Na América Latina e Caribe, segundo dados da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), mais de 2,1 milhões de pessoas vivem com HIV/aids, dessas, 1,6 milhão (76%) sabe que tem o vírus.

Na avaliação da agência da ONU, o conhecimento do estado sorológico para o HIV, combinado à ampliação do acesso ao tratamento antirretroviral, levou a uma queda de 12% nas mortes relacionadas à aids na América Latina nos últimos 7 anos. No Caribe, o índice foi ainda mais alto, 23%.

Apesar dos progressos, a taxa de novas infecções por HIV na América Latina permanece inalterada em cerca de 100 mil por ano – uma redução de apenas 1% desde 2010. O avanço no Caribe foi muito mais rápido, com uma diminuição de 18% nas novas infecções desde 2010.

Quando consideradas as duas sub-regiões, um terço das pessoas com HIV só é diagnosticado após ficar doente e sintomático, quando sua imunidade já foi seriamente comprometida e após a exposição de seus parceiros sexuais à possível transmissão do HIV.

A maioria das novas infecções nas Américas ocorre entre gays e homens que fazem sexo com homens, que representam 41% dos novos casos de HIV na América Latina e 23% no Caribe. Profissionais do sexo e seus clientes, mulheres transexuais e pessoas que fazem uso de drogas injetáveis também são desproporcionalmente afetadas pelo HIV.

Por isso, a Agência de Notícias da Aids preparou uma série especial com relatos de seis mulheres de diferentes regiões da América Latina sobre suas realidades enquanto pessoas que vivem com HIV bem como os desafios nos países em que vivem.

A primeira reportagem é a respeito do Panamá. Confira:

“No Panamá vivemos a situação do desabastecimento de medicamentos, não há remédios”, desabafa a ativista do Movimento Latinoamericano e do Caribe de Mulheres Positivas, Lorna Kelly. Ela também conta que, em seu país, há muitas empresas que continuam pedindo o teste de HIV para conceder uma vaga de emprego, apesar de ser proibido.

Essa realidade encontra respaldo no pouco acesso à informação. De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), o Panamá passou a oferecer tratamento gratuito a todos que vivem com HIV apenas em 2016. E a primeira campanha para incentivar a população a fazer o teste foi ao ar em 2015.

Também em 2016, o país registrou 1300 novos diagnósticos de HIV e quase mil pessoas morreram em decorrência da aids. Segundo o Unaids, a principal via de exposição ao vírus é sexual, especialmente entre os homens que fazem sexo com homens, que são uma das populações mais atingidas no Panamá, com prevalência de 13,06%.

A prevalência entre travestis e mulheres transexuais, com 15%. Entre pessoas privadas de liberdade, a prevalência é de 6,4% e dentre as profissionais do sexo, é de 2%.

Nesse sentido, a discriminação e preconceito ainda estão presentes principalmente em ambientes como escolas e no mercado de trabalho. “As mães dos amigos de meus filhos diziam: ‘cuidado que a mãe deles tem aids’”, relata Lorna que, para evitar que os filhos continuassem a sofrer com o preconceito, foi até a escola ministrar palestras sobre prevenção ao HIV/aids.

O acesso à educação também encontra barreiras, o índice de analfabetismo é de 6,6% e a taxa de mortalidade infantil é de 17 óbitos a cada mil nascidos vivos. Desde 2010, novas infecções por HIV aumentaram em 9% e as mortes relacionadas à aids em 20%. Para uma população de aproximadamente 4 milhões, o Panamá tem 21 mil pessoas vivendo com HIV/aids, com prevalência de HIV entre os adultos de 0,8%.

Luta por acesso a direitos básicos

“As mulheres no Panamá somos muito invisibilisadas. Mas dentro do movimento latinoamericano esperamos ser muito mais. Nos envolvemos com esta temática para aprender a nos questionar, a lutar, a melhorar nossa qualidade de vida, a ter oportunidades. Não é porque vivemos com HIV que não vamos ter direito a oportunidades. Por isso, esperamos, através do movimento, fortalecer nossa capacidade.”

Lorna também relata discriminação diante de profissionais de saúde quando foi fazer uma colonoscopia para investigar um tumor no intestino. “Quando disse que tinha HIV já estava com a sonda, com tudo preparado e disseram que eu não faria mais o exame. Respondi que aquela profissional estava tirando um direito meu, que eu estava evitando um câncer. Então perguntei quem era a chefe, e me disseram que a próxima profissional me atenderia.”

Situações como essa são, segundo Lorna, comuns no Panamá. Por isso, seu trabalho é fazer do ativismo, uma oportunidade de transformar a discriminação que sofre em soluções para outras mulheres soropositivas. “Sempre digo que se não vão me atender, vou fazer uma denúncia. Eu sou uma ativista, se não atendem a mim, que luto pelos direitos, imagine as outras mulheres.”

Mais números

  • Índice de prevalência entre adultos de 15 a 49 anos: 0,8%
  • Adultos com 15 anos ou mais vivendo com HIV: 21 mil
  • Mulheres com 15 anos ou mais vivendo com HIV: 6.200

 

Redação da Agência de Notícias da Aids