga viral no sangue venha de forma negativa, pois a transmissão é possível pelo parto por meio das secreções da mãe. O nível para poder fazer o parto é menor que 1.000/ml, maior do que 1.000/ml, é necessário que o parto seja por meio da cesárea.” 

Depois do parto, é importante tanto a criança quanto a mãe receberem acompanhamento, pois o bêbê depende da condição viral da mãe para receber os antirretrovirais. “O acompanhamento no filho é até o primeiro ano e meio, onde a criança receberá temporariamente antirretrovirais para que ela fique de certa forma saudável, pois esses medicamentos podem livrar a criança de ter infecções oportunistas”, continua dra. Luísa. 

Boa notícia

Em 2023, o Ministério da Saúde entregou certificados de eliminação e selos de boas práticas para a eliminação da transmissão vertical de HIV e/ou sífilis a quatro estados e a 73 municípios brasileiros. Os estados de São Paulo e Paraná alcançaram a eliminação da transmissão vertical de HIV e o Selo Bronze em Sífilis. Distrito Federal e Sergipe recebem o Selo Prata para HIV.

Dentre os 73 municípios contemplados em 2023, 45 receberam algum tipo de certificação para o HIV; três deles, algum tipo de certificação para sífilis; e 25 receberam certificado ou selo duplo para HIV e sífilis. O município de Toledo, do Paraná, recebeu a eliminação dupla de HIV e sífilis. Ao todo, 90 municípios e quatro estados solicitaram a certificação. Na comparação com 2022, houve um aumento de 70% no número de cidades certificadas.

Dra. Luísa Andrade celebra a conquista histórica e diz que isso é mais do que uma vitória, é o sinal de que a saúde está contemplando as futuras mães e as crianças. “O Brasil está no caminho certo, isso é mais do que somente uma conquista, é uma forma de sabermos que tanto a futura mãe quanto o futuro filho estão sendo vistos e cuidados pela saúde e pela informação. Importante falarmos para todos que existe o fim da transmissão vertical.”

Transmissão Vertical – Um Assunto Proibido

Em dezembro de 2023, a Agência de Notícias da Aids lançou a websérie “HIV 40 anos, Aids e Suas Histórias: Transmissão Vertical – Um Assunto Proibido”. O filme revive os desafios da transmissão vertical do HIV no Brasil a partir da memória de pessoas que estiveram na linha de frente contra a aids, como é o caso da Dra. Marinella Della Negra, responsável pelo atendimento de crianças vivendo com HIV no Instituto de Infectologia Emílio Ribas e Maria Cristina Abbate, que está a frente da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo.

Ao todo a websérie terá 6 episódios, o primeiro – um compilado de toda a série -, narra a história de quatro pessoas que vivem com HIV via transmissão vertical (da mãe para o bebê). Elas nasceram na década de 1990, nos primeiros anos da epidemia de aids no mundo: Marília Nascimento, Jennifer Besse, Gugãa Taylor e Diego Vieira.

Um a um, os personagens relatam como descobriram o diagnóstico, os desafios de viver com HIV na infância, adolescência e juventude e a luta diária contra o estigma e o preconceito. São histórias de superação e força. Momentos de apreensão, revolta e ressignificação da vida.

 

Lygia Cavalcante

 

Dicas de Entrevista

Dra. Keilla Freitas 

Email: faleconosco@drakeillafreitas.com.br

Dra. Luísa Andrade

Linkedin: Luísa Andrade