Uma vacina desenvolvida contra o HIV chegou à última etapa dos testes clínicos. O imunizante desenvolvido pela farmacêutica Janssen entra agora no recrutamento de participantes para o estudo em todo o mundo, inclusive no Brasil.

A terceira etapa vai determinar se a vacina é realmente capaz de proteger contra a transmissão do vírus causador da aids. A eficácia para a pesquisa já havia sido testada em 2009, mas, na época, o imunizante só conseguiu evitar 30% das infecções. Agora, 11 anos depois, a expectativa é maior porque as fases anteriores do estudo mostraram que a vacina se comportou de maneira segura e foi capaz de criar anticorpos.

A Agência Aids conversou com ativistas que receberam a notícia com esperança e expectativa.

Jenice Pizão

Integrante e uma das fundadoras, ao lado de Nair Brito, do histórico Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP), passando treze anos se dedicando quase integralmente a ele. Não dá para fazer as contas de quantas viagens, oficinas, projetos, manifestações ela liderou, tendo como meta conscientizar e empoderar as mulheres com HIV/aids. Divorciada, ela mora em Campinas (SP) e completa 62 anos em março.

“Com certeza, estou muito esperançosa que a gente consiga controlar a epidemia de AIDS na população.  Essa vacina é uma esperança a mais. Com certeza, enche meu coração de alegria pra gente conseguir diminuir os novos casos de infecção pelo HIV e AIDS. Uma boa notícia para este final de semana. E parabéns à Agência que sempre traz notícias e perspectivas para a gente continuar na luta.”

 

Rodrigo Pinheiro

Presidente do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo, integrante da Articulação Nacional de Aids (ANAIDS) e do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI).

“Vivemos um momento de esperança, de que acima de tudo devemos confiar e investir na ciência. Esses investimentos na ciência têm mostrado que a gente pode fazer vários enfrentamentos com várias pandemias se a gente acreditar. O Brasil precisa aumentar seus investimentos em pesquisas, principalmente na questão de vacinas, melhorar seu parque tecnológico – nós temos um parque tecnológico no Brasil imenso – para a gente poder aproveitar e sanar o problema de saúde pública brasileiro. A questão da vacina imunizatória para a aids, é uma esperança que a gente aguarda há quarenta anos. Ela vem em um bom momento, no momento em que a ciência vem sendo criticada por vários governos, mas é mais um motivo para demonstrar que existe esperança e existe confiança na ciência. Uma hora ela dá uma resposta. Eu vejo com bons olhos essa terceira fase, esperamos que ela seja um sucesso e um divisor de águas no enfrentamento da epidemia de aids. Fico com muito receio, caso essa vacina dê certo, como ela será introduzida aqui no Brasil. Torcemos, diante da política deste governo atual. Vai ser uma luta tanto da sociedade civil quanto da sociedade médica, acadêmica, caso der certo, que ela seja incorporada no Brasil.”

 

Christiano Ramos

Presidente da ONG Amigos da Vida (Brasília). Ex-presidente do Fórum de ONG/Aids do Distrito Federal, atuou também como consultor da Agência de Cooperação Técnica da Alemanha (GTZ). É o atual presidente do Conselho Gestor do Hospital Dia, referência no tratamento das DST/AIDS no âmbito do Distrito Federal, auxiliando a direção do hospital na formulação de políticas públicas de saúde mais participativas, envolvendo sempre que possível as demais organizações não governamentais e instituições congêneres na gestão da unidade de saúde. Ao longo de sua militância, participou de movimentos políticos para melhorar o acesso aos medicamentos antirretrovirais dos portadores do HIV/aids, seminários, workshops, oficinas de sexo seguro, cursos de capacitação e formação de multiplicadores, congressos e campanhas de luta contra a aids no Brasil e no Exterior.

“Os ensaios clínicos dessa vacina já estão bem avançados, estão na última etapa. Mas acho importante ficar claro para toda a população que essa vacina é para prevenir o HIV e não para curar quem tem o HIV. Na nossa ONG, temos percebido que as pessoas têm criado expectativa de que essa vacina vai curar o portador do HIV, quando na verdade é uma vacina preventiva, que impede a infecção pelo HIV. É importante esta colocação, que os veículos de comunicação que estão divulgando essa notícia deixem isso muito claro.”

 

 

José Maurício Melo Araújo

Faz parte da Coordenação da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids e é integrante  do Comitê Mineiro de Tuberculose. Começou no movimento de aids como voluntário no GAPA de Belo Horizonte, Minas Gerais. Atua há 21 anos em ativismo na área da saúde como um todo e é ex-presidente do Fórum de ONG/Aids de Minas Gerais.

“Muito bom ter a perspectiva dessa vacina e a importância dela. Esse é o sonho de muitas pessoas. Isso está caminhando para algo produtivo e espero que as pessoas realmente se sintam incentivadas a participar desse estudo, que tenham essa consciência, o principal é isso. E não é algo para uma pessoa só, não, é para todo mundo, é um direito de todo mundo. Acho que a vacina é muito importante, a partir do momento que vai fazer com que as pessoas não se infectem. E que isso dê muito certo, que as pessoas não tenham medo de participar desse evento. Eu tenho certeza que vai dar certo realizar esse sonho que é de suma importância não só para o Brasil, mas para o mundo todo.”

 

Regina Bueno

Advogada, ativista militante e Saúde e Direitos Humanos, Mestre em políticas públicas e administração em saúde coletiva, educadora popular em Saúde, saúde sexual, sexualidade e Reprodução com adolescentes e jovens. Começou sua trajetória na militância no SUS através da Hepatite Crônica quando em 1998 entrou como advogada solidária da ONG APOHC-RS – Associação dos Portadores de Hepatites Crônicas do Estado do RS. Foi integrante do Grupo Pela Vidda RJ como Coordenadora de Projetos..Hoje está Diretora de Articulação Política e Social da ONG AGANIM-RJ  Associação de Gays e Amigues de Nova Iguaçu, Mesquita e Rio de Janeiro e na composição da atual Secretaria Executiva do FOAERJ – Fórum ONG AIDS do RJ, com mais duas AFILIADAS, e membro facilitadora da Rede Jovem do RJ+, membro da Pastoral da Aids do Municipio do RJ e Membro do Comitê Comunitário Assessor do INI-FIOCRUZ, bem como compõe a FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO SUS na qualidade de membro do Fórum de Saúde do ERJ.

“É uma grande esperança, uma esperança de 40 anos para que isso acontecesse. A felicidade é muito grande de saber que instituições renomadas do nosso país em pesquisa vão participar em vários estados. Isso é muito bom porque a gente vai aplicar diretamente no nosso público alvo, na nossa cultura, na nossa estrutura de pessoas. Melhor ainda saber que vai ter investimento em pesquisa para isso, coisa que infelizmente no atual governo não está acontecendo. O negacionismo aumenta cada vez mais, então nós temos, como ativistas, de ficar muito felizes com esse momento. Ele é extremamente auspicioso, lutamos muito para que isso acontecesse. Contudo, sabemos que, uma vez se confirmando essa vacina, ela precisa ter vários passos a seguir. E o passo maior, é o passo do acesso e o passo da informação social de toda a informação de como essas pessoas terão acesso a essa vacina. Principalmente as chamadas população-chave, que eu particularmente não gosto da expressão, até porque no passado nós já tivemos cerca de dez homens sexualmente considerados masculinos para uma mulher considerada sexo feminino infectados. E hoje nós estamos com uma proporcionalidade que equivale a dois homens e meio para uma mulher. Então, essa paridade entre homens e mulheres está muito próxima. O mais recente boletim epidemiológico aponta várias formatações na população LGBTQI, principalmente de homens que fazem sexo com homens. Até porque estamos em um mundo onde estamos tentando quebrar tabus com relação à diversidade, à orientação sexual e obviamente à identidade de gênero como como um ato de pessoas que se amam, que têm afeto, que trocam, acima de tudo, carinho, paixão, desejos, afetos, sentimentos, sendo um ato normal da vida. E sendo um ato normal da vida, é muito bom saber que nós vamos ter, com a confirmação dessa última fase, uma vacina que vai poder estancar essa transmissibilidade do vírus do HIV. Mas da mesma forma que nós temos hoje a indetectabilidade e que muitas pessoas não sabem que uma pessoa mesmo contraindo o vírus, se infectando com o HIV e fazendo seu tratamento corretamente, uma tratamento muito bom, de primeira linha, fica indetectável, ou seja, com números de remissão viral muito grande, essa pessoa hoje ainda não é considerada uma pessoa que tem uma vida extremamente normal como qualquer outra que não term HIV. Por que? Porque a gente não tem a divulgação para a sociedade dos grandes ganhos científicos, em pesquisa, que nós fazemos, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Inclusive, a Fiocruz é uma das pioneiras em tantas pesquisas clínicas em HIV/aids, através do Instituto Nacional de Infectologia. Então, eu vejo com excelentes olhos, como Fórum de ONG/Aids do Estado do Rio de Janeiro, como representante desse espaço social, de afiliadas, mas também vejo com muita cautela, com relação à incorporação, investimento em pesquisa e, principalmente, a forma de comunicação à população no acesso a essa vacina no dia em que ela for efetivamente confirmada. Mas a esperança é grande, muito grande. E deixar bem claro, pincipalmente para as pessoas que já são infectadas, que não se trata de um medicamento de cura, ainda. Estamos caminhando para lá e temos pesquisas no Brasil nesse sentido, mas ainda não chegamos lá. Mas é muito importante avisar a toda a sociedade e, principalmente, adolescentes e jovens, que estão com a libido a todo vapor que há, sim, uma grande possibilidade que eles não tenham que se infectar com HIV, mas que as ISTs continuam por aí e não é legal pegar muitas ISTs porque faz muito mal à saúde. Então, a informação deve ser mantida sempre, porque a libido faz parte da vida.”

 

Saiba mais:

Boa Notícia: Vacina contra HIV atinge etapa final de testes clínicos; passo histórico significa muito

 

Redação Agência de Notícias da Aids

 

Dica de Entrevista

 

Jenice Pizão

Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas

E-mail: jpizao@gmail.com

 

Rodrigo Pinheiro

Fórum de ONGs/Aids de São Paulo

Tel.: (11) 3334-0704

 

Chistiano Ramos

Amigos da Vida

E-mail: amigosdavidadf@gmail.com

 

José Maurício Melo Araújo

RNP+ Minas Gerais

E-mail: redejose99@gmail.com

 

Regina Bueno

Fórum de ONG/Aids do RJ

E-mail: regina1958bueno@gmail.com