A série de lives sobre os 40 anos de HIV já trouxe o olhar de três homens gays ativistas sobre a pandemia e na noite do dia 9,  recebeu ativistas mulheres vivendo com HIV/aids. Até o final de novembro, ainda teremos mais três lives da série com a participação de jovens vivendo com HIV/aids; em seguida, o infectologista e pesquisador Esper Kallás, falando sobre os avanços da ciência; e encerrando o ciclo, ex-coordenadores do Programa Nacional de DST/Aids.

As convidadas desse olhar feminino sobre a pandemia foram Rafaela Queiroz, psicóloga e secretária executiva do MNCP; Thais Renovatto, escritora e publicitária; e Silvia Aloia, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, em substituição à Evalcilene dos Santos, que não conseguiu participar por problemas em sua conexão.

A pandemia da Covid-19 permeou os primeiros minutos da conversa. Thais comentou que muitas pessoas tiveram que, durante o isolamento social, teve que ter um escape. “As pessoas canalizaram cada uma em uma coisa legal, outras em coisas ruins, algumas em esporte. Teve gente que voltou a fumar, ou bebeu mais”.

Rafaela considera normal que a gente tenha a nossa válvula de escape, porque se faz necessário para manter a saúde mental nisso tudo. “A gente vai tentando, ao mesmo tempo que a gente não tem um olhar para a saúde mental. A gente foi forçada a ter esse olhar. Cada pessoa está vivenciando a pandemia de uma forma diferente. E a pandemia d” aids não foi diferente disso. Quando a TV mostrava que era um câncer gay e depois as estruturas foram mostrando que não era. Assim como a covid, que no começo falavam em público alvo, grupo de risco. É praticamente o mesmo erro”, observou.

Silvia acredita que a pandemia da Covid trouxe muito escancarado o que tem de desigualdades em relação às mulheres. “Já era assim a falta de oportunidades, a falta de políticas públicas voltadas às mulheres. Não se vê a mulher como ela deveria ser vista. Estamos em uma sociedade tão machista que, às vezes, eu tenho que deixar claro para as pessoas no meu entorno que enquanto você, quando é chamado pra trabalhar, você coloca sua mochila e vai, quando se trata da mulher tem ‘zil’ barreiras para derrubar, para poder realmente fazer uma faculdade, poder estudar, quantas mulheres tiveram que levar o filho, que não tinha o recurso para a passagem para ir”, pontuou.

“O que é mais difícil ser: mãe, mulher ou ativista?”, perguntou Roseli para Thais.

“Acho que mulher, que engloba também um pouco de tudo. A gente tem muita cobrança de tudo. Por exemplo, quando eu quis ser mãe. Querer ser mãe, já tem uma super cobrança. Ser mãe com HIV, eu tive um superjulgamento. Você vai ser mãe, vai correr esse risco de passar para os seus filhos. Aí o HIV eu sendo mulher e o homem hetero: ‘ah, você pegou HIV, também foi transar com todo mundo.’ E tem milhões de cobranças, de trabalho, ou quando você vai pra maternidade. Um dos protocolos era eu não poder amamentar. Como eu ainda não tinha aberto meu diagnóstico, as pessoas achavam que eu não ia amamentar porque estava preocupada com a estética”, respondeu.

Roseli quis saber de Rafaela se faltou tempo para o mundo elaborar o que seria o HIV entre as mulheres.

“Não é nenhuma falta de elaboração do mundo. Se a gente for parar pra pensar o quanto a gente fala do HIV, ele é muito restrito e, às vezes, vem de uma informação muito polêmica nas mídias sociais que coloca a pessoa vivendo com HIV em um status muito diferente do que a gente quer passar, das nossas vivências. Ou só em dezembro. A gente foca muito o movimento para falar em HIV em coisas muito específicas. Se a gente falasse mais em HIV em vários momentos da vida, não seria tão difícil abordar em nossas relações de amizade. Eu, por ter nascido com HIV, eu fui falar sobre isso em momentos muito específicos da minha vida”, relatou Rafaela.

Thais disse ser otimista, mas diz ter uma visão muito realista do nosso dia a dia. “A gente faz trabalho muito bonito, eu, você, Rafuska, mas a gente sempre está falando para as nossas microbolhas. Falta um tiro de canhão gigante para atingir tudo isso. E a gente não vai conseguir fazer isso. Falta uma coisa muito grande , uma campanha do governo. A gente precisava de uma coisa que atingisse muito mais gente”, criticou.

“Um passo importante é sair da toca e comunicar para fora. O governo deveria estar fazendo isso, é um dever do Estado. Algo que eu acredito que a gente deva fazer, são pequenos textos, palavras simples, cards com palavras afirmativas. Desmistificar, em vez de bater de frente, é o contrário. É reafirmar o que tem que ser afirmado. Ir além dos nossos públicos com uma linguagem mais simples”, acrescentou Silvia Aloia.

Assista abaixo a live na íntegra.

 

Redação Agência de Notícias da Aids

 

Dica de Entrevista:

Rafaela Queiroz

E-mail: psico.rafaelaqueiroz@gmail.com

 

Thais Renovatto

E-mail: thaisrenovatto@hotmail.com