Há dois anos, no dia 30 de janeiro de 2020 o diretor geral da Organização Mundial da Saúde Tedros Adhanom declarou a Covid- 19 como pandemia. Nestes 24 meses o mundo alcançou oficialmente 365 milhões de casos, 5,64 milhões de mortes e 10 bilhões de doses de vacinas, aplicadas na população não igualitariamente em populações de todo o planeta, segundo informações da própria OMS. O Brasil registra mais de 224 mil infecções e 570 mortes em um dia. No total, já são mais de 624 mil óbitos e 24,5 milhões de infectados.

A Agência de Notícias da Aids conversou com pessoas que vivem com HIV e se infectaram com a Covid para entender o impacto gerado em suas vidas ao conviver com as duas infecções. Para abrir essa série confira, primeiro, a vivência da ativista Fabiana Oliveira e como ela está enfrentando o prolongamento da pandemia.

Para ela, que é do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, a pandemia do coronavírus “chegou como uma forte tempestade em nossas vidas. Num primeiro momento parecia algo distante. Apesar de todas as recomendações nos noticiários dizer ‘fique em casa’ e ‘usem máscaras’, levei um tempo para perceber que o vírus não estava apenas nas grandes capitais, aqui no interior demorou um pouco, mas ele chegou, mudando completamente a dinâmica da minha vida.”

Fabiana precisou se reorganizar dentro de sua rotina que inclui a coordenação do MNCP, aprender a lidar com a internet, além de intensificar os cuidados que desempenhava à sua mãe idosa e, ainda, enfrentar o luto por sua partida. “O isolamento foi um processo de reorganização que, por vezes, me senti desamparada, perdida e angustiada com o cenário que se apresentava. A rotina se tornou pesada, me dividindo entre o trabalho doméstico, cuidados com minha mãe idosa e doente e, ao mesmo tempo tendo que me reinventar para dar continuidade ao trabalho no ativismo, que passou a ser no estilo “home office” com infinitas reuniões. Tudo novo para quem não tinha nenhuma intimidade com a internet.”

Somou-se às suas preocupações o fato de as pessoas com HIV terem sido classificadas como grupo de risco. “Fiquei bem preocupada. Afinal, tinha que dar continuidade ao meu tratamento. Apesar de eu estar com o HIV controlado, tenho outras comorbidades que estão no grupo de risco como a obesidade, pressão alta, diabetes e, também, já passei dos 50 anos.”

 

Infecção por Covid

Foi em janeiro de 2022 que Fabiana recebeu um novo diagnóstico, dessa vez o de Covid-19. Após sentir os primeiros sintomas, principalmente dor de garganta, ela logo desconfiou. “Quando comecei a sentir a garganta raspando, logo suspeitei que estaria com Covid. Imediatamente redobrei os cuidados em casa com uso de máscara e higienização das mãos e superfícies. Acho que fiquei meio neurótica com a limpeza. Também, não sai para mais nada, isolamento total.”

Cinco dias após os primeiros sintomas, Fabiana fez o teste. Com o resultado positivo, começou a monitorar todos os sintomas e ficar atenta a qualquer sinal de agravamento da infecção.  

“Nestes primeiros dias só sentia a garganta e uma forte dor na coluna lombar, o que não me preocupou tanto porque essa dor lombar é quase frequente. Até então estava tranquila, mas a partir do sétimo dia a tensão e a ansiedade tomou conta”, lembra.

Para Fabiana, o acolhimento que sempre teve no SUS também foi decisivo na hora de encontrar suporte no enfrentamento à Covid-19. “Comecei a tossir e sentir fortes dores de cabeça e no peito. Tenho que ressaltar aqui um grande diferencial, que infelizmente não é privilégio de muitas pessoas em tratamento do HIV. Tenho um médico infectologista (do SUS) muito atencioso que ao longo destes 24 anos me tratando, tornou-se um grande amigo. Sempre que preciso recorro a ele e, neste momento, não foi diferente. Pelo whatsapp, acompanhou meus níveis de oxigênio do sangue três vezes ao dia, trocou meu antibiótico evitando uma pneumonia, me deu todo suporte que precisei”, disse ela que 14 dias em isolamento total.

Sua saúde mental também precisou de apoio durante este período. “Por vários momentos me senti triste e preocupada. Em alguns momentos até com raiva pela situação toda que estamos vivendo. Tive muito apoio, mesmo que distante, das minhas companheiras de luta do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas e de amigas(os) do movimento aids. Foram muitas as mensagens de carinho, orações e palavras de motivação. Me senti abraçada em todo o momento.”

Vacinação

A ativista tem clareza sobre o papel da vacinação, responsável não apenas por impedir novas infecções por Covid, mas também para fazer com que uma possível infecção chegue no corpo de forma mais branda.  “Reforço aqui a importância de estar vacinada. Até agora, as vacinas têm se mostrado ótimas na prevenção de doenças graves e, essa proteção é tão importante porque evita que a maioria das pessoas infectadas sejam hospitalizadas e morram”, disse ela que conta com as três doses da vacina.

Com a superação de mais esse desafio de saúde, Fabiana segue otimista e espera que, em breve, o momento de dificuldade que o planeta vive em relação à pandemia, vai melhorar.

“Estamos vivendo um tempo difícil, mas acredito que vamos superar. Enquanto isso, vamos buscar encontrar conforto e segurança. Vamos continuar ligando para as pessoas que amamos, vamos continuar fazendo nosso ativismo, lutando por nossos direitos, cuidando do nosso corpo e nossa saúde mental e, lembrando que este é um ano de decisão política extremamente importante. Portanto, vamos exercer a soberania cidadã com voto consciente e com atenção redobrada para o candidato que escolhemos. Logo tudo isso será passado.”

 

Dica de Entrevista 

 

Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas

Site: https://mncp.org.br/