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Enquanto há infecções que podem ser contraídas apenas uma vez, como rubéola, sarampo, hepatite A, chikungunya e febre amarela, há outras que podem voltar em mais de um ou vários momentos ao longo da vida. E isso vai depender tanto do sistema imunológico, como de características de cada patógeno envolvido.

“A resposta das células de defesa ao agente causador da doença pode ou não ser permanente. E existe a possibilidade de os microrganismos sofrerem mutações e assim surgirem novas e resistentes linhagens, tanto a anticorpos como a vacinas”, explica Carolina Lázari, infectologista do laboratório Fleury Medicina e Saúde.

É algo complexo e variável e ao se somar à falta de informação, pode levar muitas pessoas a acreditarem que, após contrair uma doença, estarão imunes a ela pelo resto de suas vidas. Porém, essa percepção, como se vê, nem sempre é correta. Sem prevenção, vacinação e cuidados contínuos, ficamos sujeitos à lista a seguir:

Dengue

Transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o vírus se divide em quatro sorotipos (variantes) diferentes. O que significa que esse é o total de chances de se pegar a doença e ter sintomas. Fora que, com as reinfecções, pode existir a possibilidade de aumento do risco de complicações graves, como hemorragias e até morte.

“Além da dengue, meningite, covid-19, influenza, pneumonia, infecções de pele e urinárias também podem ser readquiridas”, destaca a infectologista Rosana Richtmann.

A médica complementa que uma mesma doença pode ser causada por diferentes agentes, a exemplo da meningite, mas que também um único gênero de agentes, como Streptococcus, pode resultar em várias enfermidades.

Sífilis

Essa infecção sexualmente transmissível (IST), causada pela bactéria Treponema pallidum e cujos sintomas incluem feridas indolores nos genitais, ânus ou boca na primeira fase (em geral na área do contágio), não confere imunidade permanente.

“Um dos tipos de teste de sorologia para essa infecção (aplicado para diagnóstico e acompanhamento) permanece como positivo pelo resto da vida, mesmo após o tratamento bem-sucedido. Mas não quer dizer que a pessoa estará protegida pelo resto da vida por anticorpos”, esclarece a infectologista Carolina Lázari.

Catapora (varicela)

Também conhecida como varicela, é causada pelo vírus Varicela-zoster. A maioria das pessoas tem apenas uma vez na vida, comumente na infância, e depois o sistema imune desenvolve memória de defesa contra o vírus, que permanece silencioso no corpo. Porém, em situações de estresse, imunossupressão ou envelhecimento, ele pode “despertar”.

“Essa reativação causa uma doença conhecida como “cobreiro” que, na verdade, é o herpes zoster”, explica Janaína Teixeira, infectologista e professora do Centro Universitário Uniptan-Afya (MG).

Mas diferente da primeira manifestação, em que a catapora se dissemina pelo corpo, na seguinte, as lesões causadas por seu vírus reativado e que são bem parecidas, tendem a se concentrar em áreas específicas, seguindo o trajeto de um nervo.

“Agora, ter a forma clássica de catapora mais de uma vez é muito mais raro, a não ser que se tenha um problema sério de imunidade, devido, por exemplo, a quimioterapia, transplante de órgãos, HIV”, acrescenta Rosana Richtmann, que também é chefe do departamento de infectologia do Grupo Santa Joana.

Tuberculose

Transmitida por via respiratória (tosse, fala ou espirro), essa infecção, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, é possível de ser adquirida mais de uma vez, especialmente se houver exposição em ambiente fechado a uma pessoa doente e sem tratamento.

Calcula-se que, durante um ano, em uma comunidade, alguém com tuberculose ativa possa infectar, em média, de dez a 15 pessoas.
Malária

Por trás dessa doença está o parasita Plasmodium, transmitido através da picada da fêmea infectada do mosquito Anopheles. Embora não contagiosa entre pessoas, exceto em casos raros (por meio de seringas, transfusões de sangue mal controladas, gravidez), a malária pode se repetir em um mesmo indivíduo.

É que a imunidade após a infecção não é completa e as chances de repetição são maiores se a exposição aos mosquitos infectados continuar ou caso se viaje para áreas endêmicas. Os locais de maior risco incluem as Américas do Sul e Central, África e parte da Ásia, sobretudo em regiões de mata.

HIV/Aids

Quem convive com HIV (vírus da imunodeficiência humana) pode ser infectado por outra linhagem e ter seu estado de saúde piorado. Esse fenômeno é chamado de superinfecção e acorre principalmente quando o paciente soropositivo não faz tratamento adequado e mantém, sem se precaver, múltiplos parceiros sexuais.

Ao transar sem preservativo com um igual que não toma, ou faz uso de outros medicamentos, diferentes, o HIV pode ficar resistente, se replicar e sofrer mutações, predispondo falha terapêutica. “A carga viral, se antes era indetectável no sangue, pode ficar detectável”, afirma a infectologista Janaína Teixeira.

Gonorreia

Outra IST, a gonorreia, causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, igualmente pode ser adquirida mais de uma vez, assegura Nanci Silva, infectologista do Hospital Aliança, Rede D’Or, de Salvador. “O uso consistente de camisinha durante as relações sexuais ajuda a prevenir a transmissão e reinfecção”, informa.

Quando presentes, os sintomas dessa infecção incluem: corrimento branco-amarelado nos genitais; dor ou ardor ao urinar; inflamação de ânus ou garganta.

Herpes

Para além do herpes zoster (reativação do vírus varicela-zoster, também responsável pela catapora), existem outros dois tipos capazes de coexistirem no mesmo indivíduo: “Os herpes simples oral (HSV-1) e genital (HSV-2), que podem ter várias reativações em crises”, explica Clarissa Madruga, infectologista e professora do curso de medicina do Unipê (Centro Universitário de João Pessoa).

A transmissão de ambos, que, especialmente durante períodos de baixa imunidade, apresentam como sintomas bolhas dolorosas, coceira e feridas, ocorre por meio do contato com lesões ativas ou fluidos corporais infectados.

Hepatite B e C

Os diferentes tipos de hepatite (A, B e C) apresentam características distintas em relação à possibilidade de serem contraídos mais de uma vez. “Pessoas que já tiveram hepatite A desenvolvem imunidade duradoura a ela, mas podem ser suscetíveis a outros tipos de hepatite”, explica a médica Nanci Silva, de Salvador.

“A hepatite C pode ser readquirida, caso a pessoa curada não se previna adequadamente. A hepatite B é prevenível por vacina, mas nos indivíduos não vacinados e que têm a forma crônica da hepatite B, é possível contrair novamente a infecção por esse vírus”, acrescenta a infectologista Clarissa Madruga.

A transmissão da hepatite A ocorre por meio do contato com água ou alimentos contaminados. Já do tipo B e C por contato com sangue e fluídos contaminados, seringas e agulhas compartilhados, relações sexuais desprotegidas.

HPV

Pode-se pegar HPV (papilomavírus humano) mais de uma vez, especialmente se houver exposição contínua aos agentes infecciosos, são mais de 200 tipos. Clamídia, uretrite, vaginite são outras possibilidades. “Dentre as IST’s causadas por bactérias, todas podem ser readquiridas”, assegura a infectologista Clarissa.

Portanto, é essencial praticar sexo seguro e fazer exames regulares para detectar e tratar essas infecções, até porque podem ser assintomáticas. Tenha em mente que o conhecimento sobre infecções é essencial para evitá-las e zelar pela saúde.

Fonte: UOL