A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu neste domingo (17) o futuro das vacinas no Brasil. Os cinco diretores da agência deram votos favoráveis às duas vacinas que aguardavam aval para uso emergencial no país: a Coronavac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e a vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca, que será produzida no Brasil pela Fiocruz.

A primeira é a aposta do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para dar início à imunização contra a Covid-19 no país. A segunda é a escolha do governo federal de Jair Bolsonaro (sem partido). Ativistas ouvidos pela Agência Aids comemoram a decisão e pediram que pessoas vivendo com HIV/aids sejam incluídas em grupos prioritários nesta primeira fase. “Espero que a vacinação aconteça de uma forma eficiente e rápida. E que as Pessoas Vivendo com HIV/aids possam ser incluídas como grupo prioritário, como já acontece com a vacina da gripe”, disse Alisson Barreto, da Rede Nacional de Pessoas Vivendo do HIV/Aids (RNP+Brasil). “As pessoas com HIV/aids, principalmente aquela com diagnósticos com mais de 10 anos em uso, ou não, de antirretrovirais, tem nível de colesterol alterado, hipertensão, diabetes, obesidade causada pela lipodistrofia, comprometimento hepático, renal, ósseo…  Se isso tudo não caracteriza adoecimentos crônicos, isto é, uma “doença crônica”, o que seria, então?”, completou Jenice Pizão, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas.

 

Confira os depoimentos a seguir:

José Carlos Veloso, assistente social, mestre em Saúde Coletiva e coordenador da Rede Paulista de Controle Social da Tuberculose: “A autorização do uso emergencial das vacinas do Butantan e Fiocruz é de extrema importância para o controle do caos na saúde pública no país. Nunca antes a ciência foi tão importante para proteção da vida humana, e nunca antes ela (ciência) foi tão questionada. É nossa obrigação enquanto movimento social respaldar e difundir informações corretas e claras para a população brasileira.”

 

Silvia Almeida, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Brasil meu Brasil brasileiro, estou muito triste com quem te governa. E não quero aqui citar legendas partidárias, cargos ou Estados, a meu ver a compra e distribuição da vacina, assim como toda a pandemia do Covid-19, trouxe ainda mais escancarada a  triste comprovação de que nesta Terra abençoada “os  governantes” só  pensam e agem para si mesmos. As carreiras políticas e cargos que ocupam e podem ocupar é  o que importa.  E a população? A população é mera forma de atingir o que se quer. Será que ” Deus” ainda é brasileiro?”

Alisson Barreto, secretário Nacional Executivo da RNP+Brasil: “A aprovação da Anvisa é super importante. Estamos atrasados nessa vacinação, o Brasil é um dos países que mais tem sofrido com a pandemia da covid-19, acho que o desgoverno atual fez de tudo para atrasar esse processo. Essa vacina não é para todos os brasileiros. Espero que a vacinação aconteça de uma forma eficiente e rápida. E espero que as Pessoas Vivendo com HIV/aids possam ser incluídas como grupo prioritário, como já acontece com a vacina da gripe.”

Jenice Pizão, uma das fundadoras do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Mesmo que com a angustia de ver tanto sofrimento, abandono e mortes evitáveis, se tivéssemos um governo responsável, preocupado e atento à saúde pública, foi com muita esperança que assisti emocionada a liberação pela Anvisa das vacinas para o povo brasileiro. Temos que garantir que a vacinação aconteça sem as trapalhadas que temos visto, que atenda os princípios do SUS e que inicie o mais rápido possível, já que temos a expertise nessa área. Assim que nossos profissionais de saúde, tão cansados, possam começar a ter essa proteção, assim como todas as outras populações prioritárias. Sobre isso, porém, tenho dúvidas. Notadamente sobre Vacinação contra a covid-19 para Pessoas Vivendo com HIV/aids. Embora tenha lido artigos de infectologistas sobre a vacinação nesta população, nenhum me convenceu sobre não incluir essa população nos grupos prioritários para a primeira fase tão esperada. Como sabemos, quando iniciamos o tratamento antirretroviral, entramos nas estatísticas como mais um número de aids, uma síndrome imunológica, isto é, um conjunto de doenças. Temos observado também que, independentemente da carga viral estar indetectável, podemos desenvolver certas patologias do quadro da aids, como Herpes Zoster, Sarcoma de Kaposi, alguns tipos de cânceres virais, entre outros adoecimentos. No início da pandemia de covid-19, soubemos de pesquisas na Europa, no sentido dos antirretrovirais estar de uma forma ou outra, protegendo o organismo contra o coronavírus, mas as pesquisas mostraram que não era verdade, que as pessoas com HHIV se infectavam e adoeciam como todas que tivessem outra patologia. Sabemos que a infecção pelo HIV coloca o sistema imunológico em alerta, pois é um processo de infecção constante. As pessoas com HIV/aids, principalmente aquela com diagnósticos com mais de 10 anos em uso, ou não, de antirretrovirais, tem nível de colesterol alterado, hipertensão, diabetes, obesidade causada pela lipodistrofia, comprometimento hepático, renal, ósseo…  Se isso tudo não caracteriza adoecimentos crônicos, isto é, uma “doença crônica”, o que seria, então?”

Américo Nunes Neto, coordenador do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids de São Paulo): “Nada mais urgente diante das mais de 200 mil mortes por covid e do estado de calamidade em Manaus. Ter a vacina aprovada em uso emergencial pela Anvisa é salvar vidas e combater a pandemia. Seis ou oito milhões de doses é pouco, significa menos de 4%, mas salvará vidas. Não podemos correr o risco de escolha de Sofia, nem tão pouco que as questões políticas e o negacionismo da população interfiram no combate do coronavírus. Considero a vacina coronavac o marco histórico e um presente para a cidade de São Paulo. Não podemos relaxar, é preciso continuar por todo ano com os cuidados preventivos, usar máscara, lavar as mãos e manter o distanciamento, que também salva vidas.

Salvador Corrêa, escritor, sanitarista e membro da RNP+RJ: “É uma felicidade receber a notícia do início da vacinação no Brasil, por mais que estejamos muito atrasados em relação à outros países especialmente em função do tenebroso contexto político que vivemos em que a presidência da república oficializa fakenews. O SUS – Sistema Único de Saúde – através das sérias instituições de saúde pública do nosso país (como Butantã e Fiocruz) mostrou que acertamos em 1988, quando priorizamos a saúde como um direito de todos e um dever do estado. O SUS mesmo enfrentando subfinanciamento de décadas e fakenews hoje brinda a sociedade brasileira com vidas que serão salvas, cumprindo seu papel mesmo em tempos sombrios. Esse é o tempo em que estamos todos convocados a praticar a solidariedade tanto no campo do afeto como no campo político como nos ensinou Betinho. E nesse sentido, vacinar-se é também um ato de solidariedade política. É necessária cautela para não cair nas mazelas das fakenews dos discursos de ausência de paz, e também cuidado para não se deixar levar por falsas figuras de salvadores da pátria,  pois eles nunca existiram. A disponibilidade dessa vacina, mesmo que tardiamente, é resultado das forças conjuntas da sociedade civil, academia e alguns governos – como já vimos também nas conquistas históricas da resposta ao HIV. O movimento social de aids foi incansável desde o início da pandemia de covid-19 com uma série de ações como a campanha vacina para todos, pandemia sem monopólio, ações de incidência política junto à câmara de deputados. Embora ainda tenhamos muitos desafios pela frente para efetivamente produzir transformações sociais de base, hoje é um dia para comemorarmos a vitória da sociedade brasileira. Nossa gratidão e respeito aos profissionais de saúde, nossa solidariedade a todas as pessoas que perderam parentes (mais de 210 mil mortos) devem ser manifestadas em uma ação: Vacinar-se e defender o acesso em seu município é solidariedade política!”

Rafaela Queiroz, psicóloga e integrante da Rede de Jovens Vivendo com HIV/Aids: “São Paulo saiu na frente da vacinação, isso demostra uma visão mais ampla do Estado de parar com a pandemia da covid-19! É muito importante que com a aprovação da Anvisa de uso emergencial das vacinas amplie a vacinação por todo Brasil, temos números diários oscilantes e que demostrar apavoramento, já que medidas de distanciamento social estão sendo quebradas e não há controle mais efetivos sobre. Através da vacinação esperamos que diminua novos casos e agravamentos como demostram os resultados. Quanto antes iniciar a vacinação no Brasil, tão logo estaremos mais próximos de parar a pandemia no Brasil. É importante que o governo ainda alerte sobre o uso da máscara por todos, a higienização das mãos e o distanciamento social, para que não haja um afrouxamento dos cuidados de infecção, já que mesmo as pessoas vacinadas ainda será possível que o vírus seja transmissível.”

Redação da Agência de Notícias da Aids

Dicas de entrevista

Jenice Pizão

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Salvador Corrêa

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