No Roda Viva desta segunda-feira (30), o biólogo Atila Iamarino falou sobre a pandemia do coronavírus. Doutor em microbiologia pela USP, com pós-doutorado em Yale, ele se tornou referência não apenas pelo conhecimento que detém, mas pela clareza com que o transmite. Para ele, “se não forem tomadas as devidas providências, o mundo vai enfrentar um cenário de apocalipse.”

Fundador da maior rede de blogs de ciência do país, o Science Blogs Brasil, Iamarino alerta que o Brasil precisa parar e só devem ser mantidas as atividades essenciais. “A covid mata de dez a vinte vezes mais que o vírus da gripe comum, hospitaliza de dez a vinte vezes mais pessoas que a gripe comum, então ela satura o sistema de saúde muito rapidamente, ela pode se transmitir para duas a três pessoas logo em seguida, isso é mais viral que memes na internet, que normalmente se espalham para duas pessoas ou menos, em média. E ela consegue fazer isso em questão de dias, então ela é muito preocupante por isso”, disse.

A respeito da estratégia do presidente Jair Bolsonaro em defender o “isolamento vertical”, quando somente grupos de risco ficam em circulação reduzida, o especialista diz que só no futuro o resultado disso poderá ser verificado. “Hoje nós só temos um país que não está fazendo nada, que é a Bielorrússia. Nós vamos ver se quem está certo é um único país no mundo ou o que os estados brasileiros estão fazendo. Só lavar as mãos com vodka não adianta. Tem que ser com água e sabão”, disse. “A gente está em uma casa pegando fogo. Hoje não importa se o governo é de esquerda ou de direita. Nós precisamos evitar que vidas sejam perdidas”, disse.

Para Átila, a ausência de investimento do Brasil na ciência é preocupante. “O país está parado uma fase de não investir na ciência nacional. Isso não é uma coisa de agora. É uma coisa que vem de longa data. Nós temos pessoas que estão preparadas para fazer testes, mas que descobriram recentemente que tiveram suas bolsas científicas cortadas”, afirmou.

Nesse sentido, o biólogo diz que não há como saber até quando as medidas de isolamento deverão ser seguidas nem quando uma vacina será criada contra o coronavírus. “A gente tem que se preparar para uma economia diferente e um modelo de sociedade que as pessoas não se aglomerem tanto”.

“Cada cidade é um foco. Quando a gente pensa na situação da Itália, a situação na Itália é a Lombardia. A situação na China é Wuhan. Aqui no Brasil a gente tem o potencial de cada cidade virar uma Lombardia se não for monitorada. Quando falo em estado de São Paulo, tem Campinas, Ribeirão Preto, Bauru, toda a grande São Paulo, Santos, muitas metrópoles que podem passar por um problema parecido. Então, a gente precisa desse tipo de resolução espacial, além da temporal, para fazer esse tipo de predição.”

 

Redação da Agência de Notícias da Aids