Com um megafone em mãos, a ativista sul africana, Nomatter Ndebele, liderou o cortejo pelos estandes das indústrias farmacêuticas expostos na 22ª Conferência Internacional de Aids. A ação aconteceu na tarde dessa quarta-feira (25).
Durante a passeata pela conferência, os manifestantes de diferentes idades e países exclamaram o coro “shame!” (“vergonha”, em inglês), além de canções como a de Michael Jackson que diz “eles não dão a mínima para nós”, chamando a atenção do público e expositores presentes.
O primeiro estande a receber a intervenção foi o da farmacêutica Roche. Sob gritos de “Roche fica rica. Pacientes ficam doentes”, Nomatter e seus companheiros expuseram o salário anual do CEO da companhia: 12 milhões de dólares ao ano. Além disso, apenas no ano passado, a farmacêutica faturou 53,7 bilhões de dólares.
Houve também, um minuto de silêncio para relembrar a luta da ativista Tobeka Daki, que liderou os protestos na última conferência em Durban e, pouco tempo depois, morreu esperando acesso a trastuzumab, medicamento para câncer vendido pela Roche.
A caminhada continuou pelos estandes de outras farmacêuticas. Passaram pela GSK, cuja CEO recebe anualmente 6.8 milhões de dólares, e pela Abbott onde o CEO recebe, também anualmente, um valor de 10 milhões de dólares.
O momento de maior concentração de ativistas foi no estande da Gilead, cujo faturamento do ano de 2015 foi de 16 bilhões de dólares. Seu CEO recebe 15.4 milhões de dólares anuais.
Lá, os manifestantes lançaram confetes e disseram que os medicamentos da produzidos pela empresa “são apenas para gays ricos. Além disso, a PrEP é uma forma de salvar vidas, mas, para a Gilead, é mais uma oportunidade de explorar nossa comunidade.”
Participação brasileira
Felipe Fonseca do Grupo de Trabalho e Propriedade Intelectual (GTPI), coordenado pela Abia (Observatório Nacional de Políticas de Aids) interveio durante a fala em frente ao estande da Gilead para alertar sobre a “tentativa de bloqueio do genérico do sofosbuvir no Brasil”.
“A farmacêutica está usando seu lobby para bloquear o acesso ao tratamento. Agora, estamos próximos de introduzir o remédio no país e salvar bilhões do orçamento do sistema público de saúde. No entanto, a Gilead continua utilizando diferentes estratégias para destruir tudo isso. Eles estão com medo porque sabem que, há alguns anos, vencemos a favor do tenofovir. Não vamos parar enquanto todas as pessoas tiverem acesso ao tratamento.”
Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)
A Agência de Notícias da Aids cobre a Conferência em Amsterdã com o apoio do Departamento de IST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, do Condomínio Conjunto Nacional e da Associação Paulista Viva.