Dia 29 de janeiro é comemorado o Dia da Visibilidade Trans, data criada em 2004 com o intuito de promover reflexões e estimular o desenvolvimento de políticas públicas que garantam o respeito a essa população. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos, número que representa menos da metade da expectativa de vida média da população brasileira, que é de 76 anos. 

Quando se pensa na longevidade da população trans, existe uma série de desafios e demandas a começar pela sobrevivência.  O Brasil é o país que mais mata trans no mundo. Só em 2020, foram registrados 175 assassinatos. Até o dia 29, a Antra divulgará o relatório com os dados referentes ao ano passado. Além disso, 90% da população T está em situação de prostituição. Esse número reflete a falta de oportunidades no mercado de trabalho para esse grupo. 

A Agência Aids conversou com algumas pessoas trans que desafiaram as estatísticas, ultrapassaram a barreira dos 35 anos e estão envelhecendo com saúde. Conheça hoje, Debrah Silviê Arcanjo Silva.

 

Debrah Silviê Arcanjo Silva

Debrah Silviê Arcanjo Silva nasceu em Santo André, estado de São Paulo e tem hoje 50 anos. Ela trabalhou como balconista e também com contabilidade por 23 anos. Hoje, por causa da pandemia, está desempregada e faz parte do Transcidadania, uma iniciativa da cidade de São Paulo que tem como proposta fortalecer as atividades de inclusão profissional, reintegração social e resgate da cidadania para a população de travestis, mulheres transexuais e homens trans em situação de vulnerabilidade.

Debrah começou a se identificar como mulher ainda criança e sofreu muito bullying até fazer a transição para ser uma “mulher completa”, em suas palavras. Ela resolveu esperar até os 30 anos para iniciar a transição. 

 “Eu estava dentro de um corpo ao qual eu não pertencia. Eu tirei um pouco de letra, porque eu sabia que se eu mudasse radicalmente cedo, teria muitas consequências na minha vida, porque eu cheguei a ver pessoas que se tornaram travesti quando eu tinha 14 anos e o preconceito naquela época, nos anos 80, 90, era muito triste.”

Mesmo assim, ainda adolescente gay e com trejeitos femininos, Debrah ouviu muitas coisas de sua família que a machucaram. A partir da transição, a relação melhorou e ela não teve problemas ao começar a assumir sua identidade de gênero completamente.

Já no ambiente profissional, Debrah foi trabalhar em um escritório de contabilidade e teve que se impor para ter o respeito dos seus colegas. “No começo, era gozação, Eu trabalhei com pessoas mais velhas. Depois, eles começaram a me elogiar, me disseram que não sabiam que a gente era assim”.

A decisão de fazer a cirurgia de redesignação também veio mais tarde, aos 48 anos.

Debrah se sente muito bem, física e espiritualmente, e cuida da saúde. “Meu mal é tomar muito café”, conta. Evita comidas gordurosas, come pouca carne, não fuma, não bebe, come muitas frutas, toma muita água e cuida da pele com cremes. Caminha diariamente com seus cachorros.

”Envelhecer como mulher trans, é envelhecer com liberdade, sendo você mesmo, uma mulher por dentro. Envelhecer é ser eu, é a minha essência, é ser quem eu sou. Eu não tenho medo da velhice, podendo ser quem eu quero ser.”

 

Mauricio Barreira

 

Dica de Entrevista

 

Debrah Silviê

 

E-mail: debrahsilvie@hotmail.com