O remédio contra o HIV maraviroc pode ter um efeito inesperado: além de reverter os déficits cognitivos causados ​​pelo vírus da aids, ele pode ajudar a restaurar a perda de memória na meia-idade. É o que sugere um estudo realizado em camundongos idosos, publicado na última quarta-feira (25) na revista científica Nature.

O maraviroc atua na proteína CCR5, um receptor localizado na superfície dos glóbulos brancos. Quando o HIV se conecta a uma proteína desse tipo, ele pode entrar na célula e se replicar, gerando perda de memória em quem tem aids. Porém, se a droga chegar primeiro, a entrada do vírus é bloqueada.

Em 2019, pesquisadores que trabalhavam com camundongos descobriram que o fármaco também pode auxiliar neurônios a fazer novas conexões após um derrame. No novo estudo, cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos Estados Unidos, usaram um pequeno microscópio para averiguar o cérebro dos roedores, descobrindo um mecanismo-chave do medicamento para vincular memórias.

Observou-se que o aumento da expressão do gene que codifica o receptor CCR5 no cérebro dos roedores afeta a memória. O maraviroc deleta geneticamente esse receptor, logo, o remédio pode atuar contra o déficit cognitivo.

Passagem do tempo

Conforme a pessoa envelhece, a quantidade de CCR5 aumenta no cérebro, reduzindo a chance de se recuperar a memória. Devido à presença do receptor, os roedores esqueceram uma conexão que tinham entre duas gaiolas durante o experimento. Quando os cientistas removeram o gene que codifica essa proteína, os camundongos fizeram ligações de lembranças que normalmente não conseguiriam.

“Quando demos maraviroc a camundongos mais velhos, a droga duplicou o efeito de deletar geneticamente o CCR5 de seu DNA”, explica Alcino Silva, um dos principais autores da descoberta, em comunicado. “Os animais mais velhos foram capazes de vincular memórias novamente.”

É possível que o remédio possa servir não só para fortalecer a memória humana na meia-idade, mas que se torne um tipo de prevenção para a demência. “Nosso próximo passo será organizar um ensaio clínico para testar a influência do maraviroc na perda de memória precoce com o objetivo de intervenção precoce”, conta Silva.

Fonte: Revista Galileu