As profissionais do sexo tailandesas ficaram surpresas quando descobriram que estavam entre o grupo selecionados para tomar PrEP, a Profilaxia Pré-Exposição. “Não acreditamos que se as profissionais do sexo estiverem protegidas, o restante da população também estará”, diz Thanta Loavilawanyakul, da ONG CM Empower Foundation, ao explicar porque a profilaxia, da maneira como tem sido implantada, reforça o preconceito já existente em torno da profissão.

“Azul será a nova cor do estigma! Enquanto a PrEP for apenas um pequeno grupo de pessoas, haverá mais discriminação”, diz Thanta em referência à cor do comprido, durante a mesa “Empoderar Tailândia: PrEP para mulheres e trabalhadoras sexuais”, que aconteceu manhã desta segunda-feira (23), na Conferência Internacional de Aids em Amsterdã. 

A princípio, o espanto das profissionais do sexo advém do fato de que na Tailândia, a maioria dos casos de HIV acontecem dentro da população de homens que fazem sexo com homens e em famílias heterossexuais. Mas o questionamento não pára por lá. A ativista Betania Santos, da Rede Brasileira de Prostitutas, afirma que “não há clareza sobre os efeitos da PrEP nas profissionais do sexo. Não aceitamos fazer parte dos estudos porque acreditamos que a saúde tem que ser integral para toda a população, não apenas para os grupos chaves. Não aceitamos trabalhar com a pesquisa da PrEP porque sabemos que somos vulneráveis, mas pensamos na comunidade como um todo.”

Betania afirma que a profilaxia foi criada para homens que fazem sexo com homens, uma vez que as trabalhadoras sexuais foram excluídas das pesquisas e não têm acesso às informações sobre a pílula azul. “A PrEP para as trabalhadoras sexuais não é uma realidade porque não concordamos. Além disso, acreditamos na prevenção como um todo. Não trabalhamos apenas com a prevenção do HIV/aids, mas com todas as outras Infecções Sexualmente Transmissíveis.”

Descriminalizar para prevenir

“Se você não garante o direito de uma profissional do sexo controlar sua própria vida, não vai conseguir fazer com que ela tome uma droga todo dia. E se ela for para a cadeia? A realidade na Tailândia é que elas são presas e os remédios são confiscados. Trata-se da escolha de se fazer o que quiser com seu corpo. Cada trabalhadora do sexo deve ser empoderada para poder fazer essa escolher por si”, afirma Thanta.

Para ela, independente das condições de trabalho, é preciso que as profissionais tenham sua própria voz e se fortaleçam, ainda que o trabalho seja ilegal. “Sexo é sexo seja na Tailândia, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. Trabalhadoras sexuais são trabalhadoras sexuais, mas as condições mudam. É preciso desenvolver políticas e estudos.”

Na maior parte do mundo, as camisinhas ainda são preferência das trabalhadoras sexuais porque, apesar da difícil negociação com clientes, elas sentem que o preservativo é mais seguro, mais acessível, barato além de terem mais informações a respeito.

Na Conferência Internacional de Aids, as representantes de profissionais da Tailândia trouxeram perguntas como: homens e mulheres precisam da mesma dosagem? O que acontece se você deixar de tomar a pílula por um dia? Pode ingerir álcool enquanto se usa a PrEP? Tais questionamentos evidenciam que “chegaram com a droga e alguns números, nada além”, como coloca Thanta. “As pessoas têm uma ideia de que PrEP é algo positivo. No entanto, não fizeram perguntas básicas para as populações que eles estipularam como vulneráveis.”

 

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)