08/12/2017 – 16h

Com direito a bolo, doces e muitas recordações, o Foaesp (Fórum de ONGs/Aids do Estado de São Paulo) comemorou, nessa quinta-feira (7), em São Paulo, 20 anos de comprometimento e controle social na luta contra a aids. São duas décadas marcadas por solidariedade e construção de políticas públicas de assistência e prevenção ao HIV/aids. Incansáveis, as mais de 100 organizações que compõem o Fórum não medem esforços para denunciar qualquer tipo de violação aos direitos das pessoas vivendo com HIV/aids e estão comprometidas com a promoção da saúde, a defesa do SUS (Sistema Únido de Saúde) e o acolhimento de pessoas. 

De acordo com o ativista Betinho Pereira, atual presidente do Projeto Bem-Me-Quer e membro da primeira diretoria do Fórum, o grupo iniciou suas atividades em 1993, em um momento crítico da epidemia, quando o diagnóstico era sinônimo de morte. "Os nossos primeiros encontros aconteceram na antiga sede do CRT (Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids), na rua Antônio Carlos. Ficamos lá até 1996,  mas era estranho debater as nossas necessidades naquele local porque era impossível fazer controle social ocupando o espaço que estávamos criticando."

Em 1996, o grupo passou a se reunir em uma sala cedida pela igreja católica, no bairro Imirim, zona norte de São Paulo. "Este foi um momento marcante, principalmente porque tinha acabado de chegar o coquetel antirretroviral no Brasil. A partir daí começamos a lutar cada vez mais pela garantia do acesso ao medicamento, era a possibilidade de continuarmos vivos."

Betinho lembra que com o passar dos anos as ONGs, com o apoio do Fórum, foram se capacitando e ficaram mais fortalecidas para propor melhorias no atendimento das pessoas vivendo com HIV/aids. "O maior destaque deste período é que paramos de pensar nossas atividades com base na agenda do governo e eles começaram a vir até nós para saber qual era a nossa agenda. Isso acontece até hoje."

Também da primeira diretoria do Fórum, a advogada Lucila Magno, fundadora do Gepaso, no interior de São Paulo, lembrou que os ativistas se reuniam naquela época mesmo sem recursos. "Cada um pagava a sua passagem, não tinha essa história de hotel e alimentação. Lembro que já no primeiro estatuto do Fórum ficou decidido que teríamos duas funções fundamentais: fortalecer as ONGs e propor políticas públicas.”

Mas foi em 2 de outubro de 1997 que os participantes do Fórum oficializaram a instituição. "Começamos a entender a importância de trabalhar de forma colegiada. Tínhamos várias ONGs na capital e no interior, além das casas de apoio", recordou Lucila.

Tanto ela, quanto Betinho acreditam que trabalhar contra a aids de forma colegiada foi um divisor de águas do movimento em São Paulo. "Não tínhamos mais pautas isoladas, todos saíam em defesa de um conjunto de ações propostas pelas ONGs. Era quase um corporativismo", recordou Betinho.

Da ONG Seiva, no interior de São Paulo, o militante Mauro Francisco acrescentou que a marca do movimento aids nesta época era a solidariedade. "Me lembro que trabalhávamos com mais afetividade, talvez é porque lidávamos com a morte mais de perto."

Já consolidado como um importante espaço de interlocução com os gestores de políticas públicas em HIV/aids, o Foaesp, na visão de Margarete Preto, também do Bem-Me-Quer, tem vários desafios pela frente. "As nossas lutas são cotidianas. Hoje temos prevenção combinadas, o que é bom, já temos novos medicamentos, mas não podemos nos esquecer que as pessoas vivendo com HIV/aids estão envelhecendo precocemente, há muitas comorbidades e tantas outras ainda morrem em decorrência da aids. Também vivemos retrocessos na política de financiamento. Então, nossa luta é legitima e é todo dia", disse emocionada.

Regina Soares, da ONG Fenix, fez um discurso na mesma linha de Margarete e destacou que os números comprovam que se faz necessário o trabalho social na luta contra a aids. "Os nossos jovens estão se infectando cada vez mais cedo e o conservadorismo se instalou no Brasil."

A assistente social Fernanda Santos, do Gappa de Brotas, lembrou que as ONGs vivem um momento delicado e que muitas já fecharam as portas. "Está bem difícil acessar recursos governamentais, as exigência ficam piores a cada ano. Então, estar no Fórum é também compartilhar as nossas angustias, trocar experiências e aprender com quem já sabe. Precisamos valorizar este espaço e estabelecer alianças."

No quesito fortalecimento, o representante Estadual da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, Paulo Giacomini, destacou que o Foaesp teve um papel importante na aproximação das redes que unem pessoas vivendo com HIV/aids em São Paulo, como a própria RNP+, a Rede de Jovens e as Cidadãs Posithivas. "Por brigas pessoais, ficamos muito tempo distantes, mas, em 2017, trabalhamos de forma articulada e com pauta única. Para 2018, já está agendado quatro seminários das redes em diferentes regiões de São Paulo. Acredito que temos que nos fortalecer enquanto causa e a agenda das redes não é distinta das agendas das ONGs."

Já pensando no futuro, a jovem Beatriz Ribeiro, de 12 anos, disse que o caminho na luta contra a aids é a informação. "Percebo que muitas pessoas da minha idade estão preocupadas com a gravidez, algumas até usam drogas, mas poucas pessoas conhecem sobre a aids. Por isso, tenho muita facilidade para conversar sobre este tema com os meus amigos. Sei de coisas que nem a minha mãe sabe. Se o jovem não tem informação, ele terá preconceito."

O presidente do Foaesp, Rodrigo Pinheiro, disse que é importante resgatar a história e voltar a se emocionar como no início da epidemia. "O Fórum somos todos nós. Aqui, nunca tivemos uma opinião fechada, sempre debatemos e trabalhamos com solidariedade. Hoje, a luta é também para manter o que já foi conquistado. No presente, no passado e num futuro próximo a aids foi, continua sendo e será um problema de saúde pública, social e de educação."

Este é o segundo evento de comemoração de 20 anos do Foaesp, o primeiro aconteceu em outubro, e reuniu ativistas do interior e da capital, que se comprometeram a fortalecer cada vez mais este espaço.

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Foaesp

Tel.: (11) 3334-0704

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)