“Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão totalmente relacionados e conectados com a pauta aids. Não adianta a pessoa ter medicamento e não ter comida. O ODS 3 é de saúde, o 5 é de gênero, o 10 trabalha com desigualdades e todos os temas se relacionam com o que fazemos.” A fala é da jornalista Alessandra Nilo, da ONG Gestos, Comunicação e Soropositividade, de Pernambuco. Ela participou na última semana da reunião online do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids) e incentivou todas as ONGs a atuar em defesa dos ODS. “Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um chamado universal para ação contra a pobreza, proteção do planeta e para garantir que todas as pessoas tenham paz e prosperidade.  Ao todo, são 17 objetivos e 169 metas a serem alcançadas por 193 países signatários da ONU até o ano de 2030. Esses Objetivos foram construídos a partir dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, incluindo novos temas, como a mudança global do clima, desigualdade econômica, inovação, consumo sustentável, paz e justiça, igualdade de gênero…”

Ainda segundo Alessandra, o Brasil, que sempre teve um papel chave nas negociações internacional, não vai bem no que diz respeito ao alcance das metas. “Acabamos de lançar o relatório Luz 2030 e o país está muito mal. Essa agenda monitora 169 metas e temos 60 em absoluto retrocesso. Conseguimos avaliar 145, 17 delas não tem informações disponíveis para o Brasil, temos 4 metas na área da educação em progresso. O resto ou está em processo de estagnação ou não avançou significativamente. Algumas retrocederam ou estão em via de retroceder”, disse.

O Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030 no Brasil, elaborado pela Gestos, é um monitoramento sobre avanços e retrocessos no alcance das metas de desenvolvimento sustentável da ONU. “Todos os anos lançamos este relatório para mostrar como o Brasil está em relação a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A Gestos participou da negociação da Agenda 2030. Inclusive, um dos momentos marcantes para a nossa história de atuação internacional foi na Agenda 2030. Ela reconhece e incluiu as pessoas vivendo com HIV/aids por causa da presença da Gestos no processo de negociação. ”

Alessandra também chamou atenção para o impacto do não cumprimento das metas no Brasil na questão de HIV/aids. “Está acontecendo uma mudança na perspectiva governamental em relação a construir políticas e respostas e analisar serviços sem base em evidências. Não tem como formular política pública se você não tem evidência. No nosso caso, por exemplo, quando você olha a proposta do Ministério de Políticas para as Mulheres, Direitos Humanos e Família, de tratar um tema tão importante de gravidez na adolescência com abstinência, ou insistir no projeto de que escolas não podem mais tratar das questões de relação de gênero, ideologia de gênero, tudo isso impacta nesta história de anos e anos que a gente construiu. A aids nos permitiu discutir sexualidade, foi através dessa temática que abrimos de forma mais ampla o debate sobre sexualidade no Brasil”, lamentou.

A Agenda 2030 e os ODS afirmam que para pôr o mundo em um caminho sustentável é urgentemente necessário tomar medidas ousadas e transformadoras. Os ODS constituem uma ambiciosa lista de tarefas para todas as pessoas, em todas as partes, a serem cumpridas. Se cumprirmos suas metas, seremos a primeira geração a erradicar a pobreza extrema.

O coordenador do Mopaids, Américo Nunes, perguntou a Alessandra como a sociedade civil pode trabalhar pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “Temos que lutar contra a Emenda Constitucional 95, que retira cada vez mais os recursos da Saúde e denunciar na ONU os retrocessos  no Brasil”, sugeriu Alessandra. Outra dica é trabalhar sempre em parceria com os grupos regionais que atuam pelos cumprimentos dos ODS. “Em São Paulo temos pessoas engajadas nesta luta.”

Outras pautas

A reunião durou quase duas horas. O grupo debateu sobre o acesso ao passe livre de pessoas vivendo com HV/aids no transporte público, ações para o primeiro de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra Aids e falou sobre as eleições municipais. Segundo Patrícia Peres, responsável pela articulação do Mopaids com outras instâncias e movimentos, alguns candidatos a vereador, como Juliana Cardoso (PT), Celso Gianasi (Psol), a Bancada Feministas do Psol e Gil Santos (PT) já assinaram o Programa Mínimo criado pelo Mopaids. O candidato à prefeitura da cidade, Guilherme Boulos (Psol), também já se comprometeu com a pauta do movimento aids. “Outros políticos sinalizaram que vão assinar, mas ainda não recebemos a confirmação”, concluiu Patrícia.

A próxima reunião já tem data marcada, será na terceira quarta-feira de novembro, dia 18.

Talita Martins (talita@agenciaaids.com.br)

 

Dica de Entrevista

 

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Tel.: (11)98212-6950