Um brasileiro pode ser um dos primeiros casos de cura do HIV. Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apresentaram nesta terça-feira (7) uma pesquisa que mostra a remissão de um paciente, que está sem carga viral há mais de dois anos. Os resultados foram apresentados durante a 23ª Conferência Internacional de Aids.

Esse é o primeiro caso de um soropositivo que entrou em remissão de longo prazo após ser tratado com um coquetel intensificado de vários remédios.

O infectologista Ricardo Sobhie Diaz, que coordena o estudo na Unifesp, explicou que o paciente pode ser considerado livre do vírus. “O significado para mim é que tínhamos um paciente em tratamento, e agora ele está controlando o vírus sem tratamento. Não conseguimos mais detectar o vírus em seu organismo, e ele está perdendo a resposta específica ao vírus – se você não possui anticorpos, então não possui antígenos.”

O homem de 34 anos foi diagnosticado em 2012 com o vírus HIV. Ele foi tratado com uma base de terapia antirretroviral reforçada com outras substâncias, com a adição de um medicamento chamado nicotinamida, uma forma de vitamina B3.

O tratamento foi interrompido após 48 semanas (13 meses), de acordo com informações dos médicos e pesquisadores nesta terça-feira. Depois de mais 57 semanas (11 meses) sem o coquetel, o DNA de HIV nas células do paciente e o exame de anticorpos continuavam negativos. O caso apresentado em uma conferência sobre a Aids em San Francisco, nos Estados Unidos.

“Este caso é extremamente interessante, e realmente espero que possa impulsionar pesquisas adicionais para uma cura do HIV”, disse Andrea Savarino, médico do Instituto de Saúde da Itália que coliderou o teste, em uma entrevista à NAM Aidsmap.

Savarino alertou, porém, que quatro outros pacientes soropositivos foram tratados com o mesmo coquetel, mas não viram os mesmos efeitos positivos. “Este resultado muito provavelmente não pode ser reproduzido. Este é um primeiro experimento (preliminar), e eu não faria previsões para além disso.”

 

A busca pela cura

 

Antes conhecido como “Paciente de Londres”, Adam Castillejo teve a identidade revelada somente em março deste ano. Ele recebeu um transplante de uma medula óssea com uma mutação que impede o HIV de invadir as células do sistema imunológico em 13 de maio de 2016. Após a cirurgia, o Venezuelano que mora em Londres, no Reino Unido, seguiu com o tratamento de coquetéis por 16 meses. Em março de 2020, resultados publicados na revista The Lancet HIV revelaram que ele não apresentava sinais do vírus há 30 meses.

Já Timothy Ray Brown foi o primeiro paciente a se declarar curado da HIV. Em 2007, assim como Castillejo, o norte-americano, que ficou conhecido como Paciente de Berlim, recebeu um transplante de medula óssea. Logo após a operação, deixou de consumir coquetéis, mas sua recuperação completa foi reconhecida apenas seis anos depois.

 

Ricardo Diaz

Ricardo fez graduação em medicina, em 1986. Lá, também fez residência médica em clínica médica e infectologia, de 1987 a 1989. É mestre e doutor em infectologia pela Universidade Federal de São Paulo. Ricardo fez pós-doutorado na Blood Centers of Pacific, San Francisco, CA (1993-1996). Atualmente,  conduz pesquisa nas áreas de virologia, biologia molecular e pesquisa clínica relacionada a diversidade genética e patogênese do HIV.

 

Redação da Agência de Notícias da Aids com informações