A discussão sobre PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV), PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), PrEP sob demanda, DoxiPEP e Monkeypox, tomou o auditório do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo, na manhã desta sexta-feira (5), durante o 16º Hepatoaids, um dos principais congressos nacionais de divulgação científica sobre HIV/aids, hepatites virais, tuberculose e covid-19, com ênfase em saúde pública.

Neste primeiro bloco do evento, especialistas ministraram sobre os respectivos temas para profissionais de saúde, – entre eles, médicos, enfermeiros, biomédicos, gestores e profissionais da comunicação, entre outros. A primeira a palestrar foi a Dra. Denise Lotufo, infectologista gerente da Assistência Integral à Saúde do CRT DST/Aids de São Paulo.

Ela explicou a prescrição da PrEP, para quais grupos a mesma é recomendada, que são as pessoas que tenham relação sexual com frequência menor do que duas vezes por semana ou aquelas que consigam planejar quando o sexo irá ocorrer; mencionou a diferença entre a PrEP diária e a PrEP sob demanda, além de ter abordado o estudo Ipergay, e como este ensaio chegou no desenvolvimento da profilaxia de prevenção disponível hoje no Sistema Único de Saúde (SUS), além de  ter abordado questões importantes do PCDT de PrEP.

Já PrEP sob demanda, explica que é indicada para homens cisgênero (que se identificam com o gênero atribuído ao nascimento), independentemente da orientação sexual, também para travestis e transexuais que não estejam em terapia hormonal com estradiol.

“A PrEP diária também é para mulheres cis e isso deve ser destacado sempre, para que as mulheres não pensem que não podem utilizar a estratégia”, frisou dra. Denise Lotufo em uma das suas falas.

Proteção

Desde que a PrEP foi implementada oficialmente no SUS (Sistema Único de Saúde), em 2017, elas vem sendo amplamente divulgada e recomendada pelos profissionais médicos como método preventivo à infecção pelo HIV, sobretudo para populações mais expostas ao vírus, como é o caso de HSHs (homens que fazem sexo com homens), pessoas trans e travestis, e profissionais do sexo, em razão da sua boa efetividade. E foi exatamente isto que o médico infectologista Dr. Ricardo Vasconcelos fez questão de abordar em sua fala. Entretanto, o doutor relembrou que esta profilaxia não protege das demais ISTs, e sim somente do HIV.

“Na nossa mandala de prevenção combinada, quando olhamos para sífilis, gonorreia e clamídia, há somente duas estratégias: o uso do preservativo nas relações, que realmente é ótimo para quem utiliza, e o rastreamento diagnóstico e tratamento dessas ISTs, quando feito de forma adequada”.

“A Austrália está mostrando para a gente que quando se reestreia e trata as ISTs, o número de casos de clamídia cai”, comentou.

Segundo dr. Ricardo, a preocupação da população em relação a não proteção da profilaxia do HIV contra outras infecções, é plausível. Nesse sentido, o especialista trouxe em sua fala o conceito da DoxiPEP, uma nova forma de prevenção às ISTs bacterianas: sífilis, gonorreia e clamídia, que promete com a tomada de apenas um antibiótico até 72 horas após relação sexual, revolucionar a resposta mundial contra essas infecções.

Apesar de não se saber ao certo ainda sobre a viabilidade e potenciais impactos da implementação desta tecnologia farmacológica como política de saúde, especialmente no Brasil, alguns estudos feitos em diferentes partes do mundo já evidenciaram que o antibiótico tem boas chances de, inclusive, contribuir para o alcance da meta 90-90-90, traçada pela ONU.

Vale lembrar que esta meta desafia os países a eliminar as ISTs/aids enquanto problema de saúde pública global, reduzindo seus casos em 90% até 2030.

Por outro lado, Rico compartilhou que pesquisadores têm mostrado receio em relação à profilaxia, já que, eventualmente, pode gerar desenvolvimento de resistência bacteriana, fenômeno conhecido já há algumas décadas pela literatura médica.

A resistência bacteriana diz respeito à capacidade de os microrganismos entrarem em mutação e resistirem à ação dos medicamentos antibióticos.

Qual o futuro da DoxiPEP? Essa tecnologia somará a mandala da prevenção combinada que já conhecemos? O Dr. Ricardo Vasconcelos entende que as respostas para essas perguntas só chegarão com o tempo. A DoxiPEP segue sendo estudada pela comunidade científica. Em tempo, afirmou ao público que continua valendo a prevenção combinada.

Linha de cuidados

Por fim, uma conversa sobre linha de cuidados e tratamento do HIV no Brasil, e reafirmação das políticas transversais de combate à aids ganharam espaço.

A temática sobre saúde e social ficou por conta de Ronaldo Campos, que está a frente da coordenação de assistência do Departamento de Departamento de HIV/aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde.

Ronaldo começou afirmando que esforços múltiplos têm sido priorizados para reconstruir as políticas nacionais de aids. Entre as priorizações, elencou como objetivos centrais: reduzir a mortalidade em pessoas vivendo com HIV/aids, TB/HIV e diagnóstico tardio; combate ao estigma e preconceitos e desigualdades sociais; ampliar diagnóstico e início oportuno de TARV (Terapia Antirretroviral); qualificar informações estratégicas no Brasil; melhoras a qualidade de vida.

Ele mencionou dados que informam que mais de 1 milhão de brasileiros vivem hoje com HIV/aids em todo o território nacional, 899 mil (90%) têm diagnóstico, mas 101 mil não conhecem seu status sorológico. Ainda destacou que mais de 730 mil (82%) estão em tratamento e 695 mil (95%) com carga viral indetectável.

“Pessoas negras, a população de baixa renda… têm sido as maiores afetadas. O maior percentual de pessoas vivendo com HIV/aids com diagnóstico tardio está entre pessoas com menor escolaridade”, destacou e finalizou:

“Precisamos considerar os determinantes sociais para subsidiar adoção de estratégias, trazer políticas de renda e acesso; propiciar ferramentas para intervenção nos gaps (lacunas) na linha de cuidado; inovar na resposta à epidemia de aids; fazer monitoramento e prevenção ao HIV e ter uma política sempre ancorada nos direitos humanos, no combate ao estigma e preconceito”.

O Hepatoaids termina neste sábado, 06 de maio. O evento conta com o apoio dos Programas estaduais e municipais de DST/aids e hepatites virais, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Hepatologia.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Hepatoaids

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