Faltam preservativos em vários centros de saúde de Belo Horizonte. Em alguns, os estoques estão zerados há três meses. A escassez é provocada por problemas na distribuição pela empresa responsável. O risco maior é o comprometimento da prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Na capital, 1.517 casos de Aids foram notificados desde 2015.

O fornecimento irregular também prejudica municípios do interior. Em Minas, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que há desabastecimento. Conforme a pasta, 3,3 milhões de camisinhas deveriam ser recebidas a cada 30 dias. O Ministério da Saúde disse que o envio deve ser retomado ao longo de setembro.

Vazias

Nos postos de saúde de BH, apenas caixas de preservativos vazias são encontradas. A equipe do Hoje em Dia identificou a falha em 17 locais de todas as regionais, com exceção de Venda Nova. O prejuízo, no entanto, não é apenas para os usuários.

“Todas as meninas estão tendo que comprar camisinha para trabalhar. Assim, além do aluguel do quarto, tem mais esse gasto. A gente acaba tirando 50% de tudo que foi arrecadado no dia para pagar dívidas”, diz a coordenadora-geral da Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig), Cida Oliveira.

Ela e outras mulheres são beneficiadas pelo programa BH de Mãos Dadas contra a Aids, da ONG Associação Cidadãos Posithivos-Acp Sempre Viva. O projeto distribuía, mensalmente, 11.200 proteções para mais de 6 mil pessoas em BH. O grupo também faz a entrega de 5 mil unidades para cidades da Grande BH. Moradores de rua e famílias em situação de vulnerabilidade social também são atendidos.

“Trabalhamos com a prevenção dessa população que chamamos de ‘chave’, porque estão na zona de risco das doenças. Com a falta, aumentam as chances de infecção”, afirma a assistente social Rose Campos, que coordena o programa.

Riscos

Professora do Departamento de Ginecologia da UFMG, Sara de Pinho reforça que tratar uma enfermidade, como a aids, é mais caro que fornecer preservativos. “Uma vez que o adolescente vai ao posto e não encontra a camisinha e começa a vida sexual sem proteção, ela pode se contaminar com uma infecção sexualmente transmissível e pode se tornar um vetor de doenças”, disse.

Além do perigo das ISTs, a especialista acrescenta que a situação prejudica o planejamento familiar. A docente destaca que um dos principais objetivos da camisinha é a prevenção da gestação não planejada.

Em nota, a Secretaria de Saúde de BH informou que, desde junho, não recebe a cota destinada e “para suprir a demanda, até o momento, as unidades de saúde utilizam o estoque interno”. Já a SES disse que encaminhou vários e-mails às regionais e serviços vinculados para avisar sobre a indisponibilidade.

O Ministério da Saúde garantiu que as providências cabíveis quanto aos atrasos estão sendo tomadas. Também por meio de nota, a FBM Indústria Farmacêutica, responsável pela distribuição, informou que não conseguiu cumprir o prazo “devido à burocracia, pois a fornecedora é empresa localizada na Índia”. Segundo a FBM, foram entregues seis parcelas de preservativos (422 milhões), restando duas. A distribuidora acredita que o “fornecimento será imediatamente retomado”.

Fonte: Hoje em Dia